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Curitiba – As reformas estruturais vêm em segundo lugar. Enquanto o país continuar a ser uma espécie de cassino, com juros exorbitantes para os especuladores internacionais, o setor produtivo continuará estagnado e a discussão sobre as reformas é perda de tempo. Essa é a opinião do cientista político Adriano Codato, professor da Universidade Federal do Paraná. Gazeta do Povo – Como você avalia o debate sobre as reformas?Adriano Codato – Antes de mais nada, é preciso notar que as tais reformas "estruturais" imaginadas como a solução para as taxas medíocres de crescimento econômico são reformas que dizem respeito apenas aos trabalhadores e aos seus direitos. O ponto, eu penso, é a relação que há entre o modelo econômico e o sentido, ou a atual falta de sentido, das reformas tributária, sindical, trabalhista e previdenciária.Como assim?Se não se olha a floresta, as árvores parecem desproporcionalmente grandes. Sem ver como funciona o modelo econômico brasileiro não se compreende que, ao menos por ora, a reforma tributária é disfuncional e as reformas trabalhista e sindical são irrelevantes. E a reforma previdenciária só é importante porque é mais um gasto social que retira recursos do sistema financeiro.O que deve vir, então, antes das reformas?Parte-se do diagnóstico, difundido à exaustão durante década e meia de hegemonia ideológica neoliberal, que todos os gastos sociais – e aí eu incluo os direitos trabalhistas – são despesa improdutiva; por outro lado, renda, juros e lucro são efeitos positivos de uma dinâmica econômica saudável. Pois bem, foi isso que levou o Brasil a pagar em 6 anos, R$ 1,2 trilhão de juros sobre a dívida pública. Que este tema não seja o centro do debate quando se fala sobre a suposta etapa desenvolvimentista do novo ciclo econômico é desconcertante. Por que esse enfoque é mais importante que o das reformas?A taxa de juros e mais meia dúzia de princípios econômicos sagrados, como metas estritas de inflação, livre variação cambial, superávit primário elevado, etc., paralisam a economia e arrasam com o setor formal. Os trabalhadores com-carteira não tem mais tanto peso nem político-eleitoral, nem econômico-social, os sindicatos que os representam, e que seriam os porta-vozes de suas reivindicações, perderam representatividade porque se submeteram ao governo Lula. A Previdência Social custa um terço do que se paga de juros ao ano. Ora, a forma de contornar os "problemas" derivados do "excesso" de direitos trabalhistas, de uma estrutura sindical arcaica e de um sistema de seguridade social estropiado foi justamente torná-los desimportantes. Em resumo, se a política econômica não mudar, essas reformas teriam apenas efeitos impopulares?As reformas são mais antipáticas, a exemplo das privatizações, que impopulares, no sentido próprio do termo. O "povo", isto é, a grande maioria da sociedade brasileira, não paga imposto de renda, não é sindicalizada, não recebe o décimo-terceiro, nem se aposenta com salário integral. Elas teriam um impacto sobre a classe média e os trabalhadores do setor de serviços.Por que Lula não mudou a política econômica como prometeu?Seis meses antes da eleição de Lula, em 2002, o especulador George Soros disse "ou Serra ou o caos", referindo-se ao então concorrente tucano José Serra. A equipe do PT teve de acalmar os ânimos do mercado e, acredito, não conseguiu por isso administrar essas pressões.

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