• Carregando...

Há oito anos, uma dor de cabeça infernal aproximou o cardiologista Marino Comazzi Júnior, 56 anos, da acupuntura. De paciente tornou-se especialista na área e autoridade no assunto. E bota autoridade nisso. Dono de uma clínica em que faz cerca de 14 mil atendimentos de acupuntura ao ano, o médico dirigiu até há poucos dias a Associação Paranaense de Acupuntura, junto à qual firmou suas posições: que não se espere dele nenhuma concessão aos terapeutas informais. Considera essa prática, inclusive, caso de polícia. "É ilegal. É crime", protesta.

Para Comazzi, há um certo romantismo em torno das origens históricas e ocidentais da acupuntura, o que a remete à figura dos "médicos descalços", operando curas em longas distâncias pelo interior da China. "Hoje, a acupuntura é baseada na neurociência e na neurobiologia, não é conhecimento empírico. É um erro se referir a ela como uma prática alternativa", comenta o médico, para quem o debate em torno da 971 só merece uma palavra – oportunismo. "É lobby. A portaria é bem clara. O que é função do médico é do médico", define.

O médico vê perigos a granel na atuação dos leigos, como derrame articular e perfuração de pulmões. São riscos desnecessários numa área que atraiu 2.500 candidatos na última prova nacional de especialista, com aprovação na casa dos 25%. "Acho uma temeridade essa portaria, pois ela não é clara. Não sabemos como ela funciona. É demagógica e eleitoreira", acrescenta o angiologista José Fernando Macedo, 56 anos, presidente da Associação Médica do Paraná.

Macedo sugere mobilização da categoria, a exemplo de outras associações brasileiras, descontentes com as leituras equivocadas da 971, conforme registra o site da Associação Médica Brasileira. "Minha previsão é de que o risco de termos pessoas despreparadas nessa área vai aumentar. É caso para o Ministério Público", defende.

O médico Jaques Aizental, especialista em reprodução humana do Hospital de Clínicas e acupunturista, não poupa senões à chegada dos novos acupunturistas e fitoterapeutas, venham de onde venham. Compara a futebol: todo mundo tem algo a dizer. Já na hora de jogar... "Você já viu a quantidade de livros sobre ervas disponíveis nas livrarias? Esse negócio é como ler um deles e sair receitando chás", afirma.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]