Saúde foi a vertente em que Curitiba teve melhor resultado| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Índice Firjan revela cidades que ainda não entraram no século 21

Agência O Globo

Mesmo com as transformações sociais e econômicas da última década, alguns municípios do Brasil ainda não chegaram ao século 21. O dado é do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). De acordo com o estudo, os 500 municípios com menores IFDMs estavam, em 2011, 13 anos atrás dos 500 na liderança do ranking. O índice analisa três áreas (Educação, Saúde e Emprego e Renda) e varia entre 0 e 1. Quanto mais perto de 1, melhor.

Segundo o levantamento, em 2011, o IFDM do Brasil foi de 0,7320 pontos, 1,8% maior do que em 2010. Os indicadores de Saúde e Educação melhoraram em 65% e 81% das cidades, respectivamente. O indicador Emprego e Renda, no entanto, recuou: em 2011, a geração de empregos foi 23% menor do que no ano anterior.

Mas, ainda que o país tenha avançado, a desigualdade entre as regiões cai em ritmo lento. Sul e Sudeste concentravam as cidades com maiores índices de desenvolvimento. São Paulo ocupava as dez primeiras posições do ranking. Entre as capitais, o Rio aparecia em 9.º lugar, tendo atingido status de alto desenvolvimento. O Centro-Oeste, pela primeira vez, não teve nenhuma cidade com baixo desenvolvimento. Mas Norte e Nordeste tinham apenas três cidades com alto desenvolvimento: Palmas, no Tocantins, e Euzébio e Sobral, no Ceará. Os últimos dez colocados no ranking geral eram dessas regiões.

Santa Rosa do Purus, no Acre, com pouco mais de quatro mil habitantes, segundo o Censo 2010, tinha a pontuação mais baixa do Brasil. De acordo com o estudo, por lá, a nota média do Ideb era 24,4% inferior à nota média nacional. Na Saúde, a taxa de óbito de menores de 5 anos por causas evitáveis foi quase quatro vezes maior que a média nacional. Além disso, entre 2008 e 2011, a geração de emprego formal no município foi nula.

"Mesmo com o país tendo avançado, são dois brasis. Houve uma mudança significativa entre 2000 e 2010, mas o Brasil ainda tem desafios, quando comparado com o mundo e também com as regiões mais desenvolvidas do país", diz Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos da Firjan.

Médica e professora da UFRJ, Ligia Bahia acredita que, para diminuir a disparidade regional, é necessário que haja prioridade orçamentária e de recursos humanos. "Sem planejamento, sem articulação entre o social e o crescimento econômico, essa desigualdade não acaba. Não adianta só repassar verba, não pode ficar mais achando que política social é melhorar renda e só. Se melhora a renda e não melhora, por exemplo, a qualidade da Saúde oferecida, em algumas cidades a pessoa vai continuar morrendo sem diagnóstico. Diminuir a disparidade é dar também mais chance de sobrevivência, de uma vida melhor."

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Dificuldade

Municípios do fim da lista não conseguem evoluir

Na outra ponta da tabela, os municípios que apresentam os piores resultados de desenvolvimento no Paraná mostram que é difícil evoluir. De 2010 para 2011, seis das dez piores cidades continuam nessa lista, apenas com algumas trocas de posição. São Jerônimo da Serra, Cândido de Abreu, Nova Laranjeiras, Curiúva, Santa Maria do Oeste e Doutor Ulysses são o retrato de onde o desenvolvimento não consegue chegar. Cinco cidades com os piores desempenhos conseguiram evoluir ante a última pesquisa. Por outro lado, os recuos expressivos registrados ocorreram principalmente pela falta de oportunidades de emprego na região.

O que é?

• O Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) foi criado em 2008 para monitorar o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros e analisa três vertentes fundamentais ao desenvolvimento humano: Educação, Saúde e Emprego & Renda. Veja o que é analisado em cada vertente:

• Emprego & Renda: Geração de emprego formal, absorção da mão de obra local, geração de renda formal, salários médios do emprego formal e desigualdade

• Educação: matrículas na educação infantil, e no ensino fundamental o abandono, distorção idade-série, docentes com ensino superior, média de horas aula diárias e resultado do IDEB

• Saúde: número de consultas pré-natal, óbitos por causas mal-definidas, óbitos infantis por causas evitáveis e internação sensível à atenção básica (ISAB)

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A quantidade de cidades com alto desenvolvimento no Paraná triplicou em sete anos. É o que mostra a sexta edição do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), referente aos dados de 2011, e que analisa as vertentes de saúde, educação e emprego e renda. Quando a medição começou, em 2005, o Paraná tinha sete cidades com indicador superior a 0,8, número que passou para 25 em 2011.

