• Carregando...
Médicos afirmam que energético mascara efeitos da bebida alcoólica | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Médicos afirmam que energético mascara efeitos da bebida alcoólica| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Comportamento

Consumo de bebida cresce no país

O consumo de bebida alcoólica no Brasil é grande e vem aumentando nos últimos anos, principalmente entre as mulheres. Levantamentos realizados pelo governo mostram que 12% da população pode ser considerada dependente e 75% já provou algum tipo de bebida durante a vida.

A cerveja é a opção preferida, mas o consumo de destilados misturados com energéticos também é crescente.

Os energéticos começaram a ser comercializados em 1987, após a descoberta da mistura por um austríaco em uma viagem à Tailândia. O temor dos especialistas é que, como a bebida é relativamente recente, não foi possível ainda estudar o efeito da associação com o álcool a longo prazo. É provável que os danos causados a células cerebrais possam ser devastadores. Além da cafeína, há associações nas fórmulas com outros estimulantes, como a taurina, que potencializam a euforia. (PC)

Política pública

Sem campanhas de prevenção

Hoje não existe no Brasil política pública que trabalhe a prevenção do uso de álcool e outras drogas entre jovens. Há iniciativas isoladas, geralmente de campanhas publicitárias. O alerta é feito pelo médico psiquiatra Dagoberto Requião, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Ele lembra que o consumo excessivo de álcool está relacionado a comportamentos de risco, como dirigir embriagado e fazer sexo sem camisinha.

As empresas de bebida alcoólica e energéticos, por outro lado, especializaram-se na comunicação com jovens. Os energéticos, por exemplo, patrocinam diversos eventos atrativos para jovens, como corridas de carro e eventos esportivos.

O pesquisador Aron

Jurkiewicz afirma que estudos mostram também a associação de álcool com anfetamina para buscar o mesmo efeito proporcionado pela cafeína. Os jovens saem para festas e bares, bebem bastante e com os primeiros sintomas de embriaguez tomam anfetaminas para ficarem estimulados.

  • Veja quanto contém de cafeína em cada bebida

A mistura entre bebida alcoólica e energéticos, comum em bares frequentados por jovens, é mais prejudicial do que quando se consome apenas álcool. O problema é a presença de cafeína, que oculta os efeitos do álcool e leva a pessoa a beber mais. O gosto forte de algumas bebidas destiladas, como uísque e vodca, por exemplo, é mascarado pela substância. Pes­quisadores brasileiros mostraram que a associação entre as duas substâncias estimula a dependência e acelera a destruição de células cerebrais. O álcool é um depressor e após ingerir uma dose começam os primeiros sintomas de relaxamento e sonolência. A cafeína, por outro lado, é um estimulante e causa uma sensação de euforia e excitação. A união entre os dois faz o usuário não sentir as consequências da ingestão alcoólica. É como se o corpo ficasse preparado para mais doses. Com a redução do efeito sedativo, a pessoa fica apta a beber por mais tempo e não percebe a embriaguez.

Nos EUA, fabricantes de bebidas energéticas ganharam um ultimato do governo para mudar a fórmula de seus produtos. Lá, os energéticos já contêm álcool e altas doses de cafeína. Há produtos que chegam a ter 500 mg de cafeína, o dobro da indicação diária. Além da alta concentração desta substância, a porcentagem de álcool é maior que em outras bebidas, fazendo com que jovens tenham alterações comportamentais com apenas uma lata.

Alcoolismo

Pesquisadores brasileiros foram pioneiros ao apontar os malefícios desta associação. Em 2006 investigadores da Universidade Federal Paulista (Unifesp) publicaram um artigo na revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research mostrando que a cafeína estimula o consumo de mais álcool e mascara os efeitos depressores. A publicação revelou que os entrevistados sentiam menos dor de cabeça, fraqueza e boca seca ao ingerir os energéticos. Entretanto, a coordenação motora era afetada.

A pesquisadora Maria Lúcia Souza-Formigoni, Ph.D. em Psiquiatria, coordenadora do estudo, argumenta que a grande questão é que o energético aumenta a palatabilidade da bebida alcoólica. "O jovem não está acostumado com o sabor do uísque e com o energético a ingestão é facilitada."

Algumas pesquisas sugerem que o uso desta combinação pode facilitar o alcoolismo, já que o indivíduo se acostuma a beber regularmente e geralmente tem uso abusivo. Maria Lúcia afirma que há dois momentos na vida dos jovens em que a bebida está mais presente. A primeira é entre 13 e 15 anos, quando há a passagem para o ensino médio, e a segunda na passagem para a universidade. Principalmente nestes momentos a associação com energéticos pode definir o abuso e a dependência do álcool.

Professora livre docente do Departamento de Darmacologia da Unifesp, Soraya Smaili liderou uma pesquisa sobre o efeito da mistura entre álcool e energéticos no sistema nervoso central. O resultado foi que a associação pode ser até três vezes mais prejudicial. Nos testes realizados por ela, após 24 horas 60% das células cerebrais expostas à mistura estavam mortas. Soraya afirma que pesquisadores temem o fato de tanto o álcool como a cafeínas serem vendidos quase indiscriminadamente. O álcool, mesmo restrito a maiores de idade, é facilmente comprado por qualquer pessoa. Em relação aos energéticos, não há nenhum tipo de restrição.

* * * * *

Interatividade

O Brasil deveria restringir o consumo dos energéticos? Por quê?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]