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Apesar de o prefeito Fernando Haddad (PT) ter declarado que pedestres e ciclistas “sabem se resolver”, diversos pontos das ciclovias da cidade têm disputa de espaço entre eles. O jornal O Estado de S. Paulo circulou por três horas em três vias em que há grande fluxo de pedestres, motoristas e ciclistas e constatou que o desrespeito às leis de trânsito são comuns de todos os lados.

No cruzamento entre a Rua da Consolação e a Avenida Paulista, por exemplo, na sexta-feira, volta das 15 horas, ciclistas trafegavam na faixa de pedestre para chegar à ciclovia no canteiro central em vez de as rampas de acesso para as bicicletas. Nem pedestres nem ciclistas respeitavam o semáforo vermelho. Ao menos cinco ciclistas realizaram o mesmo trajeto: saíram da Consolação, seguiram até a calçada da Paulista e, depois, para a ciclovia. Um deles ainda gritou aos pedestres quando passava: “Sai da frente.”

Além de usar a travessia de pedestres com o sinal fechado, os ciclistas também desrespeitam os semáforos dos cruzamentos da avenida. Com isso, alguns pedestres têm evitado o trecho. “Não respeitam muito, assim como já é com os carros. Evito passar e dou a volta’, conta a servidora pública aposentada Ingeborg Godoy, de 88 anos. Na Paulista, ciclistas também trafegam na calçadas.

Na Avenida Liberdade, no centro, a ciclovia - que divide espaço com pista para carros e para os ônibus - é usada por pedestres como calçada e para atravessar a rua. Em um dos pontos, até um morador de rua dormia na faixa vermelha. Em outro, no sentido centro, um homem empurrava um carrinho de compra na contramão. Perto da Catedral da Sé, o espaço é tomado por pedestres.

Já na Avenida General Olímpio da Silveira, sob o Minhocão, onde o aposentado Florisvaldo Rocha morreu atropelado, há reclamações de falta de espaço. No ponto de ônibus lotado, a professora Ana Beatriz Rofeld, de 36 anos, contou que a passagem pelo canteiro central ficou mais difícil com a ciclovia. “Anda todo mundo junto. Ciclista, pedestre, ônibus. Não tem uma separação”, disse.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, uma educação para o trânsito falha é um dos fatores que dificultam a convivência entre os diferentes modais no trânsito. “Só temos uma educação formal quando vamos tirar a carteira de habilitação. E, mesmo assim, mal se é ensinado como fazer um carro se mover. É uma educação para motoristas. Não acho que ciclistas devam fazer um Curso de Formação de Condutores, mas o ciclista deve entender que ele não é o elo mais fraco do trânsito”, diz o consultor Thiago Benicchio, gerente de transportes ativos no Brasil do Institute for Transportation & Development Policy (ITDP), empresa americana de projeto de mobilidade.

Ele destaca, ainda, que a legislação de trânsito “é voltada para segurar a potencia letal dos automóveis”, sem estabelecer regras para situações conflituosas menos letais. “Você quer ver um lugar de altíssimo conflito? Parque do Ibirapuera, nos fins de semana, com pedestres, ciclistas e crianças. Mas não lembro de nenhuma morte ocorrida ali, porque não há veículos pesados.”

Já o engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), diz que a educação parte da própria sinalização. “Há placa para o pedestre: cuidado com o carro. Deveria ser o contrário.”

Bottura afirma que é difícil pensar em ações a serem adotadas de imediato para melhorar o conflito nas ruas. “Educação faz parte de um processo permanente de prevenção de acidentes”, garante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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