Vim passar o fim de semana com meu namorado, que mora em Curitiba. Saí sexta-feira de Blumenau. Minha mãe me ligou no horário do almoço de domingo. Foi então que descobri que os acessos a Blumenau estavam bloqueados e que não conseguiria voltar para casa. Desde domingo à noite não consigo falar com meus pais. Moramos na parte alta da cidade, não corremos o risco de que a água chegue até lá, mas minha preocupação é com desmoronamento.
Meu pai está abrigando alguns vizinhos que moram na parte baixa da rua e estava precavido com água potável. Estou ansiosa para ter informações deles.
Sobrevivemos a todas as enchentes e perdemos tudo em 1983. Tinha um ano de idade, minha família morava na parte baixa da cidade. Ficamos ilhados e fomos salvos por botes do Exército. O resgate apareceu no Fantástico. Minha família recebeu comida jogada pelo Exército, com uma lata de leite em pó para mim. A comida estava podre e o leite foi roubado. Salvamos só a casa.
Na enchente de 92, tinha 10 anos e lembro muito bem que a água ficou a meio centímetro do segundo andar da casa, onde estávamos abrigados. Com medo de perder tudo em outros alagamentos, meu pai passou a comprar móveis mais baratos.
De toda a ajuda que a cidade recebeu da Alemanha, nunca recebemos nada. Em 94 meu pai comprou a casa na parte alta da cidade. Apesar de tudo, nunca passou pela nossa cabeça mudar de cidade.
Cristina Cezar, 26 anos, administradora de empresas e moradora de Blumenau.



