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No horário nobre da ficção, quem tem se destacado é a realidade. Entre tantos personagens reais que apareceram nos finais da novela "Viver a vida", de Manoel Carlos, um chamou atenção especial: Ronaldo Miguel Monteiro. "Uma experiência muito forte para mim foi encontrar uma das minhas vítimas. E esse empresário me visitou no presídio e assinou pela primeira vez a minha carteira de trabalho", conta Ronaldo, um ex-presidiário, que começou a se envolver com o crime aos 14 anos.

Na década de 80, Ronaldo ajudou a espalhar uma onda de terror no Rio de Janeiro. "Eu descobri que tinha uma maneira mais fácil de ganhar dinheiro e passei para a extorsão mediante sequestro. O primeiro deu certo, o segundo deu certo, outros deram certo até ter uma grande tacada. Eu conheci um empresário que estava sendo muito sinalizado na mídia pelas suas empresas, e aquele homem foi indicado como potencial vítima para meus crimes de sequestro", relata.

A equipe do Fantástico levou o ex-presidiário ao local do crime que ele quase cometeu. Ronaldo conta que a ação seria o sequestro do empresário seguido de morte após o pagamento do resgate. "Tínhamos três grupos. Um grupo à esquerda, na altura das grades, onde eu estava, o segundo grupo estava na saída da rua e o terceiro grupo, para dar apoio, estava na saída do túnel para São Francisco", explica.

Os criminosos esperaram o carro do empresário chegar ao local, por volta das 9h30. O automóvel verde passou pelos criminosos e entrou na garagem, o empresário era o motorista e estava sozinho. Então, eles aguardaram a saída do carro de acordo com o planejado. Porém, uma hora depois, o veículo ainda não havia saído da garagem e o grupo decidiu invadir o local. "E aqui não estava, nem o carro, nem o empresário", lembra Ronaldo.

Depois de cinco meses do fracasso do plano, Ronaldo Miguel Monteiro foi condenado a 28 anos de prisão pelos 10 sequestros que cometeu. "Só a morte ou a prisão poderia me parar. Prouve Deus que fosse a prisão", reconhece.

Nesse período, a vida de Ronaldo tomou outro rumo depois de uma visita que ele recebeu. A visita era de Custodio, o homem que seria a vítima do sequestro planejado por Ronaldo, mas que não aconteceu.

"Pois é, temos que Jesus amou todos, tem que fazer alguma coisa. Então, uma boa pescaria seria se eu ganhasse Ronaldo para Jesus. E aconteceu isso", justifica Custodio sobre o que o levou a procurar Ronaldo. "O tiro saiu pela culatra. Ele quis me matar, e eu o matei. O homem que aceita Jesus morre para o mundo e vive para Deus", diz.

Ronaldo fica sem palavras ao tentar descrever o que sentiu quando viu Custódio a sua frente. "Você não encontra palavras, só alguém que vive na marginalidade e depara com uma vítima que diz ‘eu te perdoo’ poderia responder. E com certeza ela não vai encontrar palavras."

A visita do empresário transformou a vida de Ronaldo. Dentro da cadeia, ele passou a trabalhar com projetos sociais. Condenado a 28 anos, ficou 13 na prisão e ganhou o direito à condicional. Ao sair, adivinhe quem deu a ele o primeiro emprego, a primeira carteira assinada? O próprio Custodio. Ele garante que nunca teve medo por ter contratado o ex-presidiário.

Ronaldo trabalhou dois anos com Custodio e depois seguiu o próprio caminho. Hoje, ele coordena uma ONG que ajuda presos a se qualificarem profissionalmente.

"Isso é uma sensação tremenda. É muita alegria no coração para poder reverter uma situação dessas", afirma Custodio sobre a sensação de saber que com a iniciativa acabou ajudando não só uma pessoa.

Ao falar sobre o futuro de sua vida sem a ajuda de Custodio, o ex-presidiário Ronaldo é categórico. "Eu teria continuado no crime, até hoje tenho propostas, mas o amor à vida é muito maior, o amor que levou seu Custodio até um presídio de segurança máxima para ter um encontro com seu pretenso algoz."

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