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Em tempos de nepotismo acentuado na vida pública, nomes da mesma família em placas e fachadas de escritórios particulares podem até ser entendidos como comodismo. Ou seja, de que as novas gerações se aproveitaram do trabalho dos pioneiros do clã para obter sucesso. Porém, na maioria das vezes, a situação é bem diferente. Carregar o peso de um sobrenome conhecido em determinada área e corresponder à expectativa de ser tão bom quanto os antecessores exige trabalho árduo e dedicação redobrada dos novos profissionais.

A família Sprada, que comanda uma empresa de contabilidade com 53 anos de história em Curitiba, é um exemplo de como essa decisão pode ser difícil. Filho de um marceneiro que lutou na Revolução de 30, no estado de São Paulo, Jaime Sprada montou o escritório em 1952. Antes, foi office-boy de uma madeireira, fez o curso técnico de contabilidade e se diplomou em Ciências Contábeis e Econômicas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Segui o conselho do meu pai, que disse que eu ia estudar para não comer poeira como ele", resume Jaime. O conselho foi seguido à risca: hoje, o escritório é um dos mais requisitados da capital.

Herança

Jaime Sprada teve três filhos: Márcia, Álvaro e Alexandre. Márcia Sprada Rossetim nasceu contadora, segundo o caçula Alexandre. Tem paixão por números e leis, trabalha no escritório há quase 23 anos e não consegue se ver fazendo outra coisa. Álvaro Sprada se formou em Engenharia, trabalhou dois anos na empresa e desistiu da área. E Alexandre Antônio Sprada inicialmente queria ser médico, depois resolveu fazer Ciências Contábeis na UFPR – onde se formou – , trabalhou como músico e, por fim, decidiu cursar psicologia – carreira para a qual está se direcionando.

Mesmo focando um novo rumo profissional, Alexandre trabalha há 13 anos na empresa do pai e diz não se arrepender de não ter acertado na primeira. "Quando fui fazer contábeis, resolvi aproveitar uma chance que eu tinha e que os meus amigos não tiveram. Me dediquei de verdade à profissão. Já a psicologia foi o sonho, no qual eu investi", compara.

Para ele, a principal vantagem de se trabalhar com a família é a experiência disponível, além da oportunidade que os parentes têm de se entender mutuamente. Já a parte ruim é o desgaste familiar pelo excesso de convívio. "Falta saudade. Acho que nós nos visitaríamos muito mais se não trabalhássemos juntos", observa.

Convivência

O clã Campêlo, cujo escritório de advocacia foi aberto em 1957, compartilha da opinião de que às vezes a convivência em casa fica difícil pelo excesso de convívio profissional. "O único problema é que sempre acabávamos levando os assuntos do escritório para os almoços e jantares da família, até que nossas mulheres nos proibiram de falar sobre isso", conta o ex-secretário e ex-procurador-geral da prefeitura de Curitiba, José Cid Campêlo Filho.

Ele vê um certo equilíbrio entre os prós e contras de se trabalhar com a família. Entre as vantagens, o caminho teoricamente mais fácil de seguir a profissão escolhida. "A gente tem o privilégio de ter o professor em casa e no trabalho, à nossa disposição", ilustra. Das desvantagens, Campêlo Filho menciona uma certa resistência a novidades por parte dos pais – o velho conflito de gerações. Mas ele faz questão de rebater aqueles que imaginam que tudo é fácil para quem nasce num clã tradicional. "Não adianta você ser filho de alguém se não tiver talento e vontade de trabalhar", ressalta.

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