
A maior tragédia climática da história do estado. Foi assim que o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), definiu ontem a situação enfrentada pela região do Médio Vale do Itajaí. O prefeito de Blumenau, a maior cidade atingida pela onda de enchentes e deslizamentos de terra, João Paulo Kleinubing, concorda: a situação é ainda mais grave do que a causada pelas inundações dos anos 80.
Os números da catástrofe ainda não são totalmente conhecidos. Hora depois de hora, as autoridades aumentam a quantidade de mortos, feridos e desabrigados. Até o fim da noite de ontem, havia 63 mortes confirmadas. O número de pessoas que haviam sido obrigadas a deixar suas casas ultrapassava 42 mil e continuava a subir. Oito cidades estavam isoladas: Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoá, Benedito Novo, São Bonifácio, Luiz Alves e São João Batista. Itajaí está com 80% de seu território embaixo da água.
O município com mais perdas, Ilhota, registrava 14 mortes e 14 desaparecimentos. Dos 12 mil habitantes, pouco mais de 2,7 mil estavam sem teto, segundo a prefeitura. Em boa parte das cidades do vale, os serviços básicos deixaram de funcionar. Camboriú e Blumenau, por exemplo, não têm mais abastecimento de água. Em Blumenau, a previsão é de que o fornecimento só volte ao normal em uma semana. Até lá, a água sairá apenas de caminhões-pipa.
Morros "derretendo"
"O problema, dessa vez, não foi a enchente". Quem garante é a secretária executiva do Comitê do Itajaí e professora aposentada da Universidade Reginal de Blumenau (Furb), Beate Frank, que decidiu se dedicar a estudar as cheias da região. Organizadora de um livro sobre o assunto, a pesquisadora diz que a região de Blumenau está preparada para enchentes, sabe como enfrentá-las. "O problema são os deslizamentos", diz.
Segundo ela, a diferença da enchente atual para as de 1983 e 84, as mais importantes da história moderna da cidade, é a quantidade de terra deslizando. "A enchente é previsível, controlável. O deslizamento, não. De repente, o morro desce", diz. E aí, não há o que fazer.
Os meteorologistas do Instituto Tecnológico Simepar explicam a chuva dos últimos dias com base em imagens de satélite: um anti-ciclone formado por uma massa de ar frio trouxe ventos fortes do Oceano, carregados de umidade. O vento encontrou uma área de instabilidade. E isso deu origem ao temporal. "Foi uma série de eventos meteorológicos", afirma a meteorologista Sheila Paz.
Os ventos foram traiçoeiros para quem faz a previsão de enchentes na região. "Normalmente, a cheia vem sendo trazida pelo rio desde o Alto Vale do Itajaí", conta Beate. "Dessa vez, não choveu nas nascentes. E a enchente nasceu da chuva na região de Blumenau, sem aviso prévio". E foi muita chuva: em três dias, 300 milímetros acumulados. O suficiente para elevar o rio, na altura de Blumenau, a 11,5 metros.
Mesmo assim, a enchente por si só não faria tantas mortes, como não fez nas vezes anteriores em que assolou a cidade. O caos contou com outro elemento: as chuvas prolongadas do mês haviam amolecido o terreno frágil dos morros e encostas. "Nós tivemos quatro meses de chuva e nos últimos dias chuva muito forte. Os morros da cidade estão deslizando como se estivessem derretendo", disse o prefeito Kleinubing.
A única boa notícia para a região, ontem, foi que a chuva começou a diminuir. A água já baixava nas áreas alagadas.




