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Alunos em desespero: aulas no colégio foram interrompidas depois da morte de menina. Trezentos estudantes estavam no colégio pela manhã | Marcos Machado/ Jornal Hoje
Alunos em desespero: aulas no colégio foram interrompidas depois da morte de menina. Trezentos estudantes estavam no colégio pela manhã| Foto: Marcos Machado/ Jornal Hoje

Cascavel - Uma terrível sucessão de fatos tirou a vida de uma menina de 14 anos em Cascavel. Daniele Moreira de Assis morreu baleada na cabeça dentro da sala de aula. Ao que tudo indica, o tiro foi disparado acidentalmente por um colega de classe, que ontem mesmo foi colocado à disposição da Justiça.

O aluno que disparou o tiro havia sido transferido três semanas antes para o Colégio Estadual Santos Dumont. Antes disso, no dia 21 de agosto, ele já havia vivido um momento trágico. Seu irmão, de 19 anos, morreu com um tiro no peito – ele foi baleado justamente tentando defender o irmão menor em uma briga.

De acordo com um tio dos meninos, desde então o garoto de 16 anos passou a receber ameaças de morte, sempre por telefone. A família também passou a ser ameaçada. "Ligaram para a minha irmã, no trabalho dela, e disseram que estavam com meus sobrinhos", conta. O terrorismo psicológico, segundo ele, tem tirado o sono da família.

Assustada, a família decidiu transferir o garoto de escola. Os pais não sabiam que o adolescente andava armado. "Em casa ele nunca usou arma", diz o tio. Para a polícia, o menor contou que emprestou a arma, um revólver calibre 38, de um colega. A polícia procura agora o proprietário do revólver.

Acidente

O tiro dentro da sala de aula da 8.ª série foi um acidente. A professora escrevia no quadro-negro quando o barulho ecoou e a menina caiu. O menino, que estava mexendo na arma dentro de sua bolsa quando ela disparou, fugiu. Os outros 30 alunos entraram em pânico e uma gritaria tomou conta do colégio. No período da manhã, cerca de 300 alunos estudam na escola.

O menino voltou para a casa de sua família no início da tarde e seus parentes decidiram entregá-lo à polícia. De acordo com o delegado Amadeu Trevisan Araújo, após prestar depoimento ele foi encaminhado a um educandário da cidade.

Emocionada, uma colega da estudante tentou falar sobre a amiga, mas só conseguiu dizer que havia trocado de carteira com Daniele pouco antes do disparo. Segundo os alunos, na quinta-feira o garoto já teria ido armado para a escola. A diretora Elza Nichetti disse que até então a escola não tinha problemas com violência. "Isso acaba com todo o trabalho que a gente vem fazendo na escola de consciência, de respeito", disse.

O tio do acusado disse ainda que a família decidiu entregar o adolescente por não concordar com o crime. "Na realidade não tem justificativa o que ele fez. Ir armado para a escola é errado", afirmou. Ao comentar o caso, ele pediu desculpas à família de Daniele e disse saber o que eles estão sentindo porque sua família viveu drama semelhante quando o irmão do acusado foi morto.

Sonho

Francisco Barroso da Silva, avô da adolescente morta, classificou a neta como uma menina carinhosa, alegre e obediente. "Ela nunca desrespeitou o professor, tinha uma conduta que dava gosto de ver", afirmou enquanto aguardava a liberação do corpo no Instituto Médico-Legal (IML) de Cascavel.

Ele contou que recentemente a menina concluiu um curso de manicure e sonhava estudar Veterinária. "Ela gostava muito de animais. Lá em casa tem uns cachorrinhos e se alguém batesse neles comprava briga com ela", disse o avô.

Segurança

O governador Roberto Requião (PMDB), que pouco depois do crime desembarcou em Cascavel, mostrou irritação ao ser questionado por um repórter de rádio sobre o problema de segurança pública no estado. "Veja bem a pergunta que você me fez. Eu até começo a suspeitar da tua inteligência. O que é que tem a ver a segurança pública com um acidente provocado por um garoto que pegou a arma do pai e disparou contra uma criança?", questionou.

A Secretaria de Estado da Educação divulgou nota lamentando a tragédia no Colégio Santos Dumont. Segundo a nota, o Nú­­cleo Regional de Educação vai realizar um trabalho de apoio aos professores e funcionários da escola durante o fim de semana. O trabalho se estenderá, a partir da próxima semana, aos estudantes. As aulas estão suspensas até segunda-feira e a sala de aula onde aconteceu a tragédia será temporariamente desativada. "A Secretaria de Estado da Educação se solidariza com a família da estudante e informa que dará todo o apoio para o Núcleo Regional de Educação de Cascavel desenvolver o acompanhamento adequado aos alunos, professores e funcionários da escola para a superação deste incidente", diz a nota.

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