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Curitiba – Há dez anos, voltava ao noticiário da imprensa brasileira um personagem que o Brasil havia automaticamente associado à corrupção no governo do presidente Fernando Collor de Mello. Era a imagem de Paulo César Farias. Morto em sua cama, ao lado da então namorada Suzana Marcolino. PC havia saído da cadeia há seis meses e dali a duas semanas tinha um depoimento marcado no Supremo Tribunal Federal (STF). À época, sabia-se que o tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor tinha montado um grande esquema de arrecadação de recursos, utilizando-se para isso da máquina do estado. Não se sabia ao certo quanto e para onde foi esse dinheiro. Paulo César poderia acabar com essas dúvidas.

"Ele inclusive dava sinais de que estava disposto a falar", explica o jornalista Lucas Figueiredo, autor do livro Morcegos Negros: PC Farias, Collor, Máfias e a história que o Brasil não conheceu.

A hipótese de queima de arquivo, no entanto, foi rapidamente descartada pela polícia de Alagoas. Horas após os corpos terem sido localizados, o delegado responsável pelo caso, Cícero Torres, e o irmão de PC, Augusto Farias, declaravam à imprensa que o crime tivera motivação passional. Suzana teria matado Paulo César e se matado a seguir por saber que o namorado planejava abandoná-la.

A pressa da afirmação e a importância de uma das vítimas colocou o governo federal em uma posição delicada. Paulo César Farias cometeu crimes contra o Estado brasileiro. Desviou recursos, sonegou impostos.

Pela Constituição brasileira, porém, a investigação, a condução do inquérito e os eventuais julgamentos caberiam à Justiça de Alagoas.

O presidente Fernando Henrique Cardoso não "federalizou" o crime, mas propôs uma colaboração com a Justiça local. Foram enviados a Maceió o delegado da Polícia Federal Pedro Berwanger e uma equipe de legistas, chefiada pelo perito e professor de Medicina Legal da Unicamp, Badan Palhares.

Berwanger e Palhares chegaram como celebridades. Passavam o dia na casa de PC, no local de crime, refizeram depoimentos e Palhares chegou até a utilizar raio laser na reconstituição do crime.

Ao final do trabalho, o delegado queixou-se do pouco zelo com que a investigação fora conduzida, mas não acrescentou novos dados ao inquérito. Palhares disse que não havia nada a se acrescentar ao laudo elaborado pelos peritos alagoanos.

Coube ao professor da Universidade Federal de Alagoas, George Sanguinetti, ir contra a versão estabelecida.

"Suzana tinha 1,57m. Pela trajetória da bala, seria impossível que ela tivesse atirado contra o próprio peito sentada na cama, como afirmou Palhares", explica Sanguinetti que publicou o livro Morte de PC Farias: o Dossiê Sanguinetti.

Para o professor de Alagoas, Badan utilizou-se de raio laser mas se esqueceu da fita métrica. "Ele errou a altura de Suzana".

De fato, Badan utilizou um dado da Secretaria de Segurança que dava à namorada de PC uma altura de 1,67m. Um dado equivocado como se provou posteriormente.

A contestação de Sanguinetti levou a promotora Failde Mendonça a solicitar um novo laudo elaborado por um grupo renomado de peritos (veja ao lado).

O trabalho de Daniel Romero Munhoz, Genival Veloso de França e Domingo Tochetto descartou a hipótese de assassinato seguido de suicídio.

PC e Suzana haviam sido mortos por alguém.

De posse do novo laudo, o Ministério Público abriu inquérito indiciando os seguranças que estavam na casa de PC na noite do crime: Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, José Geraldo da Silva e Josemar Faustino dos Santos, além do irmão de PC, Augusto Farias.

Os seguranças, que têm a defesa paga por Augusto negam a autoria do crime. Augusto sempre defendeu a tese de crime passional.

Dez anos após o assassinato, o processo contra Augusto foi arquivado no Supremo Tribunal Federal a pedido da própria Procuradoria da República. A defesa dos seguranças questiona o processo no STF e no Superior Tribunal de Justiça. Se os recursos forem desconsiderados, os quatro serão levados a júri popular.

"Se eles forem a julgamento aposto na absolvição. Não vai haver provas. A Justiça tem que começar a ser feita no começo do caso e isso não aconteceu", resume o jornalista Lucas Figueiredo, descrente que, após dez anos se chegue aos culpados pela morte de PC Farias.

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