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O mecânico Dionísio Trindade Filho, 39 anos, observa o bairro onde mora, em Gaspar (SC), submerso: água só não inundou o acostamento da BR-470 | Albari Rosa / Gazeta do Povo
O mecânico Dionísio Trindade Filho, 39 anos, observa o bairro onde mora, em Gaspar (SC), submerso: água só não inundou o acostamento da BR-470| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Gaspar

Cheia do Rio Itajaí alaga bairro inteiro

Nos dois acostamentos do km 390 da BR-470, a dez quilômetros da entrada de Blumenau, dezenas de pessoas permaneciam em pé, distribuídas pelos dois acostamentos da rodovia. São os moradores do bairro Sertão Verde, uma localidade do município de Gaspar, com cerca de 2 mil habitantes.

O asfalto é o último local seguro para esses catarinenses, após um afluente do Rio Itajaí-açu subir 2,5 metros em decorrência das chuvas. Com a linha d’água batendo no beiral das casas, eles verificam a lenta descida da água através das marcas nas paredes e no asfalto. Ontem, no meio da tarde, o nível da cheia havia diminuído cinco centímetros, o que pouco alivia a situação do operador de máquinas Adilson César Villa, de 19 anos. A água invadiu 40 centímetros do 2º andar da casa dele, atingindo até os móveis que supostamente haviam sido salvos da torrente. "O pouco que sobrou, ainda é arriscado roubarem", lamenta ele, morador do bairro há 10 meses. O medo de saques é comum. Os desalojados relataram que um morador colocou um colchão no telhado e dormiu em cima da casa para vigiar seus pertences.

Os moradores de Blumenau – a cidade mais afetada pela chuvas em Santa Catarina – passaram a sexta-feira contando centímetros, à espera de que o Rio Itajaí-açu baixasse o suficiente para que os serviços básicos pudessem ser restabelecidos. Com 22% da cidade sem energia elétrica e 70% sem abastecimento de água, as medições da água serviam como parâmetro para saber quando Blumenau e a região do Vale do Itajaí voltarão à normalidade. Cerca de 280 mil pessoas deixaram suas casas preventivamente desde quinta-feira.

As perspectivas eram positivas na tarde de ontem. Pelos boletins divulgados pelo Centro de Operação do Sistema de Alerta (Ceops), o nível do rio baixava cerca de quatro centímetros por hora. O céu, que permanecia carregado desde o início do dia, foi abrindo aos poucos e, ao final da tarde, o sol surgiu pela primeira vez em quatro dias. Com isso, as equipes da Companhia de Energia Elétrica de Santa Catarina (Celesc) fariam avaliações na noite de ontem, verificando em quais bairros seria possível religar a luz com segurança.

O serviço de alerta minimizou o potencial de perdas materiais, avaliaram policiais militares que patrulhavam os bairros mais afetados. A maioria dos moradores relatou ter conseguido salvar a seus pertences antes que a água avançasse sobre as residências.

Arno Schwartz, de 51 anos, comerciante no Bairro Fortaleza, colocou todos os seus pertences em um caminhão-baú e o estacionou em um barranco assim que viu a água começar a invadir a Rua Francisco Vahldieck, onde mora e trabalha. Após passar a noite de quinta-feira na casa de parentes, ele retornou ao local no final da tarde de ontem para verificar a situação do imóvel. "Quem mora aqui está acostumado", disse ele, morador do bairro desde 1975 e veterano de oito enchentes.

Ainda assim, o clima é de tensão no município. A maior parte do comércio está fechada, e o trânsito na cidade foi reconfigurado de acordo com a localização das ruas alagadas. Sentidos de via foram invertidos ou eliminados, semáforos não funcionam e vários acessos foram fechados. Mesmo motoristas experientes da cidade têm dificuldade em ir de um bairro a outro. De bicicleta, um morador do For­­taleza perguntava a um policial onde era possível comprar pão. Dois quilômetros adiante, informou o policial, havia uma venda que ainda usava forno à lenha.

O prefeito João Paulo Kleinuling estima que a limpeza das ruas atingidas pelas enchentes deve custar R$ 45 milhões.

Óbitos

A morte de duas pessoas foi confirmada ontem. A primeira, segundo a Defesa Civil estadual, foi de Valdemiro Carminatti, 66 anos. Ele estava reparando telhas em sua casa, na cidade de Guabiruba, na quinta-feira, quando o telhado de­­sabou. A outra ocorreu em Rio do Sul, ontem. Dois adolescentes usavam uma canoa em uma rua alagada quando um deles en­­costou o remo na fiação elétrica e morreu eletrocutado. Ontem, o número de pessoas afetadas pelo mau tempo subiu para 819 mil em 86 municípios. Ao todo, 32 prefeituras decretaram emergência e duas, estado de calamidade pública.

Paraná tem 350 desabrigados pelo mau tempo

A chuva também causou estragos no Paraná. Segundo a Coor­­denadoria da Defesa Civil estadual, as cidades de General Carneiro, Foz do Iguaçu (ambas na Região Oeste), Francisco Beltrão (Su­­doeste), Palmas e União da Vitória (ambas no Sul) registraram problemas com a precipitação.

A mais atingida foi União da Vitória, onde 250 pessoas estão desabrigadas por causa da cheia do Rio Iguaçu. Os moradores foram retirados de suas casas e levados pela prefeitura para um parque de exposições. Na cidade, 500 pessoas sofreram os efeitos da chuva.

O coordenador da Defesa Civil do município, Vitor Paulo Stern, disse que, apesar dos alagamentos, a situação estava sob controle. "As famílias atingidas vivem em áreas ribeirinhas. O rio está em um nível que estamos acostumados a lidar," disse.

Em Francisco Beltrão, três bairros ficaram alagados. Aproxi­madamente 400 pessoas ficaram desalojadas e 50 desabrigadas. Em General Carneiro, havia 40 casas danificadas, 50 pessoas desalojadas e 130 pessoas de algum modo afetadas. Em Palmas, 20 pessoas ficaram desalojadas e seis casas foram danificadas. Em Foz, dez casas foram afetadas por um vendaval.

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