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Imagens e áudios revelam deficiências

Curitiba – Há quase um ano, desde a tragédia entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, os brasileiros tomaram conhecimento da confusão que é o controle do tráfego aéreo do país. Imagens do radar e áudios da comunicação entre pilotos e controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea de Controle do Tráfego Aéreo de Curitiba (Cindacta II) mostram que a deficiência do sistema persiste e continua a colocar em risco a segurança das aeronaves.

Dois áudios a que a Gazeta do Povo teve acesso mostram a falha na comunicação entre o órgão de controle e as aeronaves. Em um caso, o piloto afirma que percebeu há dias que as freqüências do Cindacta II estão com problemas. O controlador afirma que o Centro já havia tomado providência e pede que o piloto reporte a situação (para constar no relatório do dia). O piloto responde pedindo para que a mensagem seja repetida, porque ele não conseguiu escutá-la com clareza. Num outro caso, uma conversa telefônica interrompe a comunicação entre o controlador e o piloto.

Segundo o porta-voz do Cindacta II, capitão-aviador Leonardo Mangrich, o problema está sendo combatido. "O que é público e notório, é que a navegabilidade brasileira enfrenta hoje um problema de rádios piratas. O Comando da Aeronáutica em conjunto com a Anatel e a Polícia Federal já estão tomando as providências cabíveis para que essas rádios sejam desativadas defenitivamente", afirma. A interferência de sinal de telefonia celular, segundo ele, é menos freqüente e ocorre apenas com a telefonia celular rural, que possui uma freqüência diferente.

Além das interferências, os controladores do Centro de Controle de Área (ACC) de Curitiba também enfrentam problemas com os radares. Desaparecimento do sinal, duplicação da aeronave e o aparecimento súbito de aviões na tela são algumas das falhas mais comuns, de acordo com três controladores de vôo ouvidos pela reportagem. Imagens obtidas pela Gazeta do Povo mostram os três casos.

Segundo o Capitão-aviador Mangrich, em casos de falha no radar, os controladores são treinados para continuar o trabalho de controle sem colocar em risco a segurança das aeronvaes.

Curitiba – Os controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, de Curitiba (Cindacta II), foram orientados a priorizar a saída das aeronaves do pátio e, se necessário, deixá-las "em órbita" – fazer voltas sobre uma mesma região até obter autorização para pousar ou seguir viagem. A medida foi uma tentativa de esvaziar os saguões dos aeroportos e minimizar a exposição da crise aérea, segundo três controladores de vôo ouvidos pela Gazeta do Povo. O comando do Cindacta II nega que "qualquer orientação semelhante esteja em vigor".

De acordo com os controladores, a determinação começou a valer em novembro do ano passado e foi bastante utilizada até o fim de março deste ano, quando os profissionais do setor paralisaram suas operações e todos os 49 aeroportos comerciais do país fecharam para pouso e decolagem.

A prática de "orbitar", muitas vezes imperceptível para os passageiros, é necessária quando o setor em que o avião está preste a entrar encontra-se saturado. O Cindacta II, responsável pelo controle de tráfego nos três estados do Sul, metade de São Paulo e parte do Mato Grosso do Sul, é dividido em oito setores. Dois controladores são responsáveis por cada setor, que normalmente não pode ultrapassar o limite de 12 aviões. Quando uma 13.ª aeronave está próxima de entrar num setor, o controlador emite uma ordem para que ela fique "em órbita" até "abrir uma vaga".

O procedimento pode afetar a autonomia das aeronaves. Em duas gravações a que a Gazeta teve acesso, os pilotos mostram-se revoltados com a ordem. Em um caso, o piloto, que seguia num vôo para Buenos Aires e recebeu instrução para fazer órbita em cima de Florianópolis (SC), se recusa a atender ao pedido. Num outro võo, o piloto reclama da falta de segurança de realizar a órbita pelo tempo além do previsto (veja ao lado as duas transcrições).

De acordo com o chefe da comunicação do Cindacta II, o capitão-aviador Leonardo Mangrich, há situações em que fazer órbita é um procedimento normal, que visa a melhorar o fluxo das aeronaves. Questionado se isso tem ocorrido com frequência, Mangrich afirmou que "uma estatística disso aí depende do setor, do horário e do dia". Segundo ele, porém, em nenhum momento os controladores receberam qualquer tipo de ordem para priorizar a saída das aeronaves do solo e deixá-las "em órbita."

Desde o acidente da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006, os controladores de vôo passaram a se valer de uma posição legalista, seguindo à risca as leis de navegação aérea. Uma eventual falha pode levá-los ao banco dos réus – no caso do acidente com o Boeing da Gol, um controlador está sendo denunciado por crime doloso (com intenção). Ao cumprir o que determina a lei, as esperas nos aeroportos tornaram-se longas e constantes.

Com a ordem para colocar os aviões no ar, a idéia era descongestionar os aeroportos, sem no entanto resolver o problema, diz um controlador. "Transferiram o problema de lugar", afirma. De acordo com os três funcionários do Centro de Controle ouvidos pela reportagem, desde o fim de março a prática tornou-se pouco utilizada, porque "não houve mais necessidade de usá-la". Em nenhum momento, porém, eles receberam a notícia de que a medida foi revogada. "Quando precisar, vamos ter que usar de novo", diz outro controlador.

Um piloto da GOL que também prefere não ser identificado diz que se tornou comum realizar órbita, especialmente no momento anterior ao pouso nos dois principais aeroportos de São Paulo, Congonhas e Guarulhos. "Já aconteceu muito de ter que fazer órbita durante a viagem, na troca de setor, principalmente naquela época dos problemas com os controladores, antes do acidente da TAM. Agora é mais na chegada e às vezes na saída", diz ele.

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