INFOGRÁFICO: Veja os municípios com os melhores indicadores Firjan

A Gerência de Economia e Estatística da Firjan atribui esse salto de desenvolvimento dos municípios paranaenses ao fato de que nesse período 346 das 399 cidades apresentaram evolução no IFDM, sobretudo em educação. Para Daniel Nojima, economista e diretor do departamento de estatística do Ipardes, o avanço do estado refletiu um bom momento da economia a partir nesse período, que permitiu avançar em todos os indicadores.

Pela primeira vez Curi­­tiba assume a liderança do ranking estadual, antes revezada entre Maringá e Apu­­carana. Nojima observa que a capital alcançou o mesmo patamar que as duas cidades do interior já haviam chegado, mas conseguiu desenvolver ainda mais. "Esse avanço de Curitiba é pelo forte crescimento econômico. A cidade cresceu demais nesse período e diminuiu a taxa de desemprego", comenta.

Embora a capital tenha avançado, o IFDM aponta que o estado patinou na vertente de emprego e renda. Para a Firjan, 2011 foi marcado pelo arrefecimento da atividade econômica, com menor geração de emprego e crescimento da renda na maioria dos municípios brasileiros, o que influenciou o Paraná, pois 187 municípios tiveram resultados piores do que o de 2010.

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Nojima avalia que a questão do emprego é muito pontual. Os dados de trabalho apontam a criação de 140 mil empregos de 2010 para 2011. "Como o interior do estado é muito agrícola, nesse ano a safra de grãos caiu um pouco e os municípios menores acabam sofrendo."

Saúde e educação

O melhor resultado do estado foi na vertente de saúde, em que há mais municípios bem posicionados. Duas cidades paranaenses estão entre as dez melhores do país no segmento: Cambira e Serranópolis do Iguaçu. Em comum, elas têm população pequena, mas para a Firjan essa relação não é determinante para o bom resultado.

Em educação, a redução da distorção idade-série elevou a maioria das cidades de patamar. Para Nojima, a melhora nos dois indicadores tem a ver com demografia, que provoca um efeito estatístico nesses municípios. "A redução no crescimento demográfico do país influencia até a demanda por escolas, por exemplo."

Mandaguari dá exemplo com formação e ensino integral

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Única cidade do Paraná a superar a barreira do 0,9 de índice na vertente educação, Mandaguari, na região Noroeste, investe para valer no setor. Para alcançar a marca de 0,9127 no IFDM, a cidade de 34 mil habitantes aposta em várias estratégias, com foco na ampliação do ensino integral, cobertura de atendimento em educação infantil e formação continuada dos professores.

A secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer do município, Adenise Batista Rodrigues, é professora de carreira da rede municipal. Ela conta que o município luta para zerar a fila de crianças à espera de uma vaga na escola. "Temos uma lista de espera, mas estamos nos organizando para até julho vencê-la e atender a todas as crianças de 0 a 5 anos", conta.

Outro fator que influencia o bom desempenho na vertente é o ensino integral, que começou a ser implantado em 2011. Mandaguari tem nove escolas de educação infantil e seis trabalham em regime integral. O mesmo ocorre no ensino fundamental: de seis unidades, metade trabalha em período integral.

Embora haja evasão escolar, a cidade trabalha em conjunto com a promotoria para buscar esses alunos que abandonaram a sala de aula. Além disso, há investimento em formação continuada e gratuita aos professores, e um bom plano de carreira. "É um trabalho que tem várias estratégias", diz.

A melhor capital

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Além de assumir a ponta do ranking estadual, Curitiba apresenta o melhor resultado entre todas as capitais. Com o índice geral de 0,8637, a cidade garantiu o bom resultado sobretudo pelo desempenho na vertente saúde, que ficou com média 0,9693. Na sequência, veio educação (0,8294) e emprego e renda (0,8048). O desempenho também garantiu a Curitiba a 29.ª posição entre todas as cidades do Brasil. E a capital não quer estacionar. "Queremos saber quem está na nossa frente, com quem temos de aprender", diz Gina Paladino, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento. Ela conta que essa técnica de benchmarking já trouxe bons resultados na área de tecnologia e economia criativa. A intenção é explorar mais os bons exemplos para trazê-los para a cidade.