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A morte da empresária curitibana Sônia Modesto, 32 anos, esconde uma trama muito maior do que a de um seqüestro ou de um assassinato. Segundo a polícia, a execução foi encomendada a uma quadrilha profissional especializada em "queima de arquivo" ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo. O motivo e o mentor do crime ainda são lacunas no processo de investigação. "Alguém pagou pelo crime, precisamos descobrir quem", afirma o delegado Adonai Armstrong, da Delegacia de Homicídios.

Oito pessoas envolvidas no caso, a maioria procedente de São Paulo, já estão detidas na sede da delegacia, em Curitiba. Entre os presos estão um adolescente de 17 anos, que teria feito o disparo contra Sônia, e um dos suspeitos de contratar o serviço, que estaria saindo do país na manhã de ontem.

Em depoimento à polícia, os homens apontados como autores do crime alegaram que a morte foi conseqüência do roubo do veículo Astra prata AXS-9500, de Sônia. No entanto, o carro foi encontrado abandonado em Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná. Além disso, após as prisões, a polícia monitorou ligações recebidas pelos acusados – em seus celulares – de presos recolhidos em São Paulo que queriam ter mais detalhes sobre o desfecho do crime.

Os investigadores já têm conhecimento de que o contato do mentor do crime com o PCC foi feito por intermediários. O foragido Marcos Bezerra, apontado como o líder da quadrilha, teria sido contratado pela facção para matar Sônia. Ele teria fornecido as armas do crime e recrutado os matadores da empresária em Ourinhos (SP). Além de Bezerra, ainda são procurados pela polícia sua namorada Mahara Valência de Oliveira Franco, de Curitiba, e o paulista José Geraldo Júnior, que teria escoltado o líder até São Paulo.

Uma das linhas de investigação direciona o crime como manobra para encobrir um grande esquema de lavagem de dinheiro. Desde 2002, Sônia mantinha um relacionamento com o empresário italiano Erich Lechner, do ramo de carnes, proprietário de inúmeros imóveis e postos de gasolina espalhados por diversos países, inclusive o gerenciado por Sônia, em Curitiba. "Ele é um dos suspeitos. É preciso investigar os negócios dele e a origem do dinheiro que vinha da Suíça para o Brasil", afirma o delegado Armstrong. Lechner foi detido às 7h30 de ontem quando embarcava para a Itália no Aeroporto Afonso Pena. "Orientamos para que ele não saísse do país sem informar a polícia", justifica o delegado.

O crime

A empresária e a funcionária Tatiana Mantelmacher Gusso, 29 anos, que já reconheceu os dois atiradores, foram abordadas por dois homens armados quando chegavam na casa da empresária, por volta das 2h30 do dia 20, no bairro Capão da Imbuia. Os dois seriam Rodnei Araújo Serrano, 26 anos, e o adolescente de 17 anos. Eles saíram de um veículo Corsa Sedan prata AAW-2412 conduzido por uma mulher e com mais um homem no banco do passageiro. Segundo os investigadores, as outras duas pessoas seriam Mahara e Bezerra.

Na mira de Serrano e do adolescente, Sônia e Tatiana foram levadas até uma região afastada da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) no Astra da empresária. Percorreram várias ruas da capital seguindo o Corsa. Uma pequena colisão entre os dois veículos, no bairro Tarumã, deu uma das pistas à investigação. No momento, um policial militar tentou se aproximar dos carros, mas ambos aceleraram e saíram do local. Só foi possível memorizar que o Corsa tinha placa com as iniciais AA.

As moças foram levadas para uma rua de chão na CIC, onde ocorreu a execução. Bezerra teria ordenado que as duas fossem mortas antes que o Astra fosse levado. Sônia morreu com um tiro na cabeça e Serrano disparou contra Tatiana, que sobreviveu ao ferimento e conseguiu ajuda com uma família de lavradores da região. O depoimento da sovrevivente foi fundamental para que os investigadores chegassem à quadrilha.

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