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O professor de genética médica da Universidade de São Paulo Thomaz Gollop defende que o governo federal adote a ultrassonografia do sistema nervoso central no processo de triagem inicial de bebês com suspeita de microcefalia associada ao vírus zika. As informações são da Agência Brasil.

Gollop explicou que o equipamento pode ser encontrado na maior parte das unidades de saúde que atendem gestantes no país, além de se tratar de um exame relativamente barato.

A epidemia de zika e sua possível ligação com quadros de microcefalia fizeram com que as notificações da malformação se tornassem obrigatórias no país. Desde outubro do ano passado, todos os casos considerados suspeitos –crianças com perímetro cefálico menor que 32 centímetros– devem ser comunicados ao governo federal. A partir daí, o bebê é submetido, entre outros procedimentos, a uma tomografia, na tentativa de identificar indicativos de infecção congênita.

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“A tomografia exige disponibilidade de profissionais treinados e um equipamento mais sofisticado. Se a gente pensar na população pobre, sobretudo no Nordeste, que tem sido a região mais afetada, o acesso à tomografia seguramente é mais complicado que o acesso ao ultrassom”, disse Gollop. “As lesões cerebrais provocadas pelo zika são graves e fáceis de serem lidas por ultrassom. Teríamos um número menor de casos suspeitos e um número mais apurado de casos prováveis de terem sido causados pelo vírus”."

Para aperfeiçoar a triagem de recém-nascidos com suspeita de microcefalia, o geneticista propõe mudanças no protocolo adotado atualmente pelo Ministério da Saúde. Ele defende que, após a aferição do perímetro cefálico e, havendo indicação, o bebê passe por um ultrassom do sistema nervoso central. Se o resultado for de grande comprometimento neurológico, a criança já poderia ser encaminhada a um neurologista, sem a necessidade de passar pela tomografia.

“Estamos colocando na mesma cuba um número muito grande de recém-nascidos que nada têm a ver com o quadro de malformação associada ao zika. Precisamos melhorar a triagem de casos suspeitos de estarem relacionados à infecção e dar um olhar mais aguçado para o problema. A ideia, com o ultrassom, é introduzir um elemento que ajuda muito no diagnóstico de crianças com perímetro cefálico abaixo de 32 cm. Qualquer técnico bom e que esteja habituado a examinar recém-nascidos consegue fazer isso”, explica."

Protocolo atual

O professor de genética médica criticou ainda a decisão do governo brasileiro de alterar a medida padrão para notificação de microcefalia no país, que deixará de ser perímetro cefálico menor que 32 cm e passará a ser perímetro cefálico de 31,9 cm para meninos e de 31,5 cm para meninas. A mudança, segundo a assessoria do Ministério da Saúde, deve ser anunciada ainda esta semana e tem como base mudanças feitas pela própria Organização Mundial da Saúde.

“A fita métrica utilizada no Brasil é dividida em centímetros, não em milímetros. Além disso, a mensuração do perímetro cefálico não tem sensibilidade suficiente para ser medida em milímetros. Se eu ensinar um estudante de medicina a medir o perímetro cefálico de um recém-nascido, ele vai conseguir uma medida. Se eu pedir a outro, ele vai alcançar outra medida para a mesma criança”, disse Gollop.

O Ministério da Saúde informou que, desde dezembro, já utiliza um tipo de ultrassom no processo de triagem de casos suspeitos de microcefalia possivelmente associada ao zika. Atualmente, o protocolo adotado pelo governo recomenda, inicialmente, a aferição do perímetro cefálico. Se o resultado for menor que 32 cm, a medida é tirada novamente entre 24 e 48 horas depois, já que a cabeça do bebê se comprime ao passar pelo canal vaginal.

Caso a segunda medição do perímetro encefálico continue inferior ao estabelecido, a criança é submetida a uma ultrassonografia transfontanela – exame específico para verificar a moleira. Se ela estiver fechada, o passo seguinte é encaminhar a criança para uma tomografia para confirmar o quadro de microcefalia.

O último boletim epidemiológico divulgado pela pasta aponta 641 casos confirmados de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso sugestivas de infecção congênita desde outubro. Os dados mostram que 1.046 notificações foram descartadas por apresentarem exames normais ou por indicarem microcefalia e/ou alterações no sistema nervoso central por causas não infecciosas. A pasta segue investigando 4.222 casos suspeitos em todo o país.

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