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Motivação

Desentendimentos também matam muito

Na outra ponta, os assassinatos passionais, por desentendimentos e brigas, aumentaram em Curitiba. Atualmente, eles representam 42,95% dos motivos dos assassinatos na capital. Em 2011, eles significavam 20% das motivações. Chamados de motivação interpessoal pelo Cape, esses crimes saíram de 110 registros no ano de 2011 para 189 no mesmo período avaliado neste ano (entre janeiro e setembro). Os homicídios gerados por violência doméstica também estão inclusos neste quesito "motivação interpessoal". Contudo, apesar de os crimes interpessoais terem aumentado, o quesito "motivação outros" diminuiu de 69 para 12.

Avaliação

O fim próximo da "justificativa moral"

É comum ler ou ouvir no noticiário que o tráfico e o uso de drogas são os principais motivos do alto número de assassinatos no Brasil. O dado de Curitiba tem uma consequência importante, caso se confirme nos próximos anos. Essa justificativa usada historicamente pela polícia brasileira poderá ser colocada de lado. Segundo o Grupo de Estudos da Violência e Direitos Humanos da UFPR, Pedro Bodê, essa sempre foi uma desculpa usada pelas polícias.

A razão é que nem sempre um usuário de drogas morre pelo vício, mas esse rótulo acaba sendo levado para os inquéritos e são transformados em justificativas dos homicídios. Estava metido com droga. É isso que os delegados sempre falavam. É das piores muletas", critica Bodê.

O secretário da Segurança Pública do Paraná, Leon Grupenmacher, acredita que o tráfico de drogas não está menos violento, mas a polícia está mais preparada. Em entrevista por e-mail, o titular da pasta que gere as polícias no estado afirmou que o trabalho de inteligência da polícia repercute diretamente nos indicadores. "O tráfico de drogas está mais profissional, a violência corre junto com a droga. Os acertos de contas e as disputas pelos pontos continuam, mas o que existe hoje é uma maior fiscalização por parte das polícias", observa.

A influência do tráfico e do uso de drogas nos homicídios teve redução de 37% em Curitiba neste ano em comparação com 2011. O dado é de um relatório sobre motivação dos assassinatos feito pela Coordenadoria de Análise e Planejamento (Cape) da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) a pedido da Gazeta do Povo.

INFOGRÁFICO: Veja o índice de homicídio com algum motivo relacionado à droga

Segundo o documento, a Delegacia de Homicídios de Curitiba registrou, entre janeiro e setembro de 2011, 361 assassinatos com alguma relação com drogas, enquanto que no mesmo período de 2014 foram 224. Há quase quatro anos, os assassinatos com essa motivação representavam 67% do total de homicídios dolosos (com intenção de matar). Agora o número caiu para 50%. A base dos dados é o Sistema de Controle de Ocorrências Letais (Scol), que produz a estatística para a polícia.

Para o coordenador do Grupo de Estudos da Violência e Direitos Humanos da UFPR, Pedro Bodê, uma das principais hipóteses que podem explicar a queda é a adaptação do tráfico de drogas à repressão policial. Menos violência representa menos atenção para os "negócios". "Olhando para outras realidades, como São Paulo, é possível pensar que isso pode explicar o caso de Curitiba", ressalta. De acordo com o especialista, o fenômeno ocorreu em São Paulo em razão da articulação de uma facção criminosa, que também migrou para o Paraná, cuja atuação é intensa dentro e fora dos presídios. "O tráfico em São Paulo virou mais gerencial, onde os traficantes não querem o confronto. Já no Rio de Janeiro, por exemplo, é o oposto. Há o confronto entre eles", pondera. O sociólogo e ex-secretário da Segurança Pública de Minas Gerais, Luis Flávio Sapori, essa metamorfose do crime é uma hipótese possível, porém, ainda prematura em Curitiba, devido ao período curto de análise. "Pode acontecer, mas ainda é arriscado afirmar com certeza", comentou.

Outra explicação, segundo Bodê, é o fato de que o trabalho policial tem surtido efeito, principalmente no caso das saturações (quando operações são deflagradas em determinados locais para mostrar a presença dos agentes de segurança). Para o delegado adjunto da Delegacia de Homicídios de Curitiba, Cristiano Quintas, além do trabalho policial, a qualificação dos dados têm influência direta na mudança do panorama. Ele acredita que os delegados têm preenchido o relatório estatístico com apuração mais avançada sobre o crime. "O tráfico ainda é a principal motivação. [Há alguns anos] era cômodo lançar tudo isso na conta do tráfico", afirmou o delegado, contrariando as hipóteses dos especialistas.

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