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Entre os visitantes mais frequentes estão os socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Entre os visitantes mais frequentes estão os socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Grimpeiro

Ave-símbolo de Curitiba utiliza pinheiros do Passeio como moradia

Desde 1820, quando um naturalista austríaco desembarcou por aqui para fazer a primeira grande pesquisa sobre aves nativas da região de Curitiba, 387 espécies foram catalogadas e registradas. Algumas quase sumiram, como a gralha-azul, e outras proliferaram desordenadamente, entre elas o pombo-europeu e o pardal. Atualmente, 262 espécies de aves podem ser avistadas em Curitiba, cidade que se orgulha de ter 18% do seu território coberto por florestas.

As informações estão no livro Aves de Curitiba (2009), obra de 18 pesquisadores, entre eles o ornitólogo curitibano Fernando Straube. O livro influenciou o Decreto 13.544, de junho de 2010, que estabeleceu o grimpeiro como ave-símbolo de Curitiba. É que o Leptasthenura setaria é uma espécie totalmente associada ao pinheiro-do-paraná – os ramos secos da árvore, onde constrói o seu ninho, também são conhecidos como grimpas.

"Poucos são os pássaros que têm uma ligação exclusiva com um só tipo de árvore, ainda mais com exemplares isolados que encontramos no Centro da cidade, por exemplo", diz Straube. É novamente, um sinal vivo da importância do Passeio Público.

O ornitólogo é também um birdwatcher – observador de aves. Com a simples utilização de um binóculo, a prática é muito comum na Europa e nos Estados Unidos – os escritores Jonathan Franzen e Jonathan Safran Foer são alguns praticantes notórios – e começa a crescer no Brasil. Solitária e paciente, a observação de pássaros é utilizada também como terapia para combater a ansiedade e o transtorno bipolar. "Porque é o puro prazer da contemplação", define Straube. (CC)

200 aves

vivem em cativeiro no Passeio Público. Há exemplares de espécies em extinção, como a arara-azul, e comuns, como o pavão.

Serviço:

Veja fotos e mais informações sobre todas as espécies de pássaros encontradas em Curitiba no site http://www.wikiaves.com.br.

Pense em uma ponte invisível que ligue a margem oeste da cidade, onde está a área preservada do Rio Passaúna, e o leste, onde ficam o zoológico e as regiões verdes de Pinhais e Piraquara, no pé da Serra do Mar. É essa a função menos conhecida do Passeio Público. Além de todas as suas peculiaridades, o primeiro parque da capital permite a interação entre lugares tão distantes por meio dos pássaros, que utilizam a mancha verde no Centro de Curitiba como referência e ponto de parada durante esse deslocamento constante.

As visitas mais frequentes são as das garças-brancas – as adultas medem cerca de 90 centímetros – e as dos socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas.

"Essas aves vêm ao Passeio em seu período reprodutivo, durante a primavera e o verão, e fazem ninhos nas árvores mais altas", explica Tereza Cristina, bióloga e chefe da Divisão de Zoológicos da prefeitura de Curitiba. São movimentos sazonais, portanto, e não migratórios.

A escolha pelo parque central é estratégica. Ali, além de abrigo, as aves têm os lagos à disposição – o que significa água à vontade e alimentos de vez em quando, já que a oxigenação não é das melhores.

Além de aumentar naturalmente a diversidade de espécies no Passeio, a presença das visitas é um chamariz extra para quem mora nos edifícios ao redor. Tereza já perdeu a conta de quantas vezes viu moradores fotografando os animais e seus filhotes. "Enriquece todo o entorno, é um fenômeno interessante", diz.

Mas a ponte aérea entre os chamados cinturões verdes de Curitiba vem diminuindo ano a ano. Apesar de nunca ser quantificado, esse movimento sazonal de aves pode estar ameaçado. "Notamos uma diminuição de 2012 em relação a 2011", conta Tereza. Os motivos podem ser diversos, incluindo a qualidade do ambiente que encontram – a da água principalmente.

Fábrica

A bióloga Betina Bruel – filha do premiado iluminador Beto Bruel, um dos responsáveis pelo estopim do movimento de reocupação do Passeio Público – diz que "gerações e gerações" dessas aves fazem esse tipo de movimento. Garças, especificamente, são muito fiéis aos seus locais de reprodução. "O ambiente proporciona tudo o que elas precisam", diz Betina, funcionária da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Edu­­cação Am­­bien­­tal (SPVS).

As grandes árvores do Passeio Público também proporcionam o que a bióloga chama de "serviços ambientais". Como são áreas conservadas, auxiliam na manutenção da umidade do ar, atuam na regulação climática – é sempre mais fresco debaixo de uma árvore – e retêm o gás carbônico proveniente dos automóveis, função fundamental para um parque que está no centro da capital mais motorizada do país. Por isso, o Passeio Público é "como se fosse uma fábrica de bons serviços."

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