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Cerca de 6 mil estrangeiros vivem em situação irregular em Curitiba e municípios vizinhos. A estimativa é da Pastoral do Migrante, braço da Igreja Católica. Os chineses, seguidos dos peruanos, lideram o ranking da imigração clandestina. Esses imigrantes vieram para o Paraná em busca de melhores condições de vida. Deixaram família, amigos e sua pátria para fugir da miséria, da instabilidade econômica e, em alguns casos, da política. No Paraná, de acordo com o Ministério da Justiça, vivem outros 40 mil estrangeiros em situação regular. Juntando legais e ilegais, os "forasteiros" no estado não enchem o Xaxim, bairro da Zona Sul da capital. Trata-se de um grupo pequeno se comparado aos 10 milhões de habitantes do estado, mas com características marcantes (veja matéria na página 5).

O Brasil virou o destino da esperança por vários motivos: emprego, boa receptividade e proximidade com a terra natal. Razões que foram mais fortes do que o claudicante crescimento econômico brasileiro. Alguns países que exportam gente para cá têm, inclusive, um grau de desenvolvimento melhor do que o Brasil. O Uruguai, por exemplo, ocupa a 46.ª posição no IDH (o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU), enquanto o Brasil está na 64.ª. Mas histórias complicadas de vida muitas vezes são mais importantes do que o potencial econômico e as eventuais facilidades da nova terra – como é o caso do uruguaio Juan Gustavo, 47 anos.

Ele faz parte da leva de imigrantes irregulares. Há cinco anos, vive com sua família no bairro Uberaba. Formado em Arquitetura pela Universidade de Barcelona (Espanha), era dono de uma fábrica de macarrão e de um açougue em San José (próximo a Montevidéu), mas perdeu tudo e ficou endividado. Rompido com a família por problemas nas empresas, resolveu tentar a sorte em Curitiba. Chegou sozinho em 2001. A mulher e os dois filhos vieram alguns meses depois.

Ao chegar, conseguiu emprego em uma empresa de sucata, mas foi denunciado e perdeu a vaga. Dono de uma van trazida do Uruguai, Gustavo passou a trabalhar transportando turistas para o litoral e para Foz do Iguaçu. Numa das viagens à fronteira, foi detido com drogas no carro. Ficou dois anos e meio anos preso e perdeu o veículo. Gustavo diz que foi enganado por um falso turista, que seria o verdadeiro dono da droga.

Nessa época, sua esposa, Irma, 40 anos, estava grávida do terceiro filho. Sem o companheiro, começou a trabalhar com reciclagem para sustentar os filhos: Andrea, hoje com 18 anos, Jeimmy, de 5, e Jason, de 2 anos, que nasceu quando o pai estava preso e é portador da síndrome de Down. "No meu país não tinha como cuidar do problema dele", diz Irma. Quando foi dar à luz, os atendentes da clínica perguntaram se Irma queria voltar para o Uruguai. Não quis. "Temos mais ajuda no Brasil do que no Uruguai. Todo mundo ajuda. Aqui é mais humanitário", diz ela. "Tínhamos poder aquisitivo e perdemos tudo. No Uruguai, quem não tem nada, não vale nada."

Gustavo saiu da prisão e foi trabalhar com a mulher. Eles ganham 12 centavos por quilo de reciclável. A família paga R$ 100 de aluguel por uma casa de madeira (cozinha, dois quartos, sala, banheiro), na Vila Icaraí. "Luxos", só a televisão e o telefone. Todos da família estão requerendo visto permanente. Gustavo espera, com a regularização, conseguir um emprego formal. "Quero dar estudo aos meus filhos. Aqui eles terão mais oportunidade. Sei que há discriminação no Brasil, mas no Uruguai é pior. Lá, tratariam meu filho como ‘mongólico’. Aqui tratam como um ‘niño’ especial."

Peru

O peruano Ernesto também busca regularizar sua situação. Ele chegou a Curitiba há três anos, depois de passar dois meses no Rio de Janeiro. Ernesto tem um irmão que é professor da Universidade Federal do Paraná. Veio visitá-lo e ficou. Ernesto era guia turístico em Cuzco, sua terra natal. Em Curitiba, trabalha com a divulgação da cultura e do folclore inca.

Ele vai se casar em janeiro com uma brasileira e, assim, poderá requerer o visto permanente. "Me disseram [na Polícia Federal] que ou eu casava com uma brasileira ou tinha um filho no Brasil. Não brinco com isso. Casamento e filhos são coisas muito sérias. Só vou me casar agora porque gosto muito da minha namorada", garante Ernesto.

A também peruana Andrea, 22 anos, está há um mês em Curitiba. Ela largou seu país para tentar oportunidade de emprego no exterior. Escolheu o Paraná por causa de um amigo conterrâneo que já vivia na capital. Andrea deixou pais e dois irmãos, além do namorado, em Lima. Ela tem visto de turista por 90 dias. Em breve, fará parte dos cerca de cem peruanos que vivem irregularmente no estado. A colônia é pequena: são aproximadamente 500 peruanos vivendo em situação legal no Paraná.

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