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Aos poucos, a rotina se normaliza no Educandário São Francisco, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, depois da noite e madrugada de terror, quando 79 adolescentes da ala B da instituição se rebelaram, matando J.C.P.S., 17 anos, e fazendo seis educadores reféns.

Por volta das 23 horas de segunda, o motim começou em dois alojamentos na ala B, que abriga internos que cometeram atos infracionais de média gravidade. Cerca de 16 adolescentes "seguros" – aqueles que necessitam de local especial e que não podem se misturar aos demais pelo risco de conflitos – se rebelaram, invadindo os outros sete alojamentos da ala, estourando cadeados, arrancando grades, quebrando vidros e fazendo seis educadores reféns, com a ajuda de "estoques" (armas improvisadas).

O adolescente J.C.P.S., um dos "seguros" rebelados, foi morto pelos colegas quando tentava fugir por um buraco na parede que dá acesso ao pátio. "Ele estava há apenas uma semana aqui, acreditamos que foi morto por conflitos preexistentes", afirma a diretora da unidade, Solimar de Gouvêa. Segundo ela, o adolescente assassinado não tem laços familiares e morava na rua antes de se tornar interno da instituição.

O confronto cessou três horas depois de iniciado, depois que a tropa de choque da Polícia Militar foi chamada. Os internos aceitaram negociar e exigiram a presença de representantes da Promotoria de Infância e Juventude, do Conselho Tutelar e da imprensa. As negociações foram rápidas e os reféns libertados. Os internos foram revistados e encaminhados para um ginásio no próprio educandário, onde passaram a noite.

De acordo com policiais que participaram das negociações, os adolescentes não tinham reivindicações definidas – alguns pediam para ser transferidos, outros pediam a entrada de cigarros. "Eles estavam dispersos", afirma o major da PM, Milton Fadel.

O delegado-titular de Piraquara, Hertel Rehbein, diz que vai instaurar inquérito policial para apurar o envolvimento, na rebelião, de adultos que cumprem medidas sócio-educativas na unidade. Além disso, um boletim de ocorrência circunstanciado será aberto para apurar a responsabilidade sobre a morte do adolescente morto. "Hoje (ontem) ouvimos os adolescentes e fizemos perícia no local. Todos os internos da ala B são objeto de investigação, queremos descobrir quem são os líderes", afirma Rehbein.

Repercussão

Para a presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da seccional do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, Márcia Caldas, a rebelião pode ter sido causada porque alguns fatores de risco que tinham sido apontados pela Ordem não haviam sido regularizados: "Lutamos por uma nova metodologia para os adolescentes".

Para o promotor de Justiça de Adolescentes Infratores, Salvari José Dias Mancio, a rebelião foi um fato isolado. "Alguma liderança negativa tinha uma indisposição contra alguém e jogou o grupo contra aquela pessoa. O Iasp (Instituto de Ação Social do Paraná) está fazendo um bom trabalho", opina.

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