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O assassinato de um bebê de sete meses na Cidade Industrial de Curitiba, na terça-feira, além de colocar em evidência um drama familiar, também trouxe à discussão uma doença que é mais comum do que se imagina: a depressão pós-parto. Assim como F.V.M.M, 24 anos, que durante uma crise esfaqueou e matou o filho, estima-se que, somente na capital, quase 5 mil mulheres tenham enfrentado a depressão pós-parto no ano passado.

Segundo dados do Programa Mãe Curitibana, em 2005 foram feitos 24.375 partos na cidade. De maneira geral, a doença afeta entre 15% e 20% das gestantes, sendo que, dentro deste universo, 5% (o que corresponderia a 243 casos na capital, no ano passado) desenvolveriam quadros graves, necessitando de acompanhamento médico intenso.

Para o médico psiquiatra e diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, Dagoberto Requião, desgraças envolvendo abandono e morte de crianças poderiam ser evitadas com maior atenção à saúde mental das grávidas. Segundo ele, transtornos mentais que se apresentam ao longo da gestação ou após o parto podem ser manifestações ou agravamento de transtornos prévios. Mulheres com histórico de depressão, mães adolescentes ou que passam por uma gravidez indesejada teriam mais chances de desenvolver transtornos. "O parto é um fator de estresse que em alguns casos pode desencadear comportamentos depressivos e psicóticos. Por isso é fundamental que, além do levantamento do histórico pessoal e familiar da paciente, seja feita uma análise do comportamento da mãe durante a gestação", diz.

De acordo com o chefe do serviço de psicologia da Universidade Federal do Paraná, José Roberto Gioppo, a depressão pós-parto geralmente se manifesta em até 40 dias após o parto. A mãe se sente incapaz de cuidar do bebê e de assumir a responsabilidade. "O nascimento muda o status da mulher na família, ela passa por essa mudança de identidade e às vezes não assimila seu vínculo com a criança", explica. Ele comenta que, no inconsciente da mãe, o parto é vivenciado muito mais como uma experiência de perda do que como o nascimento de um filho. O choque se dá quando o bebê, que durante a gestação era apenas da mãe, torna-se um ser diferenciado dela, com vida própria e que deve ser compartilhado com os demais.

Mulheres que sofrem da depressão pós-parto apresentam um sentimento profundo de tristeza, fadiga e perda do interesse por atividades que antes eram consideradas prazerosas. Segundo Requião, um quadro ainda mais grave do que a depressão seria a psicose, que afeta de 0,1% a 0,2% das gestantes. Em geral, os sintomas, que surgem de dois a três meses após o nascimento, compreendem confusão mental, incoerência, desconfiança e preocupações obsessivas com a saúde do bebê. Delírios e alucinações são comuns nessas situações, podendo ainda ocorrer infanticídios (5% dos casos) e suicídios (4%).

Além disso, o psiquiatra alerta que a depressão não deve ser confundida com a reação depressiva normal que ocorre após o parto. Esse tipo de comportamento está relacionado a mudanças hormonais e acomete cerca de 50% das mães. Surge nos primeiros dias após o parto, sendo marcado por tristeza, choro freqüente, ansiedade, porém sem danos significativos e tendendo a desaparecer em duas semanas.

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