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Alvo de críticas por falhas no projeto, Linha Verde é aposta do poder público para marcar a história urbanística da capital no início do século | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Alvo de críticas por falhas no projeto, Linha Verde é aposta do poder público para marcar a história urbanística da capital no início do século| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O calçadão da Rua XV, o Centro Cívico, as canaletas do ônibus expresso e parques como o Barigüi, o Bacacheri e o São Lourenço foram algumas das intervenções do poder público que marcaram época e mudaram a paisagem de Curitiba no século passado. Agora, quando a capital se depara com novos desafios, quais seriam as obras capazes de mudar a paisagem urbana e a relação dos habitantes com a cidade? Especialistas em urbanismo afirmam que, para serem eficazes e duradouras, as novas soluções devem levar em conta a frota de mais de um milhão veículos, a saturação do transporte coletivo e as questões relativas à acessibilidade – tema no qual a capital, considerada referência em muitas áreas, ainda tem muito a evoluir, a começar pelas calçadas.

Entre técnicos da prefeitura, o discurso é unânime: a obra predestinada a marcar o início do século 21 é a Linha Verde, uma grande intervenção que promete "urbanizar" a antiga BR-116, incorporar a rodovia à cidade, melhorar o perfil da região e unir definitivamente os bairros da zona Sul ao restante da capital. Já para arquitetos e urbanistas, a prefeitura deveria retomar a característica que tornou Curitiba referência nacional em urbanismo: a inovação. Deveria considerar a implantação das ciclofaixas (faixas exclusivas para ciclistas), dar prioridade à limpeza dos rios que cortam a cidade e investir em obras para facilitar a circulação de deficientes físicos, idosos e outras pessoas com mobilidade reduzida.

Para o coordenador do doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o arquiteto e urbanista Fábio Duarte, o momento é de apostar em obras simples, que não exigem muitos investimentos. O grande salto, segundo ele, seria investir nas faixas para ciclistas. "Seria uma obra pequena, sem necessidade de recursos do Banco Mundial, mas que talvez mudasse o comportamento das pessoas", comenta. "Nova York e Paris começaram a instalar suas ciclofaxias. Se Nova York fez, Curitiba também pode fazer. É preciso pouco dinheiro e ela tem o potencial de alterar hábitos."

As ciclofaixas podem não ter entrado na pauta do poder público, mas já são tema de discussão. Em setembro, o grupo Bicicletada Curitiba pintou por conta própria uma ciclofaixa na Rua Augusto Stresser, entre as ruas Dr. Zamenhof e Barão de Guaraúna. Mas ela foi apagada. Para Duarte, ao se recusar a discutir o assunto a prefeitura e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) negam a tradição da cidade. "As mudanças mais importantes do Ippuc foi quando ele se colocou contra o senso comum", diz. "O argumento de que as pessoas não vão andar de bicicleta porque aqui chove muito é uma bobagem. Primeiro é preciso experimentar, para depois argumentar."

Quem utiliza os parques de Curitiba pode não saber, mas eles não têm apenas a função de lazer. Segundo Mauro Magna Bosco, arquiteto do Ippuc há 29 anos, esta outra finalidade surgiu no Plano Agache, de 1943. "O Agache já definia os fundos de vale como áreas de interesse, para que os rios pudessem respirar. Mas os parques mesmo vêm a partir do Plano Diretor de 1965", observa. "Os parques têm uma função importante, estão geralmente associados a um fundo de vale, com mata nativa no entorno. A idéia era absorver as águas na temporada de cheia. Além disso, eles foram criados para evitar ocupações irregulares."

Mais de 30 anos depois de iniciados os projetos, no início da década de 1970, os parques cumpriram apenas parte de seu papel, já que seus rios continuam poluídos. Para o arquiteto Paulo Chiesa, vice-coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, um trabalho fundamental seria salvá-los. "Temos parques bonitos, mas os rios estão poluidíssimos", constata. Para ele, é possível usar recursos técnicos para melhorar a fiscalização dos lançamentos de dejetos. "Não é possível ter rios mortos ou podres em Curitiba. É uma cidade que tem muito a ensinar e ainda convive com isso", afirma.

Na visão do arquiteto especialista em acessibilidade Ricardo Tempel Mesquita, para se manter na vanguarda em soluções urbanísticas Curitiba deveria investir em obras para facilitar a vida de deficientes e pessoas com mobilidade reduzida. "A primeira coisa que vem à cabeça são as pistas táteis. Não são apenas para os deficientes visuais, porque todos envelhecem", comenta.

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