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Willian  com a família: rapaz, que desde bebê recebe atendimento especial, foi  a primeira criança com menos de sete anos a ser atendida na Apae de Foz do Iguaçu | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Willian com a família: rapaz, que desde bebê recebe atendimento especial, foi a primeira criança com menos de sete anos a ser atendida na Apae de Foz do Iguaçu| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

"Como ele seria recebido numa escola comum?"

Willian Alves da Cruz, 28 anos, tem síndrome de Down de grau leve. Desde bebê vem recebendo atendimento especial. Nos primeiros anos, sem escolas especiais, a mãe, dona Clarice, era responsável por tudo. Nas viagens a Curitiba, recebia as orientações necessárias e as aplicava com o filho em casa. Aos quatro anos, Willian foi a primeira criança com menos de sete anos, idade li­­mite na época, a ser atendida pela Associação de Pais e Mestres dos Excepcionais (Apae) de Foz do Iguaçu.

O rapaz, faixa preta em taekwondo e apaixonado por bateria, passa o dia na instituição. "Se acabarem com as Apaes, para onde vou levá-lo? Como ele seria recebido numa escola comum?", questiona a mãe, lembrando que as classes especiais mantidas na rede pública de ensino são destinadas a alunos com até 16 anos. "Os professores não estão preparados. Existe muito preconceito. Tem pais que não querem o filho estudando na mesma sala que uma criança especial. Se pudesse escolher, sem dúvidas optaria pela escola especial", diz.

Todo o acompanhamento dispensado por profissionais das várias áreas e educadores é elogiado por dona Clarice. "Hoje ele é assim graças a tudo isso que recebeu na instituição", lembra. A mãe de Willian ainda faz uma provocação: "compare uma criança que não recebeu a atenção necessária e outra que sempre passou pelos cuidados dos especialistas." Sobre a proposta de inclusão apresentada ao MEC, é taxativa: "muito melhor ensinar uma criança especial a se comportar e crescer nas suas limitações do que exigir que ela saiba ler e escrever." (FW)

Foz do Iguaçu - Um parecer da Câmara de Educação Básica encaminhado ao Conselho Nacional de Edu­cação, do Ministério da Educação (MEC), determina a inclusão de alunos com necessidade educacional especial à rede regular de ensino. No entender dos conselheiros, as escolas especiais não podem substituir a educação regular e devem apenas ter função complementar no contraturno escolar, abandonando assim o caráter formador para ser apenas uma instituição de apoio.

A iniciativa, apresentada em uma versão preliminar da atual Política Nacional de Educação In­clusiva, há dois anos, divide opiniões de professores e pais de alunos. Alguns alertam que as escolas regulares, os profissionais e os próprios colegas de classe não estariam preparados para receber os alunos. Já a corrente partidária da inclusão defende que experiências mostram significativos avanços no desenvolvimento dos alunos especiais quando convivem com outras crianças e adolescentes nas escolas comuns.

Dados da Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Fedapaes) do Pa­­raná apontam que o estado abriga mais de 380 escolas de educação especial, onde são atendidos mais de 40 mil alunos. Destes, 30 mil estão em idade escolar. Nos últimos cinco anos, as Apaes encaminharam quase 4 mil alunos para as escolas regulares e outros 1,6 mil foram inseridos no mercado de trabalho. No mesmo período, porém, cerca de 400 tiveram de retornar à formação ex­­clusivamente especial.

Representantes das Apaes que integram o movimento social contra o Parecer 13/2009 ressaltam que a mudança não pode ser arbitrária. "A proposta, do jeito que está, é assustadora. As entidades não podem ser extintas. Muitos alunos precisam do acompanhamento especializado. Apoiamos a inclusão, desde que ela seja gradativa e feita com responsabilidade. A inclusão meramente estatística não satisfaz. Querem incluir para só depois instruir", observa a diretora da Apae de Foz do Iguaçu, Vivien Diniz Souto. "Em primeiro lugar, deve ser respeitado o direito de escolha da família", diz.

No documento que baseia o movimento, o presidente nacional da Fenapaes, Eduardo Bar­bosa, diz que os que defendem a proposta de inclusão como vem sendo apresentada "ignoram que o desenvolvimento inclusivo ocorre dentro da escola e não ex­­ternamente à sua estrutura e funcionamento. Alvejar a escola especial não lhe tira a legitimidade nem os benefícios que representa para centenas de milhares de pessoas que delas se beneficiam. Extingui-la não garante o sucesso da inclusão."

A proposta que torna obrigatória a matrícula em classe comum aguarda análise do ministro Fernando Haddad. De acordo com a assessoria de imprensa do MEC, o ministro deve examinar o parecer nos próximos dias e apenas acatará a proposta, homologando o parecer, se entender que não há conflito com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/ 1996) e com o Decreto 6.571/ 2008, que dispõe sobre o financiamento e atendimento educacional especializado.

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