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 | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
  • Antes - Aspecto da margem de um rio na região do Vale Vêneto, no Rio Grande do Sul, antes da intervenção biotécnica
  • Recuperação - No início da obra, foi preciso construir uma parede-Kraine (estrutura em madeira que serve para estabilizar taludes íngremes, sejam naturais ou artificiais) para a estruturação da base
  • Preparação - Detalhe da preparação dos feixes-vivos utilizados para vegetar a face exposta da parede-Krainer
  • Instalação - Colocação de uma esteira viva após a remodelagem do talude
  • Depois - Aspecto da margem um ano depois de a intervenção ter sido realizada

Entrevista com Fabrício Sutili, professor da Universidade Federal de Santa Maria.

A engenharia natural – o conjunto de técnicas que usa métodos e materiais naturais para a construção – é usada há séculos em países europeus, mas só recentemente começou a ser empregada no Brasil. Como explica um dos poucos especialistas brasileiros na área, o engenheiro florestal gaúcho Fabrício Sutili, doutor em engenharia natural e planejamento de paisagens, as plantas podem ter uma importante função estrutural quando usadas em conjunto com materiais inertes como madeira, pedra, concreto e metal.

"A bioengenharia de solos, como também é chamada, é usada principalmente em obras que visam a perenização de cursos de água, a estabilização de encostas e taludes, o tratamento de voçorocas e o controle da erosão do solo", completa. Em entrevista à Gazeta do Povo, Sutili fala sobre as principais vantagens da engenharia natural e como as técnicas preconizadas por ela podem contribuir para recuperar áreas devastadas pela ação do clima e do homem.

Quais são as vantagens do uso da engenharia natural na construção?

A engenharia natural traz ganhos econômicos, porque utiliza materiais baratos e naturais como pedras, madeira e plantas retiradas do próprio local ou das proximidades. Ela também traz vantagens estéticas ao utilizar elementos que se integram melhor ao ambiente. E também existem as vantagens ecológicas, já que estas obras são construídas com materiais naturais. As construções naturais, ao contrário das tradicionais, ganham mais estabilidade com o passar do tempo porque as plantas seguem desenvolvendo-se e ainda guardam uma capacidade intrínseca de regeneração, caso a obra venha a sofrer algum dano. Com um mecanismo de proteção distinto das tradicionais, essas construções resistem à força da água e do vento, pois cedem a essa força e absorvem o seu impacto. Ou seja, a proteção se dá em grande parte não por resistência, mas por resiliência. É importante lembrar, entretanto, que a bioengenharia não pode substituir os métodos convencionais em todos os casos. Qual a origem da engenharia natural?

Muitas dessas técnicas são usadas há décadas na Europa Central. Existem registros anteriores a essa época, que datam do Império Romano e da China do século 12. Entretanto, somente a partir do século 17 é que descrições técnicas da engenharia natural começaram a surgir no continente europeu. Atualmente, ela está bem desenvolvida e tem sido bastante utilizada nas regiões alpinas, aos poucos torna-se importante em Portugal e na Europa Mediterrânica como um todo – Espanha, França e Itália. No Parque Nacional do Monte Vesúvio, na Itália, por exemplo, ela é usada para estabilizar as encostas naturais. E no Brasil, como é o uso dessas técnicas?

A engenharia natural no Brasil é muito recente, mas já existem empresas especializadas em prestar serviços nessa área e o mercado é bastante promissor. Além das experiências que estamos desenvolvendo no Rio Grande do Sul, o Instituto de Pesquisas Amazônicas também está começando a desenvolver alguns projetos no Norte do país. O que tem sido feito em Santa Maria?

A Universidade Federal de Santa Maria está com um projeto em con­junto com o Instituto de Enge­nharia Natural da Universidade Rural de Viena para investigar as propriedades vegetativo-mecânicas de espécies fluviais e de encostas. Já tivemos condições de avaliar a aplicabilidade técnica de algumas espécies, o que tornou possível a implantação segura de obras piloto de estabilização de taludes fluviais. O que precisa ser investigado antes de se iniciar uma obra que utiliza as técnicas de engenharia natural?

O potencial de reprodução das espécies, a época ideal de plantio, a arquitetura e a profundidade do sistema radicular e a flexibilidade e a resistência dos ramos são algumas características que devem ser investigadas sobre a vegetação de uma determinada região antes de começar qualquer obra. A vegetação local precisa apresentar as características biotécnicas necessárias para serem utilizadas como componente estrutural. Também é preciso pensar na combinação de diferentes espécies e de grupos vegetais, para que tanto a estabilização como a melhoria ecológica ocorra. E a vegetação a ser utilizada deve ser nativa do local. Em que situações a engenharia natural seria bem utilizada?

Em Santa Catarina, a engenharia natural seria uma alternativa barata e eficaz para re-estabilizar encos-tas nas regiões atingidas pelas en-chentes em 2008. Não haveria co-mo prevenir os desastres naturais, mas ela poderia ajudar na recuperação de algumas áreas. A Asso-ciação Catarinense de Engenheiros Flor­estais promoveu um curso de capacitação em engenharia natural, mas não existem ainda intervenções efetivas. A engenharia natural poderia ser usada em todo o país, para estabilizar taludes rodoviários e os pequenos e médios problemas de estabilidade de margens de cursos de água, problemas muito comuns no Brasil.

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