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Sistema curitibano: modelo, mas com ressalvas: população em silêncio | Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo
Sistema curitibano: modelo, mas com ressalvas: população em silêncio| Foto: Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo

Entrevista

Maya Emsden – diretora da Metro, a agência que coordena todo o sistema de transporte da região de Los Angeles, EUA.

Uma grande campanha de comunicação foi implementada em Los Angeles, a capital mundial do carro, para aumentar o número de usuários do transporte público e tentar reduzir a dependência do automóvel. A região tem quase 18 milhões de habitantes e possui o maior sistema de ruas expressas – várias pistas rápidas – em todo o mundo com mais de mil quilômetros desse tipo de via. Apesar disso, o resultado de atração dos usuários foi alcançado e o transporte de passageiros valorizado, segundo Maya Emsden – diretora da Metro, a agência que coordena todo o sistema de transporte público nos 70 municípios da região de Los Angeles.

A implantação de uma linha de BRT na cidade – Orange Line – integrada ao sistema de metrô fez com que o sistema tivesse 6 milhões de embarques, em média, nos primeiros meses.

Confira os principais trechos da entrevista feita com Maya.

Quais ferramentas de comunicação foram usadas por Los Angeles (LA) para atrair passageiros para o transporte público e reduzir a quantidade de automóveis nas ruas?

Fizemos uma campanha durante cinco anos, entre 2003 e 2008. Reunimos em uma só marca os diferentes gestores de transporte da região, de mais de 70 cidades do condado de LA, para ter um sistema de informação único, como atendimento a mídia, usuários, etc., trabalhando em conjunto. Fizemos também campanhas publicitárias, principalmente com outdoors, que têm um impacto muito grande na cidade. Como boa parte da população anda de carro, foi a forma mais eficiente. Incluímos anúncios em boletins de trânsito nas rádios, publicidade em jornais. O que gerou excelentes resultados também foi a contratação de agentes jovens para explicar como funciona nosso sistema de transporte nas universidades e escolas. Eles se tornaram advogados do sistema.

Qual o custo disso?

Nossa despesa com publicidade é de US$ 800 mil a US$ 1 milhão de dólares por mês.

Como a internet está sendo utizada?

Disponibilizamos ao Google Trânsito as informações do nosso sistema para dar como alternativa o metrô e o ônibus nas consultas de deslocamento na cidade através do Google Mapas. Disponibilizamos também um programa para os smartphones, cada dia mais utilizados, para consultar através de mapas como usar o sistema de transporte público. Além disso, cinco pessoas alimentam um blog, conectado ao Facebook, para contar sobre as viagens feitas pelo sistema. Milhões de pessoas usam o Google e somente milhares acessam nosso site, por isso paramos de tentar fazer as pessoas acessarem nosso site e trabalhamos com as "palavras-chave" no Google. Aumentamos nossa relevância nas buscas por informações de trânsito em Los Angeles.

Mensagens chilenas

Informação via celular

Santiago, capital do Chile, implantou o sistema de BRT Transantiago de um dia para o outro, em 10 de fevereiro de 2007. Causou tanta confusão na cidade que a data ficou conhecida no país como o dia do "big bang". Depois de um desastrado plano de comunicação sobre o novo modelo de transporte público, os gestores investiram em formas de atender as demandas dos usuários. Segundo o coordenador-geral de transporte de Santiago, Raimundo Cruzat Correa. um desses serviços utiliza as mensagens de texto pelo celular – conhecidas como SMS - como plataforma de informação.

"Depois de uma pesquisa, entendemos que as pessoas não queriam saber o horário certinho em que o ônibus iria passar, mas quanto tempo iria esperar o próximo ônibus", relatou. Com base nisso, criou-se um sistema capaz de calcular em quanto tempo passará o próximo veículo de acordo com o histórico de informações da linha em cada dia da semana. E o tipo de horário, com dados coletadas através de aparelhos de GPS. O passageiro precisa enviar via SMS com o nome do ponto e a linha que precisa. O sistema envia uma mensagem em menos de cinco segundos com a previsão de espera.

O Transantiago faz 4,5 milhões de viagens por dia e teve 8,5 mil consultas via mensagem de texto no primeiro mês, quando o serviço era de graça. Atualmente, cerca de 4 mil SMS são respondidos diariamente. Correa contou que o custo de toda a tecnologia de comunicação – que envolve outras ações além do celular – é equivalente a 2% da arrecadação do sistema.

