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Lula fez ontem uma viagem experimental no teleférico que liga favelas a trens | Antonio Scorza / AFP
Lula fez ontem uma viagem experimental no teleférico que liga favelas a trens| Foto: Antonio Scorza / AFP

Lula inaugura teleférico no Alemão

Agência Estado

No último compromisso oficial no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem o Complexo do Alemão para fazer uma viagem experimental no teleférico que integra as favelas ao sistema de transporte ferroviário do Rio. A obra virou símbolo do futuro do complexo de favelas após a fuga dos traficantes. O teleférico é a principal obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no conjunto de favelas. Sua construção consumiu boa parte dos R$ 725 milhões investidos nas comunidades, uma vez que o governo precisou desapropriar imóveis, construir conjuntos habitacionais e fazer intervenções urbanas para adaptar a região ao novo sistema de transportes. A inauguração das seis estações e da linha de 3,5 quilômetros está prevista para março.

Transporte

Em coletiva à imprensa, Lula recomen­dou às autoridades a implementação de programas sociais que complementem a ocupação pelas forças de segurança no Complexo do Alemão. "Não permitam que haja retrocesso. Veio polícia, veio UPP [Uni­da­­de de Polícia Pa­­cificadora], agora tem de vir escola, emprego. Quan­­do perceberem que o poder público não é algo distante, iremos pacificar todas as favelas e o Brasil será um novo país", discursou o presidente.

Lula conversou com moradores das favelas e ouviu relatos das dificuldades que persistem, como desamparo dos jovens e carência de cursos profissionalizantes, além da precariedade do atendimento nos postos de saúde.

Um relatório denunciando abusos cometidos por policiais nas operações de ocupação do Com­plexo do Alemão e da Vila Cru­zeiro, no Rio de Janeiro, será encaminhado à Organização das Na­­ções Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA). Elaborado por um coletivo de organizações não governamentais (ONGs), o documento aponta casos de injúria, invasão de domicílio, extorsão, intimidação, cárcere privado, ameaça de morte e tortura.A intenção das entidades é criar uma pressão política internacional para que os casos de violência sejam investigados e esclarecidos, para que as circunstâncias das mortes e as identidades das vítimas sejam divulgadas e para que sejam instituídas formas de controle externo sobre a atividade policial.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Di­­reitos Humanos, afirmou ontem que está acompanhando o processo de ocupação das favelas, mas que ainda não cabe à secretaria investigar esses abusos – atribuição das instâncias municipal e estadual.

Os relatos de abusos foram colhidos pelas entidades em visitas a famílias que moram nas favelas. Os moradores falaram sob sigilo, temendo represálias. Uma mulher grávida de sete meses contou ter sido espancada e um jovem afirmou que, mesmo apresentando o crachá para se identificar como trabalhador, foi agredido com tapas na cara, chutes e socos na barriga e no peito e ameaçado de morte. Ele abandonou a favela com medo de ser morto.

O relatório será enviado às Relatorias Especiais sobre Tortura e sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais da ONU e para a Comissão de Direitos Humanos da OEA. A intenção é que a Relatoria sobre Execuções Sumárias visite o Complexo do Alemão, como o fez em 2007, quando um confronto na favela deixou 19 mortos.

"O documento atenta para a falta de controle da atividade policial e a falta de transparência do governo do Estado na divulgação de dados de violência em todas as operações policiais realizadas depois da onda de ataques a veículos no Rio. Apesar dos reiterados pedidos, o governo não divulgou uma lista definitiva das mortes ocorridas durante as ocupações policiais", afirma a diretora-adjunta da Justiça Global, uma das ONGs participantes do relatório, Sandra Carvalho. "Resultado: não se sabe o número exato de mortes nem a identidade das vítimas, nem se houve trabalho adequado de perícia, que poderia apontar casos de execução", acrescenta.

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