Sérgio Vaz, idealizador da Cooperifa: declamação de versos vira movimento na periferia de São Paulo| Foto: Fabio Braga/ Folhapress

O ativista cultural paulistano Sérgio Vaz, 48 anos, chegou a ser apontado como uma das cem personalidades mais influentes do Brasil. Um prodígio, em se tratando de um poeta, que atua em áreas de São Paulo já apontadas como das mais violentas do país. A Zona Sul é seu limite. Nesse espaço até então pouco visitado pelas artes, Vaz fundou, com amigos, a Cooperifa, uma cooperativa de poetas e prosadores cuja paixão não é apenas escrever e publicar poesias, mas dizê-las em público, em noites boêmias.

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A ágora dos cooperados é o Bar do Batidão, na Chácara de Santana, teatro dos sem-teatro, uma Academia de Letras na qual se pode beber e falar alto. À revelia de provocar calafrios nos desavisados, o local consta dos panfletos de serviços culturais da capital paulistana, atrai seguidores e já conta com cópias aqui e ali. Estima-se que cerca de 60 outros "Batidões" tenham se formado na cidade, com o mesmo propósito de servir de palco para os poetas, sem distinção.

E lá se vão dez anos desde que tudo começou, firmando Vaz e seus mais ou menos 30 parceiros de militância como agentes de leitura por excelência dos arrabaldes. As ações da Cooperifa, inclusive, já se desdobram em mostras e semanas que outra coisa não fazem senão provar a força de um movimento que ronda os botecos e chega a reunir 500 poetas e simpatizantes numa única noite.

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Sérgio Vaz chegou à literatura pelas mãos do pai e a ela se entregou em definitivo ainda na adolescência. Aos 13 anos se tornou leitor. Difícil imaginar, mas sofreu perseguições por causa de seu gosto pelas letras. Inclusive quando servia o Exército e foi repreendido por um superior que o flagrou ouvindo "Pra não dizer que não falei das flores", na voz da Simone. Já era tarde. Embora pesasse para um sujeito do subúrbio se dedicar a assuntos tão sensíveis, tornou-se letrista e no final da década de 1980 começou a publicar. São ao todo sete livros, um bom patrimônio, mas nada que o impeça de se autodenominar "um vira-lata" da literatura.

O Brasil pode ser um país de leitores?

Pode. Mas para isso é preciso introduzir a literatura no cotidiano: nas escolas, universidades, redefinir as bibliotecas, inserir livros na cesta básica. E fazer campanhas, entre outras políticas públicas.

Como a literatura o atraiu?

Aprendi a gostar de ler com meu pai, que é um leitor voraz. Acho que o fato de eu ser tímido também me ajuda a ler de forma assídua.

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Por que você se intitula um "vira-lata" da literatura?

Porque sou das ruas. Porque minha literatura vem das ruas, das calçadas, dos becos e vielas que só um vira-lata conhece.

Semana de Arte Moderna da Periferia, Mostra Cultural da Cooperifa... Fale sobre a agitação promovida por Sérgio Vaz...

A Semana [de Arte Moderna da Periferia] é um movimento cultural organizado por vários coletivos. O objetivo é "dessacralizar" algo tão sagrado quanto a cultura. E a Mostra Cultural é a continuação dessa história. Promovemos uma semana inteira de literatura, música, dança, teatro e cinema. Tudo de graça para os moradores da comunidade. Nosso trabalho basicamente é formação de público.

Como surgiu a ideia de propagar a leitura em um boteco, reabilitando os velhos saraus?

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O bar e a igreja são os únicos espaços públicos da periferia. E nós temos mais vocação para o bar... A pessoa chega, dá o nome e recita. É aberto a todas as pessoas. Não tem distinção.

Outros grupos copiaram vocês? Por ser uma ideia simples, dentro de um bar, outras comunidades multiplicaram a ideia. O que é muito bom.

Essa atividade pode ser uma forma de encarar a leitura como uma festa?

Sim. É uma forma de celebrar as palavras. A literatura traz um estigma de coisa chata. Mas nós queremos acabar com esse rótulo. E promover literatura na periferia é uma atitude de cidadania. Quem lê enxerga melhor.

O que mais lhe frustra quando o assunto é leitura?

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A falta de incentivo do Ministério da Cultura.