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“Sempre fui gordo, desde pequeno. Não fumo e só costumo beber socialmente. O problema foi a má alimentação: não gosto de verduras e legumes.”Hugo Barreto de Albuquerque, 72 anos | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
“Sempre fui gordo, desde pequeno. Não fumo e só costumo beber socialmente. O problema foi a má alimentação: não gosto de verduras e legumes.”Hugo Barreto de Albuquerque, 72 anos| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo
  • Causa mortis

O século 21 mudou o perfil das enfermidades no Brasil. Na década de 30, as doenças infecciosas (tuberculose) e parasitárias (Chagas) respondiam por 46% das mortes. De lá para cá o número veio caindo com regularidade, teve uma queda mais intensa na década de 90 e atualmente essas doenças representam não mais que 5% do total de óbitos.

Ocuparam seu lugar as doenças crônicas (infarto, derrame, câncer) e violentas (acidentes de trânsito e homicídios). Dados do Ministério da Saúde, divulgados ontem em Brasília, no estudo Saúde Brasil 2007, apontam que quase metade dos óbitos no Brasil (48,9%) ocorreram em decorrência de doenças circulatórias e neoplasias (cânceres). "É um paradoxo. O brasileiro melhorou a qualidade de vida, conseguiu ter mais conforto, mas começou a promover mais as doenças cardiovasculares", diz o presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia, José Carlos Moura Jorge.

O Ministério da Saúde entende que os tipos de morte refletem a urbanização rápida e pouco planejada e o desenvolvimento do país. As doenças crônicas estão ligadas ao sedentarismo, estresse, alimentação inadequada, consumo de álcool e de cigarro. Isso quer dizer que os brasileiros precisam investir mais na mudança de hábitos. "O controle remoto faz tudo. A frota de carros aumentou e, por isso, as pessoas não caminham mais como antes. As mulheres, por causa do trabalho, aderiram ao fast food. Com o consumo de alimentos cada vez mais gordurosos e em maior quantidade, temos mais obesos, hipertensos e diabéticos", explica o cardiologista e professor de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mário Sérgio Cerci.

Ao separar por causas específicas, dentro do grupo de doenças circulatórias, o acidente vascular cerebral foi o que mais matou: são 90 mil pessoas, ou seja, 31,7% do total. O infarto matou 84,9 mil (9,4%). Em decorrência de neoplasias morreram 147,4 mil pessoas, 16,7% do total de óbitos de 2006. As maiores incidências foram câncer de mama, pulmão, próstata e útero. A base de dados foi coletada em 2005, quando foram registradas 1 milhão e 3 mil mortes no país.

Causas externas

A pesquisa mostra ainda que muitas pessoas morrem no país por causa de acidentes de trânsito e homicídios. As causas externas estão em segundo lugar em três das cinco regiões do Brasil: Norte, Centro-oeste e Nordeste. Nacionalmente, porém, ocupam a terceira colocação. Em todo país, 47.573 pessoas morreram em homicídios, sendo homens mais de 90% dessas vítimas.

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, os números evidenciam uma diminuição nas taxas de assassinatos no país. Entre 2003 e 2006, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu de 28,6 para 25,4 – uma redução de 12%. Essa redução foi basicamente puxada pelo Rio de Janeiro e São Paulo e segundo o Ministério da Saúde poderia guardar relação com a campanha do desarmamento. Para o especialista em Segurança Pública e presidente do Movimento Viva Brasil, Benê Barbosa, a queda no número de homicídios precisa ser analisada com cuidado. "A qualidade das nossas estatísticas é algo de se desconfiar. O cidadão é achado morto no mato, com marcas visíveis de violência e na estatística ele entra como achado de cadáver e não homicídio", diz Barbosa.

Apesar da desconfiança em relação aos números, Barbosa diz acreditar que tenha havido diminuição dos casos de homicídios em São Paulo e que isso influiria no número nacional. No entanto, ele não vê relação com a campanha. "Essa queda começa em 97, quando nem se falava em desarmamento". diz. Para ele, dois fatores determinaram a redução. O primeiro é a melhora no aparato policial e no Poder Judiciário. "O outro o governo não gosta de admitir: diminuiu o número de mortos em confrontos entre quadrilhas. Basicamente surgiu o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o PCC não tem rivais em São Paulo."

Ainda segundo o estudo, os negros têm maior risco de morte por homicídios que os brancos em 25 estados e no Distrito Federal. A exceção é o Paraná, onde as chances são iguais. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública afirmou que não saberia explicar o fato, visto que não faz classificação dos homicídios por cor da pele.

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