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O casal Haroldo e Ana Marisa não esconde a ansiedade de se mudar para o novo apartamento no Ganchinho: população do bairro vai dobrar até o fim do ano | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
O casal Haroldo e Ana Marisa não esconde a ansiedade de se mudar para o novo apartamento no Ganchinho: população do bairro vai dobrar até o fim do ano| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Origem

Habitantes mais antigos vieram de várias regiões do Paraná

O ar de cidade pequena do Ganchinho não está apenas na tranquilidade que ainda impera em muitas ruas, mas nas características de seus moradores, muitos deles vindos do interior do Paraná. Ivonete Aparecida da Silva, 32 anos, fez uma pequena jornada pelo Paraná. Nasceu em Capitão Leônidas Marques, na Região Sudoeste, foi adotada por uma família e viveu em Francisco Beltrão até os 14 anos, quando, por causa de dificuldades financeiras, transferiu-se para Curitiba. Na capital, morou primeiro no bairro Uberaba e teve a oportunidade de trabalhar em um salão de beleza. Há oito anos no Ganchinho, em 2010 ela se tornou proprietária de um salão no bairro. "Nem imaginava que teria isso quando cheguei aqui, sem estudo", comenta, enquanto termina de fazer o penteado em uma cliente.

Comércio otimista

É a mesma reação de Adilson de Souza, 40 anos, dono de uma estofaria há seis anos e morador do bairro. Mecânico em oficinas de Guaíra, no Oeste do estado, hoje ele tem o próprio negócio no Ganchinho. "No interior, a gente encontra muita gente para pouco serviço. Cheguei a trabalhar 15 anos na mesma empresa, mas não tinha expectativa de crescer."

Em 2002, o comerciante João Barbosa, junto com a esposa Neide Barbosa, vieram de Ivaiporã, na Região Central, direto para o Ganchinho com o objetivo de fazer a vida na capital. "Aqui vem pessoas de todo lugar que vão se agregando com o tempo. Eu vim mais por causa da minha filha, para os estudos dela", recorda. Com a chegada de novos moradores, ele ao menos espera que aumente o movimento na sua panificadora, que fica na rua de acesso a um dos novos loteamentos da Cohab.

10 mil pessoas vão se mudar para o Ganchinho até o fim do ano com a entrega de 11 conjuntos residenciais da Companhia de Habitação Popular de Curitiba.

Declarações

"Eles têm medo que aumente a criminalidade. É o medo do novo, mas tudo se ajeita. O bairro está crescendo. Já falei isso com alguns deles."

Ana Marisa de Campos da Rosa Passos, educadora e uma das novas moradoras do Ganchinho.

"Não sabemos quem são as pessoas que vêm pra cá, se tem boa índole. Acredito que são poucos os que vão realmente ficar aqui, pois muitos devem vender as casas e sair."

Adilson de Souza, proprietário de uma estofaria no bairro.

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Dezesseis quilômetros de­­ dis­­tância do Centro de Curitiba e ar de cidade pequena. A vida ainda é pacata no bairro Ganchinho, zona sul de Curitiba, e faz moradores e visitantes esquecerem que estão na maior cidade do Sul do Brasil. Mas a vida quase interiorana deve mudar até o fim deste ano. A Companhia de Habitação Popular (Cohab) vai entregar 2.796 moradias em dois loteamentos nas proximidades do Contorno Leste. O bairro, que hoje tem uma população de 8.695 habitantes, vai ganhar 10 mil novos moradores, distribuídos em 11 conjuntos residenciais.

Com ruas vazias, quase sem carros ou ônibus, e pequenas vilas cercadas de bosques e riachos, o Ganchinho ainda guarda muitas características de uma Curitiba diferente da metrópole de quase 2 milhões de habitantes. Enquanto bairros mais próximos da região central mais parecem selvas de pedra cercadas de poluição, no Ganchinho a área verde chega a 552 metros quadrados por habitante.

A atual expectativa pela duplicação da população é parte de um processo que já vem ocorrendo desde a última década. En­­tre os anos 2000 e 2010, se­­­­gundo o Instituto de Pes­­­qui­­sa e Planejamento Ur­­bano de Curitiba (Ippuc), o Ganchinho teve a quarta maior taxa de crescimento populacional entre os bairros da capital – 52%. Em regiões próximas à divisa com os vizinhos Alto Boqueirão e Sítio Cercado, não são apenas as novas moradias que chamam a atenção. Ruas sendo abertas e asfaltadas dão o ritmo de desenvolvimento do novo Ganchinho.

