Norberto Voss, 62 anos: ação do conselho comunitário de segurança mudou a cara do bairro Juvevê| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Militante desde criancinha

Narciso Pires, 59 anos, entrou no ativismo social ainda estudante, aos 16. Começou no interior, como presidente da União dos Estudantes em Apucarana. Depois, participou do Diretório Acadêmico Rocha Pombo, na Universidade Federal do Paraná. A guerra contra a ditadura rendeu anos de idas e vindas da prisão nos anos 70. Por causa da perseguição política no regime militar, teve dificuldades para trabalhar, tanto como professor como empresário do setor gráfico.

Se a carreira foi prejudicada, a militância social sempre foi muito bem, obrigado. Aposentado, Narciso tem dedicação exclusiva ao grupo Tortura Nunca Mais, que defende os direitos humanos, a democracia e luta contra a violência. Fundou grupos similares pelo estado afora e realiza palestras para estudantes, sensibilizando a juventude para a causa. "Os jovens também querem e precisam ser mobilizados. E o modelo democrático, de participação e contribuição, é o único capaz de promover essa mudança."

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Trocar o conforto da poltrona e dos chinelos quentes e tomar uma atitude contra as incômodas desigualdades sociais é um desafio extra para quem já passou dos 60 anos. Para a maioria dos cidadãos – mesmo os mais jovens –, reclamar diante das notícias de violência, corrupção, abuso de poder e miséria é o máximo que o comodismo permite. A indignação acaba antes que o sujeito tenha ânimo, tempo ou disposição de tomar uma atitude, nem que seja para melhorar a rotina do próprio condomínio ou ligar para a prefeitura e pedir uma operação tapa-buraco para a rua do bairro.

Na terceira idade, a militância esbarra também no preconceito. Para trocar a postura de espectador pela de participação cidadã, o idoso precisa superar a própria visão de que já "fez a sua parte", e também a repulsa da sociedade, que tende a colocá-lo de escanteio, seja por considerá-lo limitado ou incapaz. Em ambas as situações, perde-se muito.

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"Nos modelos econômicos sociais vigentes, só quem trabalha é valorizado. Atitude e comportamento, nem sempre. A bagagem e a experiência do idoso deixam de ser aproveitadas por preconceito dele mesmo e da comunidade, que não o convoca", aponta o assistente social Jorge Gilberto Krug, 68 anos, professor aposentado da Universidade de Caxias do Sul.

Depois de quebrar a barreira do comodismo e do preconceito contra o envelhecimento, o idoso que se descobre ator social vê novas possibilidades de realização quando assume seu papel transformador. "Hoje em dia, o velho aparece como protagonista no mundo do lazer, em programas de convivência, onde ele é o motor de grupos de atividades recreativas. São experiências pequenas que precisam ser potencializadas, para maior educação social. A partir daí, investir no conhecimento dos direitos, na participação política, no ativismo", diz.

O potencial de militância do idoso, quando bem explorado, mostra avanços positivos. Desde a publicação do Estatuto do Idoso, um marco da luta pelos direitos dessa faixa etária, a participação tem crescido ao longo dos anos, mas ainda é muito tímida. "Ainda há a ideia de que a briga pelos direitos é uma luta dos outros, e não da própria pessoa idosa. Os velhos precisam ser chamados a contribuir com a sociedade, sair de casa para continuar atuantes", observa a gerontóloga Schirley Scremin, ex-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa.

Há seis anos à frente do Conselho Comunitário de Segurança do bairro Juvevê, o militar aposentado Norberto Voss, de 62 anos, sabe que o trabalho social exige atitude e disposição. Incomodado com os índices de violência e assaltos na área onde funciona a escola de música da esposa, ele convocou os vizinhos para mudar a situação do bairro. "As pessoas eram desconfiadas. Aos poucos, entenderam que sem compromisso e participação de todos, fica muito mais difícil fazer qualquer mudança", conta. Articulando reuniões com autoridades e poder público, Voss virou um calo no sapato dos responsáveis pela segurança da comunidade. O Conseg Juvevê coleciona mudanças, como iluminação pública mais eficiente, podas de árvores, patrulhamento ostensivo, módulos policiais e até alterações no trânsito, como as obras viárias da Praça Vívan Braga. "Minha atividade principal hoje é o conselho. Além de dar minha contribuição, me dá prazer e mais saúde".