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Apresentação do relatório final da CPI que investigou o desaparecimento de crianças e adolescentes: ação do estado é praticamente nula na área | Leonardo Prado/Agência Câmara
Apresentação do relatório final da CPI que investigou o desaparecimento de crianças e adolescentes: ação do estado é praticamente nula na área| Foto: Leonardo Prado/Agência Câmara

Curitiba

Debate sobre violência sexual

Hoje e amanhã, profissionais li­­ga­­dos aos direitos da criança e do adolescente dos três estados do Sul se reúnem em Curitiba. O Encontro Regional de Revisão do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juve­­nil vai reunir as reco­­men­­dações e experiências das di­­versas instâncias de en­­fren­­tamento do tema. Hotel Bo­­­­na­­­­parte Express (Visconde de Guarapuava, 2.016, Centro). Informações (41) 3023-3925.

Investigação

Só Paraná e Minas têm delegacias especializadas

Paraná e Minas Gerais são os únicos estados que têm delegacias especializadas no desaparecimento de crianças. Os demais ou têm investigadores que cuidam também dos adultos ou policiais que se ocupam de outros temas. O Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) é referência em todo o país. Entre as ações há softwares que manipulam fotografias e simulam o envelhecimento das crianças e outro programa "emprestado" do Federal Bureau of Investigation (FBI) que traça o modus operandi de criminosos.

Em Belo Horizonte (MG), a Divisão de Pessoas Desaparecidas conta com duas unidades, divididas entre adultos e crianças. Na estrutura da divisão há um telefone 0800 para informações que funciona 24 horas e um núcleo de psicologia e assistência social, que além de prestar apoio aos pais, consegue traçar um perfil dos desaparecimento, com informações como local, idade, hora do dia, motivação etc.

A coordenadora da divisão, Cristina Cicarelli Masson, explica que em geral os desaparecimentos são divididos entre os com motivação criminosa e os relacionados a conflitos familiares. O projeto atual das delegacias é investigar os desconhecidos. Um legista investiga cadáveres e checa se batem com a descrição de desaparecidos. O mesmo ocorrerá com pessoas vivas. "Precisamos da sociedade civil. Esta parceria é imprescindível."

Boa parte das conquistas paranaenses é fruto do trabalho de Arlete Caramês, mãe de Guilherme Caramês, desaparecido em 1991. Ela foi uma das pioneiras a lutar por esta causa. "A conclusão do relatório da CPI é dura, mas é a realidade." Arlete afirma que, muitas vezes, há descaso dos próprios governos estaduais, que deixam de pleitear recursos. Além das contribuições para o estado, ela batalhou também para aprovar no país uma lei que prevê a busca imediata dos meninos e meninas após os pais terem feito o registro da ocorrência. (PC)

  • Confira: desaparecimento de crianças também sofre com a falta de recursos

Relatório divulgado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o desaparecimento de crianças e adolescentes no Brasil mostra que o governo federal não investiu o dinheiro previsto para a criação da Rede Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (Redesap). Em 2002 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos criou a rede com o objetivo de montar um cadastro nacional. Mas entre 2002 e 2005 apenas R$ 94 mil do R$ 1 milhão disponível foram empenhados. Com o funcionamento pleno da Redesap, seria possível saber quantas crianças desaparecem hoje no país por ano, algo que continua sendo uma incógnita. O que existem são apenas estimativas, que apontam para cerca de 40 mil meninos e meninas.

O documento final da CPI propõe que sejam criadas delegacias especializadas em todos os estados, já que hoje apenas Paraná e Minas Gerais contam com investigadores policiais dedicados exclusivamente ao desaparecimento de crianças. Além disso, há a recomendação para que o governo federal crie uma secretaria específica para a infância e adolescência, para evitar a pulverização dos recursos. O relatório orienta ainda a criação de um alerta nacional semelhante ao existente nos Estados Unidos, onde os meios de comunicação divulgam imagens dos desaparecidos instantaneamente.

Para a deputada federal An­­dreia Zito (PSDB-RJ), relatora e criadora da CPI, o resultado mostra um descaso do governo federal com o desaparecimento de crianças. Ela argumenta que hoje a ação do Estado é praticamente nula nesta área. Não há delegacias especializadas nem dados oficiais. As famílias que têm crianças desaparecidas precisam investigar sozinhas e ficam desassistidas. "São as mães que fazem papel de detetives e distribuem cartazes. Não há nem apoio psicológico para elas."

Hoje, apesar de as estimativas apontarem para a existência de 40 mil crianças desaparecidas todos os anos, no cadastro nacional da Redesap há apenas 1.247 meninos e meninas registrados. Além disso, são poucas informações disponíveis. "É um desorganização, uma falta de competência. O cadastro nacional que existe hoje é fictício." Outra crítica da deputada é que os problemas não são exclusivos da Redesap. Até outubro deste mês, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, que obteve uma dotação inicial de R$ 11 milhões, executou apenas R$ 1,8 milhão. No Fundo Nacional para a Criança e Adolescente houve uma dotação inicial de R$ 20 milhões, sendo executados apenas R$ 4 milhões.

Procurada pela reportagem para comentar o relatório, a assessoria de imprensa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos informou que não conseguiria responder às informações até o fechamento desta edição.

Sociedade civil

Para as organizações da sociedade civil que trabalham com o desaparecimento de crianças e adolescentes, o resultado da CPI não é surpresa. "A CPI é uma grande vitória, mas sentimos na pele este descaso", diz Wal Ferrão, uma das coordenadoras do Portal Kids e Mães do Brasil. A organização carioca auxilia mães que tiveram seus filhos desaparecidos, oferecendo ajuda nas investigações e apoio psicológico.

Wal afirma que hoje os programas de atendimento não suprem as necessidades das famílias. Ela argumenta que o discurso oficial é que as crianças fogem de casa por "conflitos familiares". "É preciso separar estas duas situações. Há a fuga de casa, que muitas vezes é originada por um problema social, que precisa de ações específicas. Mas há o desaparecimento enigmático, para o qual é necessário uma rede estruturada para investigação."

A coordenadora explica que, em muitos casos, os meninos e meninas desapareceram ao circular perto da residência. Não se sabe ao certo o destino das crianças desaparecidas, já que as investigações oficiais são praticamente inexistentes, mas suspeita-se de que haja envolvimento com adoção ilegal, tráfico de órgãos e seres humanos e exploração sexual.

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