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Fotos: Valterci Santos/Gazeta do Povo |
Fotos: Valterci Santos/Gazeta do Povo| Foto:

Quem é ele

Um dos maiores especialistas brasileiros na área educacional, Cláudio de Moura e Castro é economista, escritor, mestre em Educação e Ph.D em Economia. Possui mais de 30 livros publicados e é articulista da revista Veja. Ele se graduou em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, fez mestrado em Yale e doutorado em Vanderbilt, nos Estados Unidos. Foi chefe da Divisão de Programas Sociais do Banco Mundial e no final de 2001 assumiu a presidência do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras. Passou a integrar, neste mês, a equipe do Grupo Positivo.

Entrevista com Cláudio de Moura e Castro, economista e especialista na área educacional

Na opinião do educador e articulista da revista Veja Cláudio de Moura e Castro, o grande desafio da educação brasileira não é técnico. O problema está na relação que a sociedade mantém com a área educacional. O argumento está fundamentado nas pesquisas feitas com eleitores durante as campanhas, que indicam que poucos colocam a educação como prioridade. Para Moura e Castro, nenhum governo irá aumentar o investimento em educação se não for cobrado pela população. "O grande drama da educação brasileira é que os pais acham-na boa e não lutam para melhorá-la", diz.

O articulista, autor de mais de 30 livros, mudou-se para Curitiba e passou a integrar a equipe do Grupo Positivo. Como assessor da presidência, ele irá atuar como consultor nas diversas atividades desenvolvidas pelo grupo. Especialista em educação há mais de 30 anos, Moura e Castro concedeu entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, na qual fala sobre o novo Enem e a política educacional que vem sendo adotada pelo governo federal. Leia abaixo trechos da entrevista.

Os índices nacionais e educacionais sobre a educação brasileira são baixos. Como o senhor avalia essa situação?

Medimos com grande precisão como a nossa educação é ruim. Essa ideia de que a educação brasileira está em crise é uma grande bobagem. A diferença, se compararmos com o que ocorria há 50 anos, está no acesso. As escolas estão cheias. Mas oferece-se a mesma coisa: educação ruim, para um universo culturalmente misturado.

Qual seria a solução para melhorar?

São mil pequenas soluções. A primeira é levar educação a sério. Cuidar, acompanhar. O grande desafio da educação brasileira não é técnico, mas político. Os administradores oferecem à sociedade aquilo que ela quer. Quando vemos as pesquisas de opinião, a educação não é prioridade. O grande drama da educação brasileira é que os pais acham-na boa. A sociedade está contente porque tem vaga, tem merenda, tem livro, tem quadro negro, tem tudo, em termos de infraestrutura, que deveria ter uma escola.

Com relação aos professores, o senhor é a favor do pagamento de bônus por desempenho, a chamada meritocracia?

Sou. Virtualmente em tudo que a gente faz no setor privado, infinitamente mais eficiente que no público, tem algum tipo de prêmio para quem faz certo e um puxão de orelha para quem faz errado. Só na educação que isso não ocorre.

O plano nacional dos professores, lançado recentemente pelo governo federal, deve resolver o problema da má formação?

É preciso fazer alguma coisa. Agora se o Fernando Haddad [ministro da Educação] acertou na receita ou não, é outra coisa. O mais interessante foi estabelecer uma nota mínima no Enem para que o estudante seja aceito nos cursos de Pedagogia.

Mas não seria preciso criar um estímulo maior para que o jovem queira ingressar na carreira do magistério?

Para um estudante pobre, ganhar uma bolsa de estudos é um grande estímulo. Ao invés de ele estudar Administração, vai ser professor porque não tem que pagar nada para a faculdade.

Aumentar o salário dos professores melhoraria a qualidade do ensino?

Não. Em lugar nenhum salário de professor se relaciona com qualidade de ensino. Alguns dos estados que têm os maiores salários não têm uma educação de qualidade. Se aumentar os salários resolvesse, os sistemas de ensino que pagam os maiores salários deveriam ser os melhores.

Qual é a sua análise sobre o novo Enem?

O novo Enem não veio para melhorar o processo de seleção de faculdades e universidades. Nas grandes universidades federais e na USP e Unicamp, o processo é muito bom. Os exames são benfeitos e têm saído cada vez mais do decoreba. Unificar o vestibular não vai fazer a menor diferença, facilita um pouco sobre essa questão dos estudantes terem que prestar muitos vestibulares em locais diferentes.

No que o novo Enem faz diferença?

Na sinalização que ele manda para o ensino médio. O ensino médio está escravizado pelo vestibular da universidade pública mais próxima, que é feito com o único objetivo de selecionar os melhores. Ao fazer isso, inclui um colosso de matérias, de perguntas, é currículo para gênio. Com isso, as escolas e cursos veem a gama enorme de conteúdos e incluem tudo no ensino médio. O resultado é um ensino que não dá conta de fazer o aluno aprender. Os vestibulares, mesmo que não sejam para decorar fórmulas, entram em detalhes que ninguém precisa saber.

Como tornar o ensino médio mais atraente e combater a evasão?

O ensino médio é o mais enguiçado porque é péssimo. O vestibular obriga a colocar tanta coisa, tão complicada e tão difícil, que nada tem aplicação prática. Por isso, uma das tentativas do Enem é enxugar o currículo. Aí que reside o perigo.

Qual é a sua opinião sobre a ampliação da obrigatoriedade do ensino fundamental de 9 para 14 anos?

A questão é se adianta ampliar o atendimento de escola ruim. Outra coisa é que não há clareza sobre o impacto positivo da pré-escola. Uma pré-escola ruim não presta outro serviço a não ser de funcionar como estacionamento de criança. Sem contar que tornar obrigatório esse ensino médio ruim será uma tortura para os meninos.

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