• Carregando...
Neide, o marido Genésio e o filho Pedro Henrique: da casa de três peças para o sobrado de três quartos | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Neide, o marido Genésio e o filho Pedro Henrique: da casa de três peças para o sobrado de três quartos| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
  • Compare o crescimento da classe média curitibana com o crescimento no resto do país

Aparelho de DVD, empregada doméstica, carro na garagem. Em 2008, a maioria da população de Curitiba pôde contar com mordomias como essas, classificadas pelo professor de economia da UFPR, Luciano Nakabashi, como típicas da classe média brasileira. Se em 2000, 17% dos moradores de Curitiba ocupavam as classes socioeconômicas D e E, em 2008 este porcentual caiu para 8%. A consequência foi um aumento expressivo da classe média, que antes representava 38% e agora ultrapassa 50% da população. Os números são parecidos quando se leva em conta os municípios vizinhos. A pesquisa demonstra que 55% da população da Grande Curitiba faz parte da classe C e apenas 9% das classes D/E.

A ascensão social percebida reflete uma tendência nacional, já que, de acordo com o instituto de pesquisas Ipsos Public Affairs, só entre 2006 e 2007 a classe C brasileira cresceu 28%, sobretudo graças à escalada das classes mais baixas. Segundo Judas Tadeu Grassi Mendes, Ph.D. em Economia e professor-diretor do Estação Business School, este quadro favorável tem uma explicação que remonta ao ano de 1994, quando o controle da inflação teve início. "Hoje, o Brasil tem inflação de país desenvolvido, abaixo de 5% ao ano. É muito diferente do fim dos anos 1980, quando ela chegou a 84% ao mês", lembra. Em sua opinião, o grande programa de melhoria na distribuição de renda no país foi o controle da inflação. "Não que a população tenha enriquecido, mas deixou de perder, o que elevou seu padrão de vida."

Mas o que define a divisão de classes socioeconômicas? Lindomar Wessler Oneti, professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que o critério mais utilizado hoje no Brasil é o da renda familiar, mas que não é o único. "Fatores como local de residência, nível de escolaridade e posse de bens de consumo também podem embasar a estratificação das classes". Neste caso, a ascensão da população à classe C pode ser explicada pelo fenômeno da facilidade de crédito. "Com a expansão das políticas de crédito entre 2007 e 2008, o povo brasileiro tinha a ilusão de estar comprando uma geladeira em prestações pequenas, mas enquanto levava uma, pagava três", ilustra o professor Judas Tadeu Grassi Mendes. Esta falsa sensação de que os gastos cabiam no orçamento mensal foi fundamental para aumentar o consumo da população, catapultando as pessoas de baixa renda à classe C não tanto pelo critério de renda salarial, mas pelo de aquisição de bens.

Sanduíches que engordaram o bolso

Há oito anos, a empresária Neide Santos, 44 anos, nem poderia imaginar que um dia faria sua tão sonhada cirurgia plástica. O salário de caminhoneiro do marido Genésio Waterkemper, 50 anos, somado aos seus ganhos esporádicos não chegava a R$ 1 mil. "A gente vivia em quatro pessoas – eu, meu marido e os dois filhos – em uma casa de três peças sem forro nem reboco, só gastava com o necessário e ainda pagava as prestações do terreno para a Cohab", lembra Neide. Em 2000, eles decidiram abrir uma lanchonete na garagem de casa, na Vila Angélica, Pinheirinho. O negócio prosperou e em três anos construíram uma lanchonete maior, além do sobrado de três quartos onde moram hoje. "Nossa vida mudou radicalmente de lá pra cá. Quando eu poderia imaginar ter internet, uma casa desse tamanho, fazer uma cirurgia plástica e ainda poder ficar em casa sem trabalhar?", afirma a dona de casa Neide. Atualmente a lanchonete deles está alugada e é um complemento de renda para a família.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]