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Vivem em famílias pequenas, com uma média de 2,5 filhos. A Educação Básica é obtida em escolas públicas e os poucos que chegam ao ensino superior distribuem-se entre escola pública e privada, com ligeira vantagem para esta última. Praticamente todos creem em Deus, têm o catolicismo como religião predominante, embora os praticantes sejam os protestantes e evangélicos. São esses os principais elementos que formam o perfil socioeconômico típico do morador da Grande Curitiba, em fins de 2008. É a consolidação do intenso processo de urbanização da RMC que, ao longo das últimas quatro décadas, esteve entre os mais altos do país, apoiado principalmente na imigração rural e urbana.

O que esses dados revelam? A grande surpresa é que os elementos historicamente diferenciadores entre as capitais e os municípios limítrofes – renda, escolaridade e padrões de consumo –, tendem a desaparecer, por força da penetração de padrões estandartizados de consumo que atingem todas as classes sociais. Também, a própria conurbação, sempre analisada pelos seus aspectos negativos, permite que uma série de bens e serviços se espalhe pelas cidades, diminuindo a diferença entre elas.

O crescimento populacional das pequenas cidades limítrofes a Curitiba da década de 1960 fez surgir municípios de porte médio, com populações que chegam a 150 mil moradores. Deixam de ser cidades-dormitórios e incorporam bens e serviços mais sofisticados como redes de lojas de bens de consumos, serviços financeiros, redes de supermercados, distribuidoras de equipamentos eletrônicos, serviços como escolas de línguas, clubes, hospitais, escolas de ensino superior, restaurantes, shoppings centers. O efeito é a diminuição das diferenças entre Curitiba e os municípios vizinhos, gerando a ideia de uma cidade-metrópole, cujos limites da malha urbana ultrapassam em muito os seus limites legais.

Em 1990, a RMC possuía o menor porcentual de pobres, mas ao mesmo tempo era a que apresentava maior segregação sócio-geográfica entre ricos (na capital) e pobres (nos demais municípios). Hoje, pelos efeitos do crescimento dos municípios limítrofes, aumento do preço do solo urbano, instalação de condomínios residenciais de alta renda, a busca, por alguns grupos sociais mais abastados, da vida em contato com a natureza, essa segmentação tende a ser matizada.

Vive-se os efeitos da metropolização. Há uma real perda da qualidade ambiental, aumento dos tempos de deslocamentos, sensação de que todos estão reféns da insegurança. Em contrapartida, crescem as possibilidades para o morador comum: democratização crescente no acesso aos bens e serviços, notadamente os relativos à educação e à infraestrutura urbana, maior leque de oferta de trabalho e renda e possibilidades de organização política apoiada em interesses coletivos. Em outras palavras, vislumbra-se a construção de uma cidadania moderna, apoiada em princípios de liberdade e equidade, geradora de uma mentalidade mais cosmopolita, menos afeita a provincianismos.

Maria Tarcisa Silva Bega, socióloga, doutora em Sociologia e professora da UFPR.

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