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Riqueza do café atraía cafetinas

A economia do café, entre as décadas de 1940 e 1960, tornou Londrina o que é hoje: a terceira maior cidade do Sul do país. Muitos migrantes, por causa disso, foram para lá em busca de trabalho: a grande maioria homens solteiros. Isso acabou incentivando a prostituição. Algumas cafetinas de São Paulo foram para Londrina e abriram os primeiros prostíbulos de luxo da região. Na década de 60, Londrina chegou a ter cerca de 6 mil mulheres de programa.

Inicialmente elas se instalaram no centro da cidade, onde atualmente é a Rua Brasil. "Estas mulheres públicas eram toleradas no município porque os pais de família queriam preservar a virgindade das filhas e, por isso, sabiam que os rapazes iriam precisar dos serviços das garotas de programa. Era uma sociedade extremamente machista e patriarcal", explica o historiador Edson Holtz Leme. Além disso, os bordéis não eram sinônimo apenas de sexo, mas de diversão: lá os homens se encontravam para beber, jogar conversa fora e ver shows.

Com o crescimento da cidade, porém, começou a existir uma pressão da população, que queria ver os bordéis distantes do centro. O poder público, então, acabou intervindo e criando, na atual rodoviária, a Vila Matos, que foi loteada. Os terrenos, então, foram comprados pelas cafetinas a um preço supervalorizado. Nesta região, elas construíram cerca de 100 casas que transformaram a vila no local de lazer dos homens.

Só que, na década de 60, com a expansão de Londrina para a antiga Vila Matos, os moradores pediram o fim das casas de prostituição: algumas chegaram a ser desocupadas e, como tinham cerca de 20 quartos, nem todos com banheiro, elas foram ocupadas por moradores de baixa renda – o local passou a ser usado como um cortiço e, novamente, as prostitutas, agora do baixo escalão, passaram a atuar por ali.

Em 1976 ficou decidido, por fim, que as casas seriam demolidas. Depois da destruição, o espaço ficou vazio por um bom tempo até que a prefeitura construiu no local uma rodoviária, que funciona até os dias de hoje. (PM)

Os únicos dois mil exemplares do livro Escândalos da Província foram vendidos em apenas uma semana. Logo depois, o autor, o jornalista Edson Mas­chio, acabou exilado de Lon­drina em 1959 por causa da repercussão que a obra teve na época. O livro tratava das prostitutas e do envolvimento delas com a sociedade – um tema que até hoje poucos têm coragem de enfrentar.

Os relatos que apareciam no livro acabaram ganhando fama de "ficção" e apenas um historiador bate o martelo para dizer que o fato mais polêmico do livro, a passeata das prostitutas carecas de Londrina, efetivamente aconteceu. Paulo de Tarso Gonçalves pesquisou o assunto durante seu mestrado e encontrou jornais da época que narraram o acontecimento. Da versão do jornal à do livro de Maschio, a passeata muda um pouco de perfil, mas acaba tendo os mesmos traços básicos: assim como hoje, as prostitutas eram maltratadas por alguns policiais e tinham de pagar propina para poder permanecer em seus pontos.

Maschio chamar seu livro de "romance histórico", pois escreveu baseado naquilo que os habitantes mais antigos da cidade contavam, mas que nunca foi provado na prática. Na versão dele, havia um juiz em Londrina que não gostava das prostitutas e resolveu, então, dar carta branca ao delegado para prender algumas moças da noite e ridicularizá-las em público com o objetivo de mostrar que a polícia queria moralizar a cidade. Os policiais saíram e prenderam algumas meretrizes que estariam fazendo "baderna" em um bar. Levaram o grupo para a delegacia, rasparam a cabeça delas e fizeram as moças carecas andarem pelas ruas com um cartaz que dizia: "Somos prostitutas, vergonha da cidade."

Já na versão da imprensa, dois jornalistas teriam encabeçado a passeata, eles mesmos teriam raspado a cabeça das moças, com o consentimento delas, e saíram pelas ruas denunciando os policiais que não as respeitavam. "Eram jornais sensacionalistas da época que descreveram o episódio. Por isso há os que dizem que esta imprensa se engajou na notícia porque queria derrubar o delegado, que era muito truculento. Esses jornalistas simplesmente poderiam ter inventado a história para fazer sua própria política", afirma o historiador Gonçalves. Dias depois da passeata, Gonçalves diz ter encontrado na imprensa que o tal delegado teria sido destituído do cargo. "Não caiu somente ele, mas toda a cúpula da polícia civil na época." A passeata teria ocorrido no ano de 1948.

O historiador Edson Holtz Leme, autor do livro Noites ilícitas: histórias e memórias da prostituição, diz ter ouvido falar muito da passeata, mas nunca encontrou um documento que comprovasse o caso. Ele lembra, porém, que raspar a cabeça das mulheres era um ato comum na época, pois atrapalhava o trabalho das meretrizes que dependiam da estética. "Este ato que narram ter acontecido em Londrina pode estar associado ao fato de que, nesta época, algumas moças francesas, que teriam dormido com soldados alemães, lá na França, tiveram a cabeça raspada para serem ridicularizadas. Eram facilmente identificadas e consideradas traidoras. Havia ainda maridos ciumentos, no mundo inteiro, que também usavam esta prática para fazer com que suas mulheres não saíssem de casa", explica Leme.

Cafetinas

Laura, Selma e Gaby eram alguns dos nomes mais conhecidos de Londrina. Elas eram as cafetinas de luxo e as responsáveis por levar à cidade, todos os fins de semana, um novo grupo de moças para en­­treter a elite londrinense. Gonçal­ves lembra que chegavam ao município aviões que traziam as moças de programa. Tam­bém havia aquelas que chegavam de ônibus. Normalmente elas vinham de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Por volta das 17 horas de sexta-feira, segundo Leme, alguns escritórios de Londrina ficavam vazios porque os rapazes iam até o aeroporto para ver as mulheres novas que chegavam à cidade. "Era uma prévia do que iria acontecer à noite. Estas moças ficavam em Londrina apenas durante o fim de semana e, dizem, voltavam para a cidade natal com os bolsos cheios de dinheiro", afirma Leme.

Como boa parte das ruas de Londrina era de terra – pelo menos as que chegavam ao prostíbulo –, as meretrizes usavam charretes para se locomover. Isso fez com que este meio de transporte ficasse estigmatizado na região: as outras mulheres não queriam usar as charretes porque a cidade associava o meio de locomoção à "vida fácil".

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