Moradores de Pinhão, no Centro-Sul do Paraná, encontraram na reciclagem uma oportunidade para aumentar a renda familiar| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

União

Melhoria vinda do lixo e do cooperativismo

Sem serviço, com pouca renda e esperança reduzida. Há dois anos, essa era a realidade da maioria das mulheres que hoje participam da Associação de Materiais Recicláveis da cidade de Pinhão, no Centro-Sul do Paraná. No cooperativismo elas encontraram uma maneira de prosperar e, de quebra, ajudar a cidade na reciclagem, uma atividade até então pouco conhecida e cheia de preconceito.

Atualmente, 12 pessoas participam da associação, que recebe apoio da prefeitura. O salário é por produção e os catadores conseguem tirar de R$ 500 a R$ 700 por mês, quantia que faz uma grande diferença.

A melhoria na vida dessas mulheres é perceptível quando se conversa com elas. "Eu era boia-fria. Quando terminava a safra, trabalhava em casa de família e pedindo a Deus para ter serviço", lembra a catadora Lindarci Camargo, que é responsável pelas despesas da sua casa. "A gente fica confiante." A presidente da associação, Neiva Ribeiro, também assumiu os gastos. "Pago água, luz, sustento a casa", diz ela, que planeja ver a filha de 17 anos na faculdade. (BMW)

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Várias são as faces da pobreza e suas explicações. Para a dona de casa Rosa de Matos Oliveira, da cidade de Pinhão, no Centro-Sul do Paraná, que depende do Bolsa Família para se manter, a causa está na falta de emprego. No Vale do Ribeira, o encanador Louridi Cândido Brás reclama principalmente do isolamento de Doutor Ulysses. Já no Noroeste do estado, aos 21 anos, Júnior César, da pequena Santa Mônica, largou os estudos e perdeu as esperanças. "Pra que estudar, se para subir no caminhão de boia-fria isso não faz diferença ne­­nhuma?", questiona.

Os relatos acima e tantos outros ouvidos pela reportagem em diversas regiões paranaenses mostram o desafio da redução da pobreza, que se dissemina e atinge 18,4% dos domicílios do estado, de acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­­tística (IBGE).

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Pobreza essa que parece caminhar em ciclos. Os moradores reclamam da falta de oportunidades e ficam expostos a situações de vulneabilidade. Já os gestores muitas vezes dizem não ter recursos suficientes para a melhoria de vida da população e que faltam em­­pregos. Sem infraestrutura nem mercado consumidor, as indústrias acabam se instalando em outras áreas.

Para quebrar esses ciclos, o Estado precisará investir em incentivos a indústrias, educação, saúde e infraestrutura e em um plano de desenvolvimento para as áreas mais carentes. O diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômi­­cas, Francisco Menezes, acredita em uma capacidade de transformação a médio e longo prazos no país. Menezes aponta a necessidade de condições básicas para que as pessoas em situação de pobreza extrema possam se emancipar através do próprio trabalho, especialmente os mais jovens. "Para o público mais velho e que viveu uma situação de muita vulnerabilidade, essas condições são mais difíceis."

Plano fundamental

Um plano para o desenvolvimento das regiões também é apontado como fundamental. De acordo com o coordenador do Obser­­vatório dos Indicadores de Sus­­tentabilidade (Orbis), Alby Rocha, é preciso uma visão regionalizada, com o apoio do governo, para que se criem formas de geração de renda nesses municípios. O presidente da Associação dos Mu­­nicípios do Paraná (AMP) e prefeito de Piraquara, Gabriel Samaha, vai além e sugere que seja repensado um modelo de desenvolvimento para o estado. "O estado é o grande fomentador. Tem que ter um programa estadual capaz de pensar as microrregiões", afirma.

O Paraná é um estado rico, mas extremamente desigual, avalia o diretor presidente do Ins­­tituto Paranaense de Desen­­volvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Lourenço. Segundo ele, é preciso investir em infraestrutura econômica e educação e fortalecer o agronegócio. Lourenço afirma que o estado tem incentivado que as empresas se instalem nas regiões mais pobres; negociado com as concessionárias de pedágio revisão das tarifas e uma possível retomada de obras; e articulado com faculdades e universidades estaduais a produção de alternativas de desenvolvimento. "O quadro tem que ser revertido olhando o Paraná como um todo", afirma. É o que esperam Rosa, Louridi e milhares de paranaenses.

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Vida e Cidadania | 3:20

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