Expectativa e receio

Sonhos para quem chega, desconfiança para quem já chegou. O crescimento da região impressiona os novos moradores, cada dia mais ansiosos. Mas os atuais habitantes estão receosos sobre o futuro do bairro, que vai receber 10 mil "forasteiros". Curitibana do Alto Boqueirão, a educadora Ana Marisa de Campos da Rosa Passos é uma das novas moradoras e, entre um bate-papo e outro, já percebeu que os mais antigos estão meio desconfiados. "Eles têm medo que aumente a criminalidade. É o medo do novo, mas tudo se ajeita. Já falei isso com alguns deles."

Ana, que ganhou o último sobrenome há quatro meses, quando se casou com Haroldo Cezar Gonçalves Passos, e desde então mora no Capão da Imbuia (no leste da cidade), não esconde a expectativa de voltar à zona sul da cidade, mesmo que o Ganchinho seja um local mais retirado. "O bairro está crescendo", diz.

É a mesma confiança da assistente de RH Cristiane Martins. Hoje moradora de Fazenda Rio Grande, cidade da Grande Curitiba, ela conta que se assustou com a distância do bairro quando começaram as obras dos loteamentos. "A princípio não tinha nada, mas hoje cresceu muito. Lá encontramos muitos comércios hoje."

O comerciante João Bar­bosa, que vive desde 2002 no Ganchinho, é um dos moradores que estão ressabiados. Ele comenta que a região está mais valorizada, mas faltam muitos serviços públicos, como transporte, postos de saúde e escolas. "Temos de ir a outros bairros que ficam longe para buscar consulta médica e colégios", conta.

Proprietário de uma estofaria há seis anos, Adilson de Souza acredita que há chances de melhorias e mudanças no bairro, mas no longo prazo. "Não sabemos quem são as pessoas que vêm pra cá, se tem boa índole. Acredito que são poucos os que vão realmente ficar aqui, pois muitos devem vender as casas e sair."

Região vai precisar de mais infraestrutura

O aumento da população no Ganchinho vai exigir da prefeitura novos investimentos em saúde, educação, transporte e oferta de serviços públicos. Com a densidade populacional dobrando no bairro, a engenheira civil Fernanda Gomide, professora de Engenharia e Arquitetura da Universidade Tuiuti do Paraná, alerta para a necessidade de se investir em infraestrutura para conseguir atender os novos habitantes. Para ela, pontos importantes, como a coleta de lixo e o saneamento básico, são fundamentais. "Não é só a questão imobiliária. É preciso proporcionar uma qualidade de vida pós-intervenção."

A engenheira afirma que, apesar da intenção da prefeitura de reassentar novas populações em locais distantes, muitas áreas próximas ao centro da cidade poderiam ser reaproveitadas. "Para se ter um desenvolvimento sustentável, seria adequado o melhor uso do solo onde já se tem estrutura urbana", opina.

Segundo ela, construir em bairros distantes pode sair ainda mais caro para o poder público do que desapropriar terrenos e edifícios inutilizados nos bairros centrais.

Planejamento

Diretora técnica da Cohab, Tereza Gomes de Oliveira diz que, a partir do momento em que se escolhe um terreno para assentar parte da população, a companhia faz um planejamento urbano para o local com as demais secretarias da prefeitura e órgãos do governo do estado. "Tentamos construir as moradias junto com a infraestrutura, mas é difícil integrar as políticas. Atrasos podem acontecer."

Para atender os novos moradores, a prefeitura informa que a região receberá duas escolas (uma municipal e outra estadual), uma creche e mais uma unidade de saúde. Além disso, linhas de ônibus serão estendidas. Hoje o bairro conta com dois centros municipais de educação integral, duas escolas de 1.º ao 5.º ano e um posto de saúde.

Sobre a aquisição de terrenos em regiões distantes e não no centro, Tereza diz que a escolha é feita de acordo com o custo da área – que, no caso do Ganchinho, seria mais barato – e por causa do zoneamento da cidade, que permite o melhor uso do solo.

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