• Carregando...
Em outubro de 2008, familiares e amigos da vítima fecharam a Avenida das Torres em protesto: indignação com a morte | Daniel Castelano / Gazeta do Povo
Em outubro de 2008, familiares e amigos da vítima fecharam a Avenida das Torres em protesto: indignação com a morte| Foto: Daniel Castelano / Gazeta do Povo

PARADA GAY

Polícia diz que abrirá inquérito para investigar caso de jovem baleado

Vinicius Boreki e Diego Ribeiro

Um inquérito policial militar será aberto pela Polícia Militar (PM)para investigar o que aconteceu durante uma abordagem feita no último domingo, nas proximidades da Parada da Diversidade de Curitiba, em que um adolescente de 15 anos levou quatro tiros. Duas das quatro balas que atingiram o jovem teriam saído do revólver calibre 38 que o rapaz portava. A família acusa a PM e sugere que seja feito um exame balístico para conhecer a origem dos disparos.

Na madrugada de domingo para segunda-feira, um irmão do jovem prestou depoimento na Delegacia do Adolescente e afirmou que, ao perceber a abordagem, o adolescente fugiu e foi alvejado duas vezes. Em seguida, os policiais teriam usado o revólver do garoto para disparar novamente. Ao todo, o jovem levou um tiro em cada braço e dois nos pés. O depoimento foi encaminhado à Vara do Adolescente Infrator no final da tarde de segunda.

A versão apresentada pela PM, porém, é diferente. O rapaz teria fugido da abordagem, entrado em um beco e disparado duas vezes contra os policiais antes de ser baleado. Os tiros disparados contra o rapaz, segundo a PM, teriam partido da pistola ponto 40 de um dos policiais.

Além disso, a PM informa que o revólver do jovem é de calibre 32 e não 38. No domingo, porém, os oficiais informaram à sala de imprensa da PM que o adolescente foi encaminhado ao Hospital Evangélico com apenas um tiro na perna.

O jovem teve alta no fim da tarde de ontem."Foi uma covardia", diz o entregador Sebastião Moreira, de 58 anos, pai do adolescente. De acordo com Moreira, seu filho portava um revólver calibre 38 para se proteger, pois estaria jurado de morte no bairro onde vive. Na versão contada pelo garoto, o adolescente e outros dois rapazes estavam a caminho do Shopping Mueller quando foram em direção à Parada da Diversidade, no Centro Cívico, "em busca de um baseado". Antes disso, no entanto, houve a abordagem policial. "Meu filho errou ao carregar a arma, mas a polícia também abusou.

Não havia necessidade de dar quatro tiros", diz.

Dez policiais militares foram denunciados criminalmente por envolvimento na morte de André Santos das Neves, 21 anos, em outubro de 2008, na Vila das Torres, em Curitiba. A denúncia foi formalizada ontem pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MP-PR).Segundo informações do Gaeco, Neves foi morto por policiais na casa em que residia. Na época da ocorrência, os PMs envolvidos com o crime alegaram que Neves havia sido morto porque teria reagido à abordagem policial. Eles também disseram que o rapaz estava armado e tinha ligação com o tráfico de drogas. No entanto, as investigações do Gaeco apontaram que o jovem foi executado.

Dias antes do crime, o rapaz havia sido abordado por policiais e ameaçado de morte. No dia do assassinato, de acordo com o MP, os policiais foram até a casa da vítima com o objetivo de matá-la. Laudos de perícias mostraram que o jovem não reagiu e foi atingido pelos PMs com cinco disparos, incluindo um nas costas.

"Eles [policiais] disseram que não invadiram a casa, mas existiam marcas dos calçados deles no local. O aparelho GPS da viatura também mostrou que eles já estavam rondando a residência há algum tempo. Não foi uma abordagem acidental", diz o promotor Deníl­son Soares de Almeida.

Dentre os dez policiais denunciados, dois efetivamente teriam atirado no rapaz, dois teriam invadido a residência dele e outros seis teriam colaborado com a produção de provas falsas contra a vítima, como a colocação de armas e drogas na residência do jovem. Na época do crime, as autoridades alegaram que Neves estava com uma metralhadora, munições, 50 pedras de crack e maconha.

Os PMs foram denunciados por homicídio e fraude processual. Um dos policiais ainda deve responder por vilipêndio ao cadáver (ato de desrespeito), pois teria divulgado na internet diversas fotos do corpo do rapaz acompanhadas de frases irônicas. Os suspeitos negam todas as acusações, segundo o Gaeco.

O promotor Almeida contou que os acusados continuam na polícia e, por enquanto, vão permanecer em liberdade. Em 2008, todos estavam lotados na Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam), do 12.º Batalhão da PM, mas no ano passado foram transferidos para outras unidades. O MP enviou um comunicado para o comando da Polícia Militar para que a corporação possa adotar as medidas administrativas que julgar necessárias.

Protestos

A morte de Neves causou revolta de familiares e moradores da Vila das Torres. Eles alegavam que o jovem realmente não havia reagido e teria sido assassinado pelos policiais militares. Na época, eles relataram que o jovem dormia com a namorada, grávida de quatro meses, quando a casa foi invadida pelos PMs.

Faixas foram colocadas nas proximidades da residência de Neves e, no dia posterior ao crime, os moradores chegaram a bloquear, por cerca de duas horas, a Avenida Comendador Franco para protestar contra a morte do rapaz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]