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Entorno da Casa Gomm será preservado, inclusive com acesso restrito na área de “mata fechada.” | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Entorno da Casa Gomm será preservado, inclusive com acesso restrito na área de “mata fechada.”| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Mobilização

Exigência de abertura de rua foi abandonada

Parecia que não havia jeito. Para dar conta do aumento de fluxo de trânsito em volta do Shopping Pátio Batel seria preciso uma nova rua. A obra estava inclusive prevista entre as responsabilidades do empreendimento. Mas foi aí que desencadeou um movimento social motivado pelo temor de que a rua seria outra iniciativa urbana mais voltada para os carros e menos para as pessoas. O caso foi, inclusive, parar nas pranchetas do Ippuc, que analisava os impactos no plano viário.

Depois de brigas na Justiça e análise mais pormenorizada, a tal abertura de rua não parecia mais tão imprescindível. O corte que ligaria a rua Bruno Filgueira com a Hermes Fontes foi deixado de lado. "Aparentemente, o trânsito de veículos não foi tão intenso e a sinalização foi suficiente", diz o secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Lima. Uma eventual exigência pública de alguma obra viária no entorno do Shopping Pátio Batel seria prontamente acatada pelo empreendimento, informou a assessoria de imprensa.

O anúncio de que um quinhão verde de terra em pleno Batel virará oficialmente uma área pública levou os já mobilizados cidadãos que lutaram para a preservação do Bosque Gomm a se organizarem para uma nova e festiva empreitada: no sábado haverá um dia inteiro de atividades para celebrar a conquista. Desde que foi anunciada a construção do Shopping Pátio Batel e aventada a possibilidade de uma rua atravessar a área arborizada e histórica, um grupo de pessoas lutou para que o espaço, com menos de uma quadra, fosse mantido como um pequeno oásis em meio à selva de prédios.

INFOGRÁFICO: Confira o projeto de prolongamento da Rua Hermes Fontes

Como tudo ainda é muito recente – a decisão de transformar o entorno da Casa Gomm em bosque público foi divulgada pela prefeitura de Curitiba na terça-feira –, a agenda de comemorações ainda está sendo elaborada. O que já se sabe é que moradores das mais diversas partes da cidade se reunirão no local para marcar, de vez, a ocupação do espaço. Às 7 horas haverá observação dos pássaros, com explicações para quem aparecer por lá querendo conhecer a técnica. Duas sessões de Tai Chi Chuan estão marcadas – uma de manhã e outra à tarde. A minibiblioteca do sossego, que oferece uma "colheita" de livros, também estará à disposição dos visitantes que buscam uma sombra para ler.

Além de atividades de contemplação e de limpeza do bosque, ações voltadas para o público infantil, como peça de teatro, estão sendo programadas. "A questão agora é como manter o espírito, a vitalidade cívica que uniu todos até agora", comenta o pedagogo Luca Rischbieter, um dos integrantes do movimento que lutou pela criação e preservação da área pública.

O grupo se reuniu há um ano, depois que foi divulgado que uma rua seria aberta, cortando o bosque ao meio. As pessoas começaram ocupar a área, marcando encontros no local. As reuniões também aconteceram na internet. "Isso começou com a indignação cívica de um punhado de gente que se encontrou no Facebook", comenta Luca.

Iniciativas das mais variadas surgiram para dar vida – e marcar presença humana – no espaço repleto de árvores. Até feiras de brinquedos usados foram realizadas no local. No meio virtual, através do grupo "Salvemos o Bosque da Casa Gomm", foram combinadas atividades para manter o lugar sempre ocupado. De junho do ano passado para cá, mais de 25 eventos foram organizados, sem contar as atividades espontâneas.

"O que a gente quer é criar um símbolo", resume Luca, explicando que a mobilização social, das mais diversas vertentes, é um exemplo que pode ser replicado em outras áreas da cidade a se organizarem em torno de um projeto.

População poderá opinar sobre o que fazer na área

Apenas o primeiro passo foi dado para a criação do Bosque Gomm. O que será efetivamente feito na área ainda está em discussão. O secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Lima, comenta que reuniões ocorrerão nos próximos dias para começar a delinear um projeto. Apesar do debate em aberto, o que se sabe já é que haverá uma área de acesso restrito – a parte de "mata fechada" –, uma trilha educativa e um espaço adaptado para atividades públicas. "Vamos conversar muito sobre como adequar a forma como a área está sendo ocupada pelas pessoas à planta que foi desenhada pela prefeitura", conta um dos integrantes do movimento que lutou pela criação do bosque, Luca Rischbieter. Como tudo ainda depende de negociação, não há prazos previstos ou um cronograma definido.

Além da participação popular no processo de criação, o secretário destaca que a gestão da unidade de conservação ambiental também será compartilhada com a sociedade. "Há uma corresponsabilidade, para ajudar a proteger", diz. Está envolvido na negociação também o governo estadual, que é responsável pelo imóvel histórico – a Casa Gomm – que está no local.

Renato Lima enfatiza que a relevância da criação do bosque não está, necessariamente, associada à diversidade de espécies de fauna e flora do local. "É importante porque está numa área extremamente urbanizada". O espaço serve, inclusive, como área de pouso de aves. Sem áreas arborizadas, os pássaros acabam parando em telhados, o que não é ideal. Assim, o Bosque Gomm teria uma função ambiental semelhante ao do Passeio Público, em um espaço rodeado de concreto. "Em resumo, é importante para a qualidade de vida", salienta o secretário de meio ambiente. Outras áreas públicas – mas nenhuma em uma região tão impermeabilizada – estão sendo estudadas pela prefeitura para serem transformadas em unidades de conservação.

Como compensação ambiental pelos impactos da construção, o Shopping Pátio Batel pagou R$ 815 mil à prefeitura. O dinheiro vai para o Fundo Municipal de Meio Ambiente e deve ser obrigatoriamente aplicado em ações ecológicas, ainda não definidas. O empreendimento informou, via assessoria de imprensa, que doou a área do bosque para a prefeitura.

Entenda o caso

O processo de criação do parque passou por várias fases, de organização de eventos no fim de semana a batalhas judiciais:

Em junho do ano passado, reportagem publicada na Gazeta do Povo sobre a fase final de obras do Shopping Pátio Batel mostrava que o pouco que restou do bosque original da Casa Gomm seria cortado ao meio, ligando dois pontos da Rua Hermes Fontes.

A divulgação motivou um grupo de pessoas a lutar para evitar a abertura da rua, que viria acompanhada da construção de calçadas, da colocação de postes, etc. Além das redes sociais, o movimento também se reunia "fisicamente", com eventos marcados para ocupar a área.

Uma nova proposta que previa a construção de um desvio viário menor também foi apresentada e rejeitada pelos chamados Amigos do Bosque Gomm.

Em julho do ano passado, uma liminar foi concedida pela Justiça proibindo qualquer intervenção viária no bosque.

- Na última terça-feira, a prefeitura anunciou que pretende criar um bosque público no local.

Uma análise mais detalhada mostra que a luta pela preservação de um espaço verde não data dos últimos meses. Há anos, quando a quantidade de quadras ocupadas por árvores era muito maior, um grupo de curitibanos começou a reivindicar a conservação da área.

Interatividade

De que forma a iniciativa de criação do Bosque Gomm pode servir de exemplo para outras áreas urbanas de Curitiba? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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