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Maceió – A evolução do capital social da Conny Indústria e Comércio de Sucos e Refrigerantes Ltda – mais de 10.000% em quatro anos – mostra o ritmo astronômico em que prosperaram os negócios da família Calheiros, desde que o chefe do clã, Renan Calheiros, atual presidente do Senado, e seus familiares entraram para a política em Alagoas. Hoje na defensiva, pressionado pela oposição, em Brasília, para que deixe o cargo, e aguardando julgamento na Comissão de Ética do Senado – onde é acusado de fazer uso de recursos públicos para pagamentos pessoais –, Renan é cobrado agora pelo PSol, que protocolou no Congresso um pedido de informações: o partido quer saber como a Conny saltou de um capital inicial de R$ 200 mil, em 2002, para R$ 22,1 milhões em 2005.

A Conny foi comprada em junho de 2006 pela Schincariol por R$ 27 milhões. Há suspeitas de que o grupo paulista aceitou o preço sobrevalorizado para beneficiar os Calheiros, em troca de uma suposta ajuda que receberia do governo – principalmente na revisão de dívidas e multas – com ajuda do senador.

Ascensão

Os números são, de fato, incomuns no mercado de bebidas nacional. Fundada em fevereiro de 2002, a Conny tinha como sócios um irmão de Renan, o deputado federal Olavo Calheiros, e sua mulher Ana Weruska. A empresa iniciou atividades com um capital social de R$ 200 mil.

Segundo a ata de fundação, contava com R$ 30 mil do casal Calheiros e outros R$ 110 mil que seriam integralizados até o ano seguinte. Olavo tinha, então, um patrimônio pessoal de R$ 1,9 milhão.

A Conny sempre contou com bons ares para prosperar. Logo de início, a família obteve um empréstimo de R$ 5,6 milhões do Banco do Nordeste (com parte do BNDES). Procurado, o banco, que é do governo, alegou sigilo fiscal para não informar quais garantias foram dadas por Olavo para obtenção do empréstimo. Uma das garantias foi uma fazenda – a de Capoeirão –, que, segundo acusações levadas à Corregedoria de Justiça do Estado, teria sido grilada.

O terreno de 45 mil metros quadrados onde foi construída a fábrica, avaliado em R$ 750 mil, foi uma doação da prefeitura de Murici, a terra natal dos Calheiros. A prefeitura também anistiou as despesas da empresa com água pelo período de 3 anos. O prefeito, na ocasião, era o irmão de Renan, Remi Calheiros. Hoje, quem comanda a cidade é Renanzinho Calheiros, filho do senador.

No ano seguinte, o capital foi elevado de R$ 200 mil para R$ 1 milhão. O valor seria integralizado ao negócio em 360 dias em moeda ou em bens. Os negócios, para quem via de fora, não iam bem. "A fábrica sempre funcionou de modo precário", disse um vereador da Câmara local, Caubi Freitas (PT do B).

Ainda assim, em janeiro de 2005 o capital social de R$ 1 milhão da Conny foi aumentado para R$ 4 milhões.

Antes que o ano acabasse, em dezembro, ocorreu nova mudança, mas desta vez fora dos padrões de mercado: a "ata de alteração contratual de n.º 8" registrou um aumento de capital social da Conny dos R$ 4 milhões para R$ 22,1 milhões.

Segundo o registro feito em cartório, aumento ocorreu "mediante a capitalização de R$ 19.460.000, provenientes das contas de Reservas de Reavaliação". Na prática, maquinário, o prédio e outros bens tiveram seus valores reavaliados. Só o maquinário foi avaliado em R$ 14,9 milhões.

Defesa

Procurados, o deputado Olavo Calheiros e um de seus advogados não quiseram dar explicações. Segundo os dados oficiais, seria impossível o deputado injetar dinheiro vindo de suas contas pessoais. Naquele ano de 2005, a declaração de patrimônio pessoal de Olavo mostra que ele tinha cerca de R$ 4 milhões em bens móveis e imóveis.

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