Eleições 2010
Dilma e Serra têm propostas diferentes
A principal diferença nas propostas de Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), candidatos à Presidência da República, está na forma de cursar o ensino técnico (veja quadro ao lado). Ela aposta no curso integrado ao ensino médio. Ele, nas aulas subsequentes (depois da conclusão da educação básica) ou concomitantes (em outro horário e/ou escola que o ensino médio ou supletivo). Na opinião dos especialistas, o ensino integrado é mais completo, mas as outras possibilidades não podem ser descartadas. "É importante haver uma oferta que cubra várias possibilidades e permita, por exemplo, a volta de uma pessoa ao mundo dos estudos e ao mercado de trabalho", afirma a pró-reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão do Instituto Federal do Paraná, Neuza Nery.
A chefe do departamento de Educação e Trabalho da Secretaria de Estado da Educação, Sandra Regina de Oliveira Garcia, defende o ensino integrado como o ideal. "Aqui no Paraná, ao contrário do país como um todo, a divisão dos alunos entre integrado e pós-medio é praticamente meio a meio". Para ela, um ensino médio integrado ao técnico permite até uma melhor formação para estender os estudos para uma faculdade na mesma área mais tarde.
Para o professor do departamento de Planejamento e Administração do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná, Paulo Ross, a proposta ideal não é nem a de Dilma, nem a de Serra. "Sou a favor de um ensino integrado sim, mas mais flexível, com várias disciplinas optativas, e mais possibilidade de aplicar o conhecimento adquirido na prática, com mais estágios e cursos extra classe." (FZM)
De 2003 a 2009, o Brasil abriu 271.731 vagas no ensino técnico, segundo o Censo Escolar 61 mil delas no Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação. Ampliações, novos equipamentos e livros também vêm sendo comprados, estruturando melhor uma rede de ensino que parecia adormecida, junto com a economia do país, há cerca de dez anos. Com todo esse crescimento em torno de 50% em seis anos , no entanto, o ensino técnico ainda carece de fiscalização e avaliação que referenciem a qualidade de ensino, principalmente quando a maior parte das vagas ofertadas está na iniciativa privada: das 861.114 matrículas registradas pelo Censo Escolar no ensino profissional em 2009, 477.657 (55%) estavam com as escolas particulares.
O secretário substituto da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do Ministério da Educação (MEC), Getúlio Ferreira, diz que os investimentos federais no ensino técnico foram retomados há pouco tempo, com a aprovação da Lei 5.154, de 2004. "Antes disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 tinha acabado com a possibilidade de se integrar o ensino médio com o profissional e limitava os investimentos da União nesse setor."
Nesse meio tempo entre uma legislação e outra, o setor privado cresceu e supriu, bem ou mal, boa parte da demanda pelos cursos profissionais. O esvaziamento de vagas públicas e a ampliação da rede particular também ocorreram em nível estadual, segundo a chefe do departamento de Educação e Trabalho da SEED, Sandra Regina de Oliveira Garcia.
Infraestrutura
Na retomada dos cursos técnicos, o governo federal lançou o programa Brasil Profissionalizado, em 2007, que culminou na criação da rede federal de escolas técnicas que se transformaram em institutos caso do Instituto Federal do Paraná, que nasceu da divisão da antiga escola técnica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os investimentos do programa, na construção de novas escolas, reformas e compra de equipamentos, já chegam à ordem de R$ 1,5 bilhão.
Segundo Ferreira, o impacto da construção de novas escolas técnicas federais pelo Brasil Profissionalizado só poderá ser sentido a partir deste ano, quando elas começam a ser inauguradas. Mas outros resultados do programa já podem ser medidos. O Paraná é o segundo estado mais beneficiado, atrás do Ceará, com R$ 199.347.787 em recursos. Sandra diz que o dinheiro é suficiente para comprar acervos (livros) para todas as escolas técnicas do estado ainda este ano. "Também estamos estruturando laboratórios, antes sucateados, e abrindo licitação para a construção de 18 novos colégios. O Brasil Profissionalizado é interessante porque concede recursos federais com uma pequena contrapartida do estado".
No Paraná, a retomada do ensino técnico é significativa. Em 2003 eram 86 escolas em 56 dos 399 municípios do estado. Atualmente, são 339 escolas em 170 municípios.
Apesar da melhoria na oferta de vagas e na infraestrutura, ainda não está tudo 100%. "Para completar o nosso quadro próprio de professores para atuar nessas 339 escolas precisamos fazer um concurso para 1.100 vagas. Hoje, esse déficit é coberto com professores temporários", diz Sandra.
O ensino técnico é a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho ainda cedo e também de se ter uma segunda chance no mundo dos estudos, sem perder de vista a educação superior. É exatamente isso que ocorre com os estudantes do Instituto Federal do Paraná (IFPR) Patrícia Wierzyski de Andrade Nabosne, de 22 anos, e Carlos Henrique Venturi Ronche, de 15. Ela concluiu o ensino médio em 2005 e está no primeiro ano do técnico de Enfermagem. "Eu gosto de cuidar das pessoas e pretendo, logo que terminar o curso, fazer o vestibular para o superior em Enfermagem", diz Patrícia. Logo que começar a trabalhar, ela espera dobrar a renda da família, que hoje é de R$ 2 mil.
Já Ronche está no primeiro ano de Mecânica. Foi incentivado pela mãe, que fez técnico em Contabilidade, a escolher um caminho que já garantisse um emprego. "No ano que vem posso conseguir um estágio remunerado e ajudar na renda de casa. Mais tarde quero tentar uma faculdade de engenharia e sei que essa formação vai me ajudar."
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