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Em Antonina, restam as ruínas das casas abandonadas porque ofereciam riscos aos moradores | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Em Antonina, restam as ruínas das casas abandonadas porque ofereciam riscos aos moradores| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Há exatos cinco anos, o mundo do estivador Celso Sérvolo Veloso estava desmoronando. Morador de Antonina, ele foi um dos milhares de prejudicados por chuvas contínuas no Litoral do Paraná em março de 2011, que causaram deslizamentos de terra, quatro mortes e muita destruição. No topo de um morro com vista para a baia, Veloso morava em meio às árvores e cercado pela família. Hoje vive em um conjunto de sobrados construído para os desalojados.

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“A gente ainda dorme com medo.” Veloso ainda não acredita que a quantidade de chuva que caiu do céu encharcou o chão e fez os terrenos desmoronarem. “Pra mim foi aquele negócio do Japão”, se referindo ao terremoto e ao tsunami que aconteceram no mesmo dia, no outro lado do mundo. Os japoneses reconstruíram parte do país em menos de um ano, mas os problemas causados na usina nuclear de Fukushima são sentidos até hoje.

Governo garante que fez todo o possível

Já no Litoral do Paraná, os efeitos são outros. Depois de dois anos morando em abrigos improvisados ou em casa de parentes, muitos dos atingidos pela tragédia receberam um lar. A Cohapar, com ajuda de recursos federais, ergueu 88 sobrados em Antonina, 50 casas em Paranaguá e 85 em Morretes. Algumas construções continuam sem o muro e sem o revestimento do piso, que não foram feitos pelo governo.

O estivador Celso Sérvolo Veloso em três momentos: com a casa em ruínas; em frente ao antigo terreno, hoje um talude; e na casa nova, ainda sem lajotas.Marco Lima e Henry Milleo/Gazeta do Povo

Mas muitas pessoas alegam que foram prejudicadas pelos desmoronamentos daquele 11 de março e não foram indenizadas. É o caso do pintor Adilson Pereira, que morava de aluguel num dos pontos de deslizamento e hoje continua num abrigo improvisado, com dois filhos e dois netos. É a queixa também do pastor Antônio de Freitas Castro Neto, que faz questão de mostrar os documentos da casa que o deslizamento de terra destruiu.

“A casa aqui é melhor do que a que eu tinha, mas não dá para aumentar”, lamenta Veloso. “A vantagem é o asfalto”, acrescenta. Ele só ainda não conseguiu se acostumar com o barulho de morar quase no centro da cidade, em meio ao ronco dos carros e dividindo parede com vizinhos. “A gente tinha mais liberdade, e silêncio pra dormir”, conta. No local onde o estivador morava hoje tem um talude, um muro de arrimo de dezenas de metros, coberto de grama e salpicado de canos de drenagem. Ao visitar a área pela primeira vez desde que foi forçado a sair, ele se enche de lembranças. “Aqui tinha um limoeiro, uma bananeira e a minha casa”, aponta.

Apesar das queixas pontuais, Veloso está no time daqueles que ficaram felizes com a mudança. Não é o caso do construtor Valmir Cesário do Carmo. Ele alega que tinha uma casa de 150 metros quadrados, avaliada em R$ 200 mil e que, como os demais vizinhos em Antonina, recebeu um sobrado de 42 metros quadrados. “Até o ano passado ainda estavam me cobrando IPTU de lá, de um lugar que me tiraram, que não me deixam mais morar”, lamenta.

Governo garante que fez todo o possível

O governo estadual, que ficou responsável pela gestão dos recursos destinados para a recuperação do Litoral do Paraná, garante que fez tudo o que era possível com os R$ 70 milhões reservados para o trabalho. À época dos deslizamentos, a estimativa de custos era de R$ 89 milhões, mas os valores foram recalculados pois vistorias técnicas apontaram que alguns danos nas cidades eram anteriores a data dos desmoronamentos. O governo federal repassou R$ 24,9 milhões e R$ 45 milhões foram aplicados pelo tesouro estadual.

O governo federal também alega que todas as pontes que foram apontadas dentro do rol de obras emergenciais foram reconstruídas e que não há previsão de mais obras, tendo em vista que tudo o que foi previsto no plano de trabalho foi executado. Já a Cohapar informa que não há a previsão de entrega de casas para outros eventuais atingidos pelo desastre de março de 2011.

  • João Rodrigues, atingido pelos desastres das chuvas de 2011, na casa onde mora atualmente, em uma vila no município de Morretes. Foto:
  • A moradora de Morretes Benvinda, ganhou uma casa e ampliou a construção para abrigar a família toda. Foto:
  • Pedaço de ponte destruída no desastre, no rio Floresta, em Floresta - Morretes. Até hoje a ponte não foi reconstruída. Foto:
  • Na foto, vila construída em Morretes para abrigar os atingidos pelos deslizamentos. Foto:
  • Celso Servolo visita o local onde ficava sua casa antes da tragédia. Hoje, existe no lugar uma barreira de retenção de desmoronamentos. Foto:
  • Uma das casas que foram abandonadas ,em Antonina, por oferecerem riscos aos moradores. Foto:
  • Casa destruída e abandonada na região de Floresta, em Morretes, ainda guarda as marcas dos deslizamentos. Foto:
  • Na foto, casas que foram abandonadas em Antonina por oferecer riscos aos moradores. Foto:
  • Cinco anos depois da tragédia, as marcas de onde a água lamacenta chegou ainda estão nas paredes desta casa em Morretes. Foto:
  • Rachaduras e pedaços quebrados mostram uma parte dos estragos nessa casa, causados pelas chuvas em Morretes em 2011. Foto:
  • João Rodrigues na região de Floresta, em Morretes. Ele e a família moravam no local e tiveram que sair depois da tragédia. Hoje vivem em uma vila na cidade. Foto:
  • Na foto, vila em Antonina construída para abrigar os atingidos pela tragédia. Foto:
  • As manchas nas paredes, o destelhamento e o abandono: marcas deixadas pelo desastre nessa casa em Morretes . Foto:
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