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Reunião de lideranças jovens católicas no Colégio São José, em Curitiba: engajamento e piedade | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Reunião de lideranças jovens católicas no Colégio São José, em Curitiba: engajamento e piedade| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Estatística e fé

Confira discussões suscitadas por pesquisas que enfocam juventude e religião:

1 - De acordo com a cientista social Regina Novaes, da UFRJ e ex-presidente do Conselho Nacional da Juventude, a diminuição porcentual de católicos (de 83,76% em 1991 para 68,4%, de acordo com a FGV, em 2009), o aumento dos evangélicos pentecostais (de 9% para 12,8%) e a crescente parcela dos sem religião (de 4,8% para 6,7%) são as principais mudanças do cenário religioso brasileiro. Além do secularismo crescente, a marca do início do século 21 no país são os novos sincretismos.

2 - O Censo 2000 apontou a tendência de haver mais jovens entre os que se declaram sem religião – 9,3% contra 7,4% da população em geral. Pesquisas posteriores, como a Projeto Juventude/Instituto Cidadania, de 2003, mostraram que 10% dos jovens se diziam sem religião, sendo que 9% desses afirmavam acreditar em Deus. Para Regina Novaes, a declaração pode ser motivada por um "momento da vida" ou "afirmação".

3 - Na pesquisa Jovens do Rio, desenvolvida por Regina Novaes em 2001, apenas 50% dos entrevistados declararam ter sofrido influência da família na escolha da religião. A conclusão da antropóloga é que as escolhas são cada vez mais pessoais, ou por influência dos amigos.

4 - Os dados de religião do Censo 2010 indicam que os católicos devem continuar a perder em porcentagem. A questão é numérica. Os evangélicos crescem na parcela da população que apresenta maior índice de natalidade. Já os católicos se concentram numa parcela da população mais estável socialmente.

5 - Na opinião do economista Marcelo Neri, a perda mais significativa da Igreja são as mulheres. Elas são mais religiosas, transmitem mais a tradição para os filhos. As mudanças pelas quais passaram – no casamento, na sexualidade, no mundo do trabalho – tendem a fazer com que se identifiquem menos com o catolicismo, que lhes soa patriarcal, ainda que não com a religiosidade. (JCF)

  • Alexander Cordeiro Lopes, o padre Alex, do Setor de Juventude: há cinco anos ele lidera área da arquidiocese que atinge diretamente 50 mil jovens

O farto bolo de chocolate com refrigerante e a imagem de Nossa Senhora das Graças denunciam que se trata de um encontro de jovens católicos. Diferente de outros tempos, o datashow no lugar do retroprojetor, a presença de pelo menos uma dezena de "times" cristãos e a agenda com hora para começar e para acabar. Assim como os adultos, afinal, quem tem entre 14 e 29 anos só vai em reunião se souber que horas acaba.

O encontro de 20 lideranças acompanhado pela reportagem no Colégio São José, no Abranches, em Curitiba, dá bem a medida dos rumos da juventude católica. O setor, como agora chamam, está mais universal e eclético, o que transparece a cada instante. Joyce, Rodrigo, Lorença, Carol podem ser de bairros ricos e pobres, do Cabral ao Sítio Cercado. E de espiritualidades distintas.

Em pouco mais de três horas de reunião eles dariam conta da Copa de 2014. Trataram de como vão se engajar na Jornada da Juventude de 2013 no Brasil, da Campanha da Fraternidade de 2012 e do próximo DNJ – o Dia Nacional da Juventude, daqui uns dias: todos temas estruturais. "Vai ter banda?", perguntou um sobre o DNJ. Risos. "Quero vídeo e pipoca", disse outro. São jovens e não escondem que os grandes eventos assustam quem faz estágio, estuda ou já procura emprego. "Um voluntário para ir atrás da autorização da prefeitura?" – 30 segundos para responder.

De repente alguém brinca. Alguém passa a cesta de pirulitos para relaxar. Ao final dos debates, as conclusões sempre passam por ações nas redes sociais – "que todo muito frequenta e exige menos gasto de papel". E pela eterna dificuldade em "dobrar o vigário". A resistência de alguns padres em abrir espaço para as pastorais juvenis é tratada com parcimônia, mas sempre escapa num gracejo aqui e ali. Alguém fala em "sensibilização do clero". Outro em "como é que se faz isso?" E assim vai.

Espiritualidade

A espiritualidade não fica para a hora de dormir. Embora a conversa sempre passe pelo assembleísmo, votação, discussão na base, articulação com esse ou aquele grupo, raro o tema que não ganhe como proposta mais oração. Uma jovem pede que se faça um Kerigma – uma evangelização de três minutos na rua. Outros insistem em perguntar, a cada item da agenda: "O que fala mais forte ao nosso coração?" Na eterna: "É só a gente querer." Ou na fatal: "Gente, peraí, estamos pensando como adultos."

Qualquer um que já tenha participado de um grupo juvenil em décadas passadas se sente em casa, ainda que meio perdido com tantas denominações: além dos Focolares e Carismáticos, já famoso, há o Gabaon, Neo­catecumenato, o Festelê, o Regnum Christi... Os jovens de ontem também estranhariam expressões hoje correntes como "gerenciamento" e "políticas públicas".

E não falta erudição. Um jovem avançado na pastoral, com participação aqui e ali, fala em Didascalia, para surpresa geral: "Eu sou teólogo, velho". Risos de novo. Pastoral da Juventude é cultura.

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