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Projeto Walk Again envolve 156 cientistas de 25 países, com dinheiro do Brasil e dos EUA | Paulo Whitaker/Reuters
Projeto Walk Again envolve 156 cientistas de 25 países, com dinheiro do Brasil e dos EUA| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Perfil

Sobre ganhar o Nobel, Nicolelis diz: "Mais fácil Palmeiras campeão"

Formado em Medicina pela USP e professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis é frequentemente apontado como favorito para se tornar o primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Nobel. Perguntado sobre a possibilidade, o palmeirense roxo, que não tirou o boné do alviverde em nenhum momento da entrevista, faz graça. "É certamente bem mais fácil o Palmeiras ser campeão", ri, antes de dar de ombros para a premiação sueca. "Existe um certo fetiche por prêmios no Brasil, é parte, num certo sentido, do nosso complexo de vira-lata, que saiu do futebol, mas não saiu de vários aspectos da nossa cultura", comentou o cientista, que tem em Santos Dumont uma grande inspiração.

"Cientistas que eu conheci na minha carreira que não ganharam o Prêmio Nobel, fenomenais, nunca perderam o sono da noite, porque eles sabem que a contribuição deles vai entrar para a história, a despeito do que um grupo de pessoas decida na Suécia."

O neurocientista, que mostra seu patriotismo com uma bandeira do Brasil sempre ao lado do exoesqueleto e com fotos da seleção brasileira espalhadas pelo laboratório, manifesta confiança na realização da Copa e vê um "pessimismo exacerbado" vigente hoje no país.

Reclama ainda do fato de que algumas pessoas "jogaram contra" seu projeto no Brasil, e atribui o fato à uma "polarização" que o país vive sem, no entanto, entrar em detalhes.

Nicolelis, de 53 anos, guarda ainda um grande segredo: usará ou não o inseparável boné do Palmeiras diante de 68 mil torcedores na Arena Corinthians, estádio do maior rival do alviverde?

"Essa é a pergunta mais importante de todo projeto. É a pergunta que aterroriza o meu pai corintiano", brinca. "Vou deixar em segredo isso, até o momento final."

Vídeos

Confira alguns vídeos projeto Walk Again.

Colocar um paciente paraplégico para caminhar dentro de campo e dar o pontapé inicial da Copa do Mundo no Brasil será apenas o primeiro passo de um projeto que continuará a ser desenvolvido, com o objetivo de ajudar pessoas com paralisia a andar novamente, afirmou o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.

À frente de uma equipe de 156 cientistas de 25 países, Nicolelis está concentrado na reta final para a demonstração na abertura do Mundial, em 12 de junho, quando um paciente paraplégico caminhará pelo campo da Arena Corinthians usando uma estrutura robótica chamada de exoesqueleto e dará o pontapé inicial da partida entre Brasil e Croácia.

"A demonstração da Copa é simbólica... Não é ciência. A ciência nós fizemos aqui [no laboratório]. É quase que um presente do Brasil para a humanidade, mas é só o começo, é um primeiro passo, literalmente", disse o neurocientista no laboratório instalado desde novembro na zona sul de São Paulo.

"O intuito, a longo prazo, de toda a rede Walk Again (Andar de Novo) pelo mundo afora, é criar tecnologias que possam ser usadas pelos pacientes. Não só o exoesqueleto, existem outras tecnologias em que estamos trabalhando", acrescentou. Os oito pacientes que participam do projeto já caminharam com o exoesqueleto, usando comandos cerebrais.

Eles também passaram pelo o que Nicolelis chama de "treinamento cerebral", em um sofisticado simulador em que os pacientes comandam os movimentos de um avatar na tela e recebem, por meio de sensores táteis, a sensação de estarem caminhando.

Para realmente deixá-los preparados a abertura do Mundial, o som ambiente é o de uma barulhenta torcida. "[A ideia] é fazer o cérebro imaginar que as pernas funcionam de novo", explica o cientista sobre o simulador, que foi testado, inclusive, pelo ex-atacante da seleção brasileira Ronaldo, numa visita que fez ao laboratório de Nicolelis.

Após este treinamento cerebral, os pacientes passaram a usar o exoesqueleto, ferramenta que permitirá não apenas que eles andem novamente usando os comandos cerebrais, mas também que sintam a sensação de caminhar, graças a uma "pele artificial" coberta por sensores, que vai revestir o aparelho.

E a equipe de Nicolelis já mira melhorias no exoesqueleto, como a redução do peso dos atuais 70 quilos para 50 quilos, já antes da abertura da Copa, e num prazo um pouco maior, a inclusão de braços no aparelho para que ele também seja usado por pacientes tetraplégicos.

O projeto Walk Again teve sua ciência básica – experimentos em animais, por exemplo – financiada pelo National Institutes of Health (NIH), órgão do governo dos Estados Unidos que é a maior agência de pesquisa biomédica do mundo. A fase clínica, que está sendo feita no Brasil, tem financiamento de R$ 34 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa de fomento à pesquisa ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

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