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Julieta (nome fictício) ainda empresta dinheiro para colegas que se esquecem das moedinhas em dia de prova | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Julieta (nome fictício) ainda empresta dinheiro para colegas que se esquecem das moedinhas em dia de prova| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Mais despesas

Gasto com APM também é criticado

A avó de um estudante, indignada com a cobrança por provas, procurou a reportagem dizendo que, além de pagar o xerox, precisa dar uma contribuição anual de R$ 20 para a Associação de Pais, Mestres, Professores e Funcionários (APMF) e, ainda, levar no início do ano de 200 a 500 folhas de papel de ofício. "O colégio é público ou não é? Você leva as folhas, agora cobram a impressão ou o xerox. Teve uma funcionária que chegou a me dizer que eu deveria pagar a taxa da APMF, caso contrário não sairia a matrícula", reclama.

A taxa da APMF, segundo diversos diretores consultados, é usada pelas escolas para o pagamento de pequenos serviços que não são cobertos pelo governo do estado. "O café do professor é pago com o dinheiro arrecado pela APMF. Fechaduras também quebram todos os dias, por isso precisamos trocá-las a todo instante", afirma um diretor. Pequenos serviços, como o corte da grama das escolas, no início do ano, também acabam sendo pagos com o dinheiro da APMF. "Quando começa o ano letivo, não temos dinheiro para pagar o corte da grama e os alunos não podem chegar à escola com tudo abandonado. Então, usamos o valor arrecadado da associação para isso. Também existem profissionais que fazem a troca de uma janela quebrada, por exemplo, mas que não têm nota fiscal para nos dar. Como vamos cobrar isso do governo depois?", questiona uma diretora.

Manoel Vicente, coordenador do fundo rotativo da Seed, confirma que a secretaria não cobre gastos como o de cafezinhos para professores, por isso a verba da APMF é usada para este fim, além de outras finalidades mais específicas.

A estudante Julieta (nome fictício) confere os bolsos das calças todos os dias para ver se tem moedas quando vai à escola. Nos dias de prova, ela precisa desembolsar de R$ 0,10 a R$ 0,25 para pagar a fotocópia de cada teste. "O valor varia conforme o professor. Tem uns que até deixam você fazer a prova sem pagar, desde que você traga o dinheiro no outro dia", conta. Ela frequenta o ensino fundamental de uma escola estadual e deveria, na teoria, estar livre de qualquer ônus para fazer o curso, já que se trata de uma escola pública. Na prática, porém, ela conta que, além de pagar as próprias provas, às vezes precisa emprestar dinheiro para os colegas que estão sem moedas. "Tem um aluno que nunca tem dinheiro, então ele precisa copiar a prova em uma folha para depois resolvê-la", diz.

A realidade vivida por Julieta, porém, não se restringe à escola em que ela estuda, em São José dos Pinhais. De uma lista de 25 escolas consultadas, a reportagem encontrou outras duas (uma em São José dos Pinhais e outra em Fazenda Rio Grande) onde se admite a cobrança. Em uma delas, a secretária confirmou a ação, mas o diretor negou que os professores tenham esta postura. Em outra, a diretora chegou a dizer que a cobrança é comum em diversas escolas estaduais, mas que poucos diretores têm coragem de confirmar. A cobrança indevida estaria acontecendo há alguns anos, de acordo com pais de alunos.

O valor do xerox é repassado aos estudantes, segundo um dos diretores, porque a fotocopiadora é terceirizada e o governo do estado não cobriria despesas como prestação de serviços. "Não temos como manter o xerox sem a contribuição dos alunos. Até os professores acabam desembolsando o valor. Os estudantes pagam, no máximo, R$ 1 por mês. Isso não vai causar transtornos financeiros para ninguém", afirma o diretor. São cerca de 2 mil alunos em uma das escolas: lá, eles têm prova uma vez por mês de cada uma das dez disciplinas: são 20 mil provas fotocopiadas em 30 dias, ou R$ 2 mil arrecadados mensalmente, caso cada prova custe R$ 0,10. "Fica muito caro para nós. Queríamos arcar com tudo, mas não temos condições. A contribuição dos alunos é pequena. Eles gastam mais com balas e tênis, por exemplo", diz o diretor.

Ouvidoria

A Secretaria de Estado da Edu­cação (Seed) disse que desconhecia o fato de algumas escolas es­­tarem cobrando dos alunos o xerox das avaliações, mas só poderá fazer algo de concreto se os pais e professores, por meio da ouvidoria (3340-1538), fizerem a denúncia e disserem qual é o nome da escola.

O coordenador do fundo rotativo da Seed, Manoel Vicente, afirmou que existe uma verba mensal repassada a todas as escolas e que serve para pagar as despesas do dia a dia, o que incluiu gastos com xerox, mesmo que terceirizado. "Nada impede que a escola tenha uma máquina alugada e que, na prestação de contas, apresente e justifique o gasto. Liberamos o recurso para este tipo de necessidade também", afirma. Vicente lembra ainda que o recurso vai no nome da escola e é gerido pela direção junto com a comunidade: eles devem elaborar um plano de utilização desta verba e, se o xerox não entrar como prioridade, será uma escolha da própria escola.

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Interatividade

Você já teve de dar dinheiro para o seu filho pagar o xerox da prova que iria fazer?

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