Encarar o envelhecimento de forma natural ou com sofrimento depende muito dos valores culturais e ambientais que a pessoa cultiva. "As perdas funcionais são inevitáveis. Mas a qualidade de vida pode e deve ser estimulada com atividades sociais, de lazer e de ocupação. Isso permite envelhecer com dignidade", explica o psiquiatra Khaddour Esber, coordenador de saúde mental do idoso da Amil, em Curitiba. As condições sociais e psicológicas do indivíduo também influenciam. "A capacidade de superar obstáculos e dificuldades ao longo da vida determina o estado de saúde ou de doença."
Envelhecer não é assustador para Benjamin Button porque ele já nasceu idoso. Para ele, o difícil é ficar jovem. O desconhecido é que amedronta, apavora. Para a psicóloga Joyce Fisher, o indivíduo aprende a envelhecer ao longo da vida, lidando com perdas e frustrações desde a infância. "Quanto mais participarmos das decisões que nos envolvem, maior vai ser o aprendizado de ganhar e perder. Isso ajuda a aumentar a tolerância à frustração, causa menos estranheza diante das perdas naturais da idade", diz.
Com o aprendizado, as lembranças são a bagagem que dá suporte à vida de quem coleciona realizações. Ao fazer um balanço da própria trajetória, estimulada pelo filme, Thereza Cunha, a princípio, se assustou com a perda de referências, com a distância do passado. Mas reconhece o valor de cada passo que dá hoje, sempre participante da rotina dos filhos e netos. "A gente não pensa muito sobre o envelhecimento, não se dá conta da passagem do tempo", diz.
O neurologista e psicoterapeuta Mario Marcio Negrão, 62 anos, considera que a vida deve ser repleta de perspectiva e planejamento, sempre com desafios a serem conquistados. É a mola propulsora da existência saudável. "O que envelhece é o corpo. A mente amadurece. Mas viver sem propósito é ver os dias passarem, sucessivamente, sem participar, dar testemunhos", avalia.



