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Ouço pela enésima vez aquela queixa: jornalista só dá destaque para notícia ruim. Notícia boa fica sem registro. A questão é relevante e eu poderia gastar bem mais que os 4000 toques que me cabem neste espaço para discuti-la com o leitor. Mas vou sair por uma tangente igualmente interessante: o que é boa notícia, afinal?

Arrisco uma definição. Boas notícias são aquelas que nos fazem ver uma luz no fim do túnel. Assim, notícias sobre pessoas que agiram de forma correta agradar ao leitor por serem promissoras: revelam que o ser humano tem jeito. Ou pelo menos alguns deles.

Dias desses, Rejaniel de Jesus Silva Santos e Sandra Domingues, um casal de moradores de rua que vivia embaixo de uma ponte, em São Paulo, encontraram um pacote com R$ 20 mil, desconfiaram que fosse roubado, e entregaram para a polícia. O dinheiro foi devolvido ao restaurante japonês de onde tinha sido furtado horas antes. Rejaniel e Sandra viraram a boa notícia da semana.

Pois não é que encontrei uma boa notícia dentro da boa notícia? Veja a explicação que Rejaniel deu para a decisão de entregar o dinheiro:

– Minha mãe me ensinou que não devo roubar.

Neste ponto, caro leitor, essa história ganhou uma nova heroína: a mãe do Rejaniel. O nome dela é Maria Ferreira dos Santos. Vive em Arari, cidade a 155 quilômetros de São Luís, no Maranhão. Dona Maria adotou Rejaniel quando ele tinha 5 anos. Pouco antes de morrer de pneumonia, a mãe biológica pediu que ela cuidasse do menino. Dona Maria cuidou dele e de outras cinco crianças, que adotou. Quando fez 21 anos, Rejaniel anunciou que trocaria a falta de oportunidade de Arari pelo sonho de progredir em São Paulo. Isso foi há 16 anos e como o Brasil inteiro sabe agora, o sonho não deu certo. Ele acabou vivendo de catar papelão e latinhas e com a renda conseguida só consegue se abrigar debaixo da ponte.

Cadê a boa notícia dentro da boa notícia? É que uma mãe conseguiu educar muito bem o seu filho.

Vai ser interessante saber o que acontecerá com Rejaniel e Sandra, ela uma paranaense que também foi a São Paulo em busca de oportunidades. Logo após a notícia sair nos jornais, sofreram ameaças, por isso foram tirados de debaixo da ponte pelos donos do restaurante japonês, que também ofereceram trabalho. Como os dois já estão vivendo nessa situação de penúria há muito tempo, talvez tenham dificuldade para se adaptar a uma vida normal, com emprego fixo e compromissos. Mas isso é outro capítulo.

Diante da repercussão de seu ato de honestidade, Rejaniel disse ao jornal Folha de São Paulo que só espera o reconhecimento de sua família, com quem não tem mais contato:

– A minha mãe me ensinou que não devo roubar e se vir alguém roubando devo avisar a polícia. Se ela me assistir pela tevê lá no Maranhão vai ver que o filho dela ainda é uma das pessoas honestas deste mundo.

Em reportagem à tevê Mirante, afiliada da Rede Globo no Maranhão, Maria contou que, em primeiro lugar, ficou feliz de saber que o filho está vivo e que, sim, está muito orgulhosa dele.

Parabéns, dona Maria.

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