• Carregando...
Aurélia Clivati precisou se afastar do trabalho por causa da dor nas costas: tratamento inclui pilates, shiatzu e acupuntura | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
Aurélia Clivati precisou se afastar do trabalho por causa da dor nas costas: tratamento inclui pilates, shiatzu e acupuntura| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Coluna

Alongamentos e atividades esportivas ajudam a reeducar a postura

Seja no tratamento ou na prevenção da dor nas costas, a atividade física quase sempre está nas recomendações dos especialistas. A fisioterapeuta ortopédica Alessandra Hanashiro comenta que alongamentos e a prática de natação, pilates e hidroginástica podem ajudar quem está se recuperando de uma lombalgia. "O pilates, por exemplo, dá consciência corporal, ajuda o paciente a aprender a perceber melhor sua postura. É como se fosse uma reeducação postural", diz.

A empresária Aurélia Tessaro Clivati, 79 anos, sabe bem o que é ver a dor invadir a rotina e lhe impossibilitar de fazer tarefas simples do dia a dia. Desde que as crises lombares pioraram, há cerca de seis meses, ela teve de deixar a cozinha do restaurante da família. "A dor na coluna atrapalhava na hora de pegar uma panela grande ou um balde", conta. Como os remédios não deram jeito, Aurélia aderiu ao exercício físico para aliviar o que a incomodava. Hoje, faz alongamentos, pilates, shiatzu e acupuntura.

Caso a caso

Para a fisioterapeuta Christiane Macedo não existe receita única em relação aos exercícios, mas baseada numa avaliação de cada caso. Ela explica que quando o paciente apresenta um encurtamento muscular, deve haver a prescrição de alongamento. Já quando se trata de um indivíduo sedentário, com menos força muscular, costumam ser indicados exercícios de fortalecimento e estabilização. "Os melhores resultados aparecem quando o paciente é tratado como um todo para restabelecer seu equilíbrio muscular e postural", define.

Técnica

Tratamento mais apropriado depende da intensidade da dor

Diante de uma demanda crescente, o tratamento para lombalgia avançou bastante nos últimos anos. Hoje, observa o presidente da Associação Brasileira de Reabilitação de Coluna (ABRC), Helder Montenegro, é possível aplicar técnicas de acordo com a intensidade da dor do paciente, como reconstrução músculo-articular, fisioterapia manual e estabilização vertebral. "Faz-se uma triagem e, de acordo com essa dor, se ela irradia ou é localizada, há uma classificação e encaminhamento para técnica adequada. A resposta ao tratamento é muito mais rápida e duradoura", explica.

Conforme Montenegro, cirurgias são indicadas apenas para 5% dos casos. "São situações extremas, como quando o paciente tem perda de força ou incontinência urinária em função do problema", enfatiza.

O tratamento da dor vertebral, ressalta a fisioterapeuta Christiane Macedo, é multifatorial. Por isso, é preciso fazer uma análise geral do paciente, com ênfase nos aspectos físico, postural e emocional e nas atividades de trabalho e de lazer. "A avaliação de um ortopedista e de um fisioterapeuta é fundamental para estabelecer a causa da dor e tratar diretamente o problema", diz.

Quem nunca sentiu dor nas costas? Incômodo para alguns e problema sério para outros, a lombalgia é a doença isolada que mais reduz a qualidade de vida no mundo, segundo relatório do Global Burden of Disease. No Brasil, a incidência também é alta e gera despesa. No ano passado, a Previdência Social concedeu 116 mil auxílios-doença no país em virtude de afastamentos ligados a problemas na coluna.

INFOGRÁFICO: Veja as principais causas das dores nas costas

O ortopedista do Hospital das Clínicas de Curitiba, Xavier Soler Graells, comenta que reclamações sobre dores nas costas são tão frequentes que o problema é a segunda maior causa de visita aos consultórios médicos no Brasil. A lombalgia só fica atrás do resfriado e suas complicações nas vias aéreas. "Vemos que, em 80% dos casos, o problema vem de uma postura errada. A pessoa não faz atividades físicas para balancear o hábito repetitivo e sente dor ao abaixar ou levantar algo pesado."

Graells observa, contudo, que outros fatores também levam ao problema, como sedentarismo, traumas e hábitos do paciente. Quem fuma, por exemplo, tem grandes chances de apresentar lombalgia ao longo da vida, assim como quem pega excesso de peso de maneira incorreta. "A nicotina atua diretamente sobre o disco da coluna, ressecando e ­­destruindo-o", explica o médico.

Ele alerta que, em alguns casos, a dor nas costas também pode ser o indicativo de doenças graves, como diverticulite intestinal ou aneurisma de aorta, ou preceder ainda problemas como artrose. Por isso, recomenda não mascarar a dor com remédios, ainda mais se o sintoma persistir após mudanças de posição. "Se não parar em quatro ou cinco dias, deve-se procurar um médico. A dor sempre é sinal de que alguma coisa não está correta."

Desequilíbrio

A fisioterapeuta do Hos­pital Universitário de Lon­drina Christiane Guerino Macedo explica que a dor nas costas é resultado do desequilíbrio entre força e flexibilidade muscular. "Este desequilíbrio causa sobrecarga nas estruturas anatômicas, como ossos, ligamentos, discos intervertebrais e músculos, que desencadeia processos inflamatórios, compressões e contraturas com consequentes dores na coluna vertebral", diz, ao avaliar que a melhor forma de prevenir o problema é cultivar uma vida saudável e ativa.

O médico ortopedista Luiz Roberto Gomes Vialle, do Hospital Marcelino Champagnat, pontua que, mesmo com esses cuidados, é quase inevitável ter pelo menos um episódio de lombalgia ao longo da vida. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 70% das pessoas terão até três crises de dor na coluna. Diante disso, considera natural a incidência na faixa dos 25 aos 45 anos. "Não tem vacina para isso. O médico precisa apoiar o paciente para que tome medicamento e repouse."

Mal também afeta pacientes mais jovens

Apesar de ser mais comum na vida adulta, a dor nas costas também tem atingido os jovens, segundo a Associação Brasileira de Reabilitação de Coluna (ABRC). A situação comprova que o discurso de que o problema só acomete pessoas mais velhas não passa de um mito.

O presidente da ABRC, Helder Montenegro, avalia que a chegada dos mais jovens aos consultórios de fisioterapia é reflexo de um comportamento sedentário. "Eles ficam muito tempo inativos, seja pelo uso da internet, do controle remoto ou da automação em geral. As pessoas estão ficando cada vez mais paradas, em casa ou na rua. Mas o corpo é vida e a vida precisa de movimento", diz.

Montenegro afirma que a lombalgia é praticamente uma epidemia no país – representa a segunda maior causa de licenças no trabalho e a terceira maior causa de aposentadorias precoces. Conforme números da ABRC, 5,5 milhões de brasileiros convivem ainda com hérnia de disco, problema que também causa dores nas costas. "O caminho para sair disto é fazer o oposto do que vem fazendo a humanidade: o exercício físico qualitativo, com profissionais adequados", salienta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]