• Carregando...
Geraldino e Alzira vivem em uma pequena casa de madeira sem banheiro. Eles têm de usar um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Geraldino e Alzira vivem em uma pequena casa de madeira sem banheiro. Eles têm de usar um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Problema se agrava em cidades menores

Os piores índices de coleta e tratamento de esgoto são verificados nos pequenos municípios brasileiros e nas áreas rurais. Também a prioridade do saneamento ainda está voltada aos grandes centros urbanos, analisa o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. "Serviços de saneamento básico estão muito atrasados no Brasil", afirma.

A consequência do atraso pode ser vista na saúde pública. Um estudo feito a pedido do instituto mostrou que as diarreias respondem por mais de 50% das doenças relacionadas a saneamento básico inadequado. Para Carlos, os prefeitos dos pequenos municípios devem se conscientizar sobre a importância da ligação à rede. Ele reconhece, porém, a dificuldade na captação desses recursos. "Pelas normas do governo federal, para cidades menores de 50 mil habitantes, os recursos vêm da Funda­­ção Nacional de Saúde e não do Ministério das Cidades", afirma. "Há uma concorrência brutal para os municípios pequenos", completa, levando em conta que a maioria dos municípios brasileiros tem menos de 50 mil habitantes.

No Paraná, em dezembro do ano passado, projetos da Com­­panhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) garantiram R$ 260 milhões do Programa de Acelera­­ção do Crescimento (PAC) para ampliação e implantação de redes de água e esgoto em 54 municípios paranaenses com menos de 50 mil moradores. Segundo o presidente da Sanepar, Fernando Ghignone, uma das prioridades é o investimento nas cidades menores.

Atualmente, 62% da população paranaense é atendida pela Sanepar com coleta e tratamento de esgoto. A meta é até o ano de 2014 aumentar o índice para 72%, ou seja, 1 milhão a mais de pessoas seriam atendidas. "A cada R$ 1 aplicado em coleta e tratamento, economizamos R$ 3 na saúde", explica.

Com relação à situação de Nova Laranjeiras, o prefeito da cidade, Eu­­genio Milton Bitten­­court, afirma que o índice de esgoto coletado e tratado na área urbana passa de 90%. Se­­gundo ele, os 10% restantes são registrados na periferia, áreas de ocupação irregular e comunidades indígenas. Para re­sol­ver a situação, o município tem um projeto de regularização fundiária e construção de casas, que aguarda a aprovação da Caixa Econômica.

No fundo do terreno onde mora a família de Geraldino Pedroso de Quadros, em Nova Laranjeiras, no Centro-Sul do Paraná, está uma situação que muitos gostariam de esconder. Atrás da pequena casa construída com pedaços de madeira fica a "patente", um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra. "Pode mostrar, para que a situação melhore", dizem Geraldino e a esposa Alzira, fazendo questão de serem fotografados à frente da instalação para expor o problema, na esperança de que as autoridades os ajudem.

Ter um banheiro ligado à rede de esgoto é uma realidade distante para milhares de paranaenses. Os números de 2010 do IBGE mostram que em 12 mil domicílios paranaenses não há banheiro ou sanitário. Entre os que possuem, 34,8% não têm coleta de esgoto ou fossa séptica, o que equivale a 1,1 milhão de residências.

Quando se analisa a situação nas cidades, observa-se uma realidade ainda mais precária: 334 dos 399 municípios paranaenses apresentam porcentuais superiores à média estadual de domicílios sem esgotamento sanitário. Em São Pedro do Paraná, Boa Esperança, Jundiaí do Sul, Marumbi, Inajá e Tamboara, por exemplo, 99% dos domicílios com banheiros não têm esgotamento sanitário.

A realidade faz com que a família de Quadros e tantas outras vivam uma situação de improviso. A "patente" no fundo do terreno foi construída com tábuas doadas e um buraco foi cavado na terra. Quando fica cheio, o buraco é tampado e outro similar acaba sendo construído em um diferente local. "Com o dinheiro que a gente ganha hoje não dá para construir [um banheiro]. Ganhamos dinheiro só para comer", diz a dona de casa Alzira Carmelina de Quadros, de 54 anos. O marido trabalha na co­­lheita de tomate e a filha, de 20 anos, em uma lanchonete. Diante das dificuldades, tomam banho de bacia ou usam o banheiro da casa do vizinho quando ele viaja.

Na falta de ligações à rede, os dejetos acabam sendo despejados de maneira irregular. No bairro Beira-Rio, em Nova Laranjeiras, acontece a situação de a fossa séptica, precária, encher demais e os resíduos serem lançados diretamente no Rio das Cobras, conta o agricultor aposentado Gerondir Fernandes de Lima, de 69 anos. Na casa dele, o problema causa entupimento e mau cheiro no banheiro. "Está caindo no rio porque não tem outra condição", diz.

A baixa condição faz ainda com que moradores não consigam ligar suas casas à rede mesmo quando ela é disponibilizada. Na fa­­tura da conta de água do boia-fria Airton Mariano de Paula, por exemplo, é cobrada todo mês uma taxa de cerca de R$ 3 da rede de esgoto, serviço do qual ele ainda não usufrui. "Eu tenho que comprar encanamento. Dependendo o tipo de cano, ele sai por R$ 100", diz. Airton recebe de R$ 150 a R$ 200 por mês, mas tem esperança de fazer a ligação. "Se puxar na rede de esgoto saem até os mosquitos. A fossa dá cheiro e é ruim que ela já estourou. Quando colocar na rede, cubro a fossa", planeja.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]