RIO DE JANEIRO - Não basta ter um bom transporte público, que faça deslocamentos de forma rápida, eficiente, com frequência regular de carros e que utilize veículos bonitos e bem conservados. Os que vivem nas grandes cidades precisam entender o sistema e serem ouvidos constantemente para informar aos planejadores e gestores o que está dando certo na prática.

Esse foi o conceito de transporte coletivo apresentado por seis cidades estrangeiras e brasileiras, em evento, semana passada, no Rio de Janeiro. As cidades participantes tinham em comum ter copiado o sistema de BRT (Bus Rapid Transit) de Curitiba – ônibus em canaletas, cobrança antecipada da passagem e embarque em nível. Porém, deram um passo a mais e modernizaram a comunicação com a população para aumentar o número de usuários.

A discussão é importante para a capital paranaense, que convive com a esquizofrenia de ser referência em transporte público, ambicionando sistemas rápidos como o metrô, mas que convive com congestionamentos cada vez maiores. Além de ser a cidade mais motorizada do país em relação à população: Curitiba tem dois veículos para cada três pessoas, uma proporção de 0,72 veículo por habitante, o dobro da média brasileira de 0,35 carro por pessoa.

As experiências de interação com o público foram apresentadas durante dois dias de workshop por administradores e planejadores de transporte público. Representantes da Urbanização de Curitiba (Urbs), que administra o sistema de ônibus de Curitiba, estavam presentes, mas não apresentaram nenhuma experiência bem-sucedida de comunicação.

"A gente teve dificuldades de investimentos, mas tivemos evolução, como é o caso do Ligeirão. Com certeza vamos ter de trabalhar a questão da comunicação com o usuário e desenvolver projetos", admitiu a diretora de Relacionamento e Informações Corporativas da Urbs, Regina Neves Sorgenfrei, presente no encontro.

A capital paranaense, por exemplo, nunca fez uma pesquisa de Origem e Destino, a principal técnica usada há décadas por planejadores de transporte público em todo mundo para entender que tipo de transporte, os horários mais carregados e quais os principais deslocamentos que a população faz diariamente. Se os arquitetos, engenheiros e técnicos da Urbs e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) ouvirem os usuários eles poderão descobrir informações que nem imaginam, apesar da cidade ser referência desde a década de 70 em transporte de massa.

"É muito comum as cidades não terem planejamento e dinheiro para fazer marketing do transporte público. E a gente está desperdiçando uma oportunidade", resume Ethan Arpi, gerente de comunicação e marketing da Embarq, uma organização internacional que pretende incentivar a implantação de metrôs e e BRTs como meios de transportes menos poluentes. A Embarq organizou o encontro.

Segundo Arpi, é importante ouvir os usuários para melhorar o que não está funcionando bem, mas principalmente saber o que está dando certo e destacar os pontos positivos e com isso garantir o financiamento de novos projetos de transporte. "Se os governos não acreditarem que o sistema é bom, não colocam dinheiro."

Custo e "cases"

Parte das discussões aconteceram em torno dos custos de planos de marketing para as empresas que gerenciam os transportes públicos. Porém, grande parte das ações apresentadas dependem mais de iniciativa dos gestores do que dinheiro para fazer publicidade.

Na cidade de Pereira, 480 mil habitantes, capital da província de Risaralda, no Oeste da Colômbia, os administradores do MegaBus – um sistema de BRT – participam frequentemente de ações de marketing junto à população. "Não dá para ficar só no escritório e imaginar o que as pessoas pensam e como o sistema funciona", relata a gerente-geral do MegaBus, Mónica Vanegas Betancourt. "É preciso ter um bom desenho técnico (do sistema de ônibus), mas não é o único fator (para atrair usuários)", afirmou.

A coordenadora de comunicação da diretoria geral de mobilidade da cidade de Leon no México, Elda Flores Arias, salientou a importância de bons mapas para orientar os passageiros cotidianos e eventuais do sistema de ônibus. "Temos milhares de usuários e temos que ouvi-los. Cada linha tinha de ter um mapa", resumiu.

O repórter viajou a convite do Centro de Transporte Sustentável no Brasil (CTS-Brasil)

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