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Na Ceasa, o Banco de Alimentos repassa comida não vendida a cerca de 500 instituições de solidariedade. Mesmo assim, 150 toneladas vão ao lixo todos os meses só em Curitiba | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Na Ceasa, o Banco de Alimentos repassa comida não vendida a cerca de 500 instituições de solidariedade. Mesmo assim, 150 toneladas vão ao lixo todos os meses só em Curitiba| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

"Conceito de produção não é sustentável"

As grandes monoculturas, sobretudo a soja, são verdadeiras inimigas do meio ambiente. Essa é a tese defendida pelo promotor de Justiça da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público, Robertson Fonseca de Azevedo. "O conceito de produção não é ambientalmente sustentável. É, por outro lado, super-rentável para pequenos grupos", diz. Azevedo defende que a expansão agrícola suprimiu as florestas, afetando o microclima de algumas áreas, como a região de Maringá. "O clima continua como é. Mas esses microclimas já foram alterados pelo processo produtivo voltado à produção de commodities para exportação", afirma.

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Fome não existe por falta de comida

O Brasil sustenta um verdadeiro paradoxo quando o assunto é a comida. 72 milhões de pessoas – cerca de 40% da população – estão vulneráveis à fome em diferentes graus, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2006.

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Um relatório da Grã-Bretanha revelou que mais de US$ 20 bilhões em comidas e bebidas são desperdiçadas no país todos os anos. Além das consequências sociais do não aproveitamento de alimentos em um mundo com aproximadamente 1 bilhão de famintos, conforme a Organização das Nações Unidas, a redução do desperdício para 250 mil toneladas poderia evitar a emissão de 1,1 mi­­lhão de toneladas de dióxido de carbono à atmosfera. As descobertas foram feitas pelo Wrap (Waste and Resources Action Pro­­gram, uma espécie de projeto de ação contra o desperdício), que tem como objetivo reduzir a perda de alimentos para evitar poluição e melhorar a distribuição de comida.

"Nós jogamos fora inacreditáveis US$ 20 bilhões de alimentos que poderiam ser consumidos, porque cozinhamos demais ou porque simplesmente deixamos estragar", explicou Richard Swannell, o diretor de varejo e alimentos da Wrap, ao jornal americano The New York Times. Mais do que isso, os pesquisadores também descobriram que o desperdício não ocorre apenas na indústria. "Pesquisadores da Austrália e dos Estados Unidos mostraram que uma significante quantidade é desperdiçada por donas de casa ou responsáveis pela manutenção das residências", acrescenta Swannell.

A falta de controle nas residências desencadeia exageros desnecessários na produção de alimentos. "Se houvesse queda no desperdício, também não haveria necessidade de se explorar novas áreas de plantio", explica a professora do Mestrado Profissional em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP), Leila Teresinha Maranho. Dessa maneira, na teoria – deixando os interesses econômicos de lado –, não haveria necessidade de desmatar novas áreas. Não se pode, contudo, imaginar que refeições comedidas para evitar sobras vão resolver solitariamente a questão, é preciso melhorar a logística da cadeia produtiva, diminuindo as perdas desde a colheita até o destino.

Metano e chorume

Cada vez que os alimentos se decompõem, transformam-se em gás metano – elemento 22 vezes mais prejudicial à atmosfera do que o dióxido de carbono. Não apenas isso, mas os orgânicos respondem pela geração de chorume, cujo tratamento é complexo e bastante caro. "O chorume por si só é problemático para o meio ambiente, porque pode contaminar o lençol freático, além de causar mau cheiro, que considero um aspecto ambiental", alerta a professora.

Ou seja, a forma mais eficaz para proteger o meio ambiente seria evitar o apodrecimento das substâncias orgânicas. Justa­mente por esse motivo, as cinco Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) batalham para evitar o desperdício. Uma das maneiras encontradas foi o Banco de Alimentos, que repassa comida não vendida a aproximadamente 500 instituições de solidariedade filiadas no estado. Dessa forma, evita-se a decomposição. Ainda assim, as perdas são grandes na capital: cerca de 150 toneladas por mês.

Quando os alimentos não podem mais ser aproveitados por humanos, outro programa da Ceasa prioriza a doação para criadores de pequenos animais. Há, ainda, uma última opção: passar os alimentos por uma estufa (eliminando micro-organismos) e servi-los a animais. E a conscientização ambiental também passou a ser incentivada. "Cada permissionário é obrigado a ter um gerenciamento individual e indicar aquilo que pode ir para o Banco de Alimentos ou outros programas", relata a assistente social da Ceasa, Clarice Maciel.

Sobras que custam

Esse tipo de comportamento, infelizmente, é adotado apenas quando se mexe com o bolso. Desde que a prefeitura impediu os grandes geradores – estabelecimentos que geram mais de 600 litros de resíduos por semana – a despejar lixo no Aterro da Caximba, várias empresas iniciaram programas de tratamento e destinação adequada. Trata-se de uma espécie de cultura do restaurante por quilo. "As sobras são cobradas. Por isso, diminui-se o desperdício", esclarece Robertson Fonseca de Azevedo, promotor de Justiça da Promotoria do Meio Ambiente. "A gestão ambiental precisa privilegiar a redução, reaproveitamento, reciclagem e destinação correta. Se é aplicada para produtos industrializados, também deve valer para alimentos", diz.

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