| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Eles ainda não entendem muito bem a diferença entre Wi-Fi e 3G, demoram para encontrar fotos e contatos no celular e acham a tela touch complicada. Mas nada disso foi visto como impeditivo para um grupo de idosos que quer estar conectado. A vontade de se comunicar com parentes distantes, receber fotos e vídeos de amigos e ainda economizar créditos os motivou a participar da primeira oficina de WhatsApp - ou “zap-zap” - do Centro de Referência do Idoso (CRI) da zona norte paulistana, unidade vinculada à Secretaria Estadual da Saúde.

CARREGANDO :)

Cerca de 25 idosos, alguns com mais de 80 anos, se reuniram na manhã desta quinta-feira (6) para assistir à aula na unidade. O workshop buscou mesclar as partes teórica e prática. Enquanto o instrutor mostrava em uma projeção o passo a passo de como instalar o aplicativo, enviar mensagens, encaminhar fotos e mudar configurações, os alunos que levaram o celular treinavam as funções e tiravam dúvidas.

Veja também
  • Dê adeus ao carregador de celular. A carga sem fio está chegando
  • Não deixe para depois: oito aplicativos essenciais para ajudar procrastinadores
Publicidade

“Eu comecei a usar o WhatsApp faz uns dois ou três meses com a ajuda das minhas netas. E me adicionaram em um grupo da família, mas eram cem mensagens por dia, ficava apitando toda hora. Então eu pedi para a minha neta sumir com o grupo, só que aí minha prima veio perguntar se eles tinham feito alguma coisa errada para eu ter saído. Daí que descobri que dava só para silenciar o grupo e vim aqui aprender a fazer isso”, conta a aposentada Mathilde Pretel Bustos, de 78 anos.

Ela diz que “se obrigou” a aprender a mexer no aplicativo para estar mais próxima da família e também para economizar. “Antes eu mandava um torpedo ou ligava para alguém e meus créditos acabavam. Pelo Whats a gente gasta menos”, completa a idosa, que agora quer aprender a usar o aplicativo Uber. “É mais barato do que táxi, mas ainda não aprendi a mexer.”

Sem celular

A pensionista Marina Isabel de Moraes Araújo, de 71 anos, procurou a oficina também pensando em economizar no futuro. Ela ainda não usa celular porque não se habitou com o formato do smartphone, mas quis participar do workshop porque ficou sabendo que, com o “zap-zap”, poderia falar de forma mais prática e barata com parentes que estão morando fora de São Paulo.

“Tenho um sobrinho que mora no Japão, uma sobrinha em Brasília e um irmão no Paraná e queria poder falar mais com eles. Vim aqui para ver mais ou menos como funciona a coisa. Agora vou pedir para o meu filho me ensinar com mais detalhes”, diz.

A aposentada Eunicia Josina Ferreira, de 79 anos, também não tem o costume de usar o celular, mas adotou como meta aprender a mexer no aplicativo quando viu a bisneta desenvolta com a tecnologia. “Minha bisneta de 3 anos pega o celular, tira foto e envia. Não é possível que eu não consiga”, afirma ela, aos risos. “E achei bom eles promoverem essa palestra só para os idosos porque os parentes não têm paciência para explicar para a gente.”

Publicidade

Líder do centro de convivência do CRI, Lissa Ferreira Lansky diz que as atividades tecnológicas promovidas pela unidade têm tido cada vez mais procura. “Nossas turmas de informática sempre lotam e já tínhamos promovido plantão de dúvidas de Facebook e de como mexer no celular, mas percebemos que era uma demanda dos idosos essa questão do WhatsApp”, conta ela. “Ajudá-los a se conectar deixa as relações familiares mais estreitas, aproxima o idoso da linguagem dos mais jovens e impede aquele sentimento de solidão ou exclusão que alguns sentem.”