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Ana Cláudia Machado e o arquivo com a foto de Leandro: final triste para a família | Leandro Correia
Ana Cláudia Machado e o arquivo com a foto de Leandro: final triste para a família| Foto: Leandro Correia

Depois de 20 anos, o caso de uma criança desaparecida em Ron­cador, no Centro-Oeste do Paraná, foi elucidado a partir de um exame de DNA ósseo. Havia a suspeita de que Leandro Correia, que tinha 3 anos quando sumiu, estivesse morto. A hipótese foi confirmada pelo laudo médico do Instituto de Criminalística (IC) que teve como base para os testes um fragmento de crânio encontrado na época do desaparecimento. Um caso que contou com o avanço da tecnologia e a persistência da polícia para ser solucionado e que tira a esperança da família de reencontrar o filho vivo.

Leandro desapareceu em 22 de maio de 1990, na zona rural de Roncador, a 100 quilômetros de Campo Mourão. O menino foi visto pela última vez nas proximidades da Fazenda São Jorge, enquanto a mãe Djanira dos Santos Correia e o padastro Pedro Ale­­xandre estavam na lavoura. Ele teria ficado sozinho por cerca de 10 minutos e sumiu. Um mês depois, um pedaço de crânio foi encontrado a mil metros do local do desaparecimento. Estava perto de um sapato com uma meia dentro, uma camisa e uma fita vermelha. A mãe reconheceu a roupa que Leandro usava, mas não acreditou que o osso era do filho.

De acordo com a delegada Ana Cláudia Machado, do Serviço de Investigação de Crianças Desapa­recidas (Sicride), o material chegou a ser encaminhado para análise, mas a técnica de exames de DNA não era tão avançada. "O laudo, na época, foi inconclusivo, mas desta vez não tem como descartar. O laudo é contundente." O caso foi arquivado pela Justiça em 1994. "Mesmo com o arquivamento, casos antigos são revistos em reuniões semanais para discutirmos o histórico das diligências e traçarmos novas diretrizes", diz.

Em março de 2008, quando assumiu o Sicride, a delegada determinou que fosse feito o DNA ósseo. Depois da coleta de sangue da mãe e da retirada do fragmento de crânio do Instituto Médico-Legal de Campo Mourão, em outubro daquele ano, foi solicitado o exame ao IC de Curitiba. O laudo ficou pronto somente em fevereiro de 2010 – quase um ano e meio depois. Em um laboratório particular, o exame costuma ficar pronto em até seis meses.

Demora

Para o médico geneticista Salmo Raskin, pioneiro da técnica no Brasil, a demora pode estar relacionada ao volume de casos a serem analisados pelo IC, à falta de reagentes em quantidade suficiente para fazer o exame em menor tempo ou à dificuldade técnica de retirar o material genético do osso. Raskin conta que em 1990 a técnica existente no Brasil exigia uma grande quantidade de material. Ele montou seu laboratório no Paraná em 1993. "É uma técnica usada para examinar pequenas quantidades de DNA ou DNA despedaçado", explica. No IC, o laboratório foi montado há cerca de 10 anos.

A mãe de Leandro foi avisada na quinta-feira passada, por uma equipe policial. "É uma coisa que choca. É uma resposta que a gente precisa, seja ela qual for", afirma a presidente do CriDesPar Arlete Caramês, que tem um filho desaparecido, Guilherme, há 19 anos. "Eu não quero isso. Espero encontrá-lo vivo. É um caso solucionado de uma forma que não queremos. Amanhã ou depois posso ter uma resposta semelhante, mas não vai me satisfazer. Vou querer saber quem fez e como foi."

A delegada Ana Cláudia diz que agora cabe à Justiça decidir sobre a reabertura do inquérito policial, para que sejam apuradas as causas da morte. Ao todo, 23 crianças ainda estão desaparecidas no Paraná. Desde 1996, quando o Sicride foi criado, 1.166 casos foram solucionados. Os investigadores aguardam o resultado de mais um exame de DNA ósseo solicitado ao IC